Exílio

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Fazia seis horas que havíamos voltado e — como era de se esperar — os rapazes quase pularam em nós no momento em que aparecemos no centro da sala de estar. Eu ainda não tinha assimilado direito o fenômeno causado pela profecia quando Sam encurtou em dois passos o espaço entre a mesa e veio me abraçar, seguido por Dean, que fechou os olhos por instantes em uma expressão aliviada logo que nos viu. Mesmo entorpecida pela tragédia, eu me sentia um pouco melhor agora.

Assim que tomei um banho e almocei ouvindo Maison contar tudo que havia se sucedido após a explosão da mansão de Erik — como o fato deles fugirem da polícia e quase serem pegos quando levaram Melanie de volta para seus pais —, seu tom de voz era casual, porém eu conseguia perceber os olhos claros e atentos enquanto a mesma andava em torno da cozinha. Era óbvio que Maison não era burra e sabia perfeitamente que eu tinha usado meus poderes naquela situação, e se juntasse dois mais dois, saberia que havia algo errado comigo, pois ela também estava lá na noite em que eu torturei uma lobisomem com crueldade e capricho. Mas a questão que mais me atormentava no momento era: Maison tinha as mesmas suspeitas que eu? Sobre o que eu estava me tornando ou sobre o monstro interior que finalmente mostrava suas garras para fora?

Eu tinha medo da resposta.

— Me explica de novo o que quer dizer esse número. — pediu Dean, estendendo as mãos por cima da superfície cheia de papeis que Sam tentava organizar.

— Seiscentos e sessenta e seis é o número da besta. — repetiu o moreno, reescrevendo os rabiscos mais uma vez, como se isso pudesse clarear mais seu ponto de vista — Ele é usado como o anúncio de que o "Diabo" está perto. — enfatizou fazendo aspas com os dedos.

— E por que seiscentas e sessenta pessoas morreram? — questionou o loiro novamente e o irmão deu um suspiro baixo.

— A graça tem estágios de cor, mas apenas três são importantes. — começou Castiel — A partir do segundo, prelúdios de apocalipse são enviados de diversas maneiras.

— Cores? — perguntou Bobby, franzindo a testa.

— Começa no branco e então vai ficando cinza, cinza-escuro e por fim completamente negro. Por isso os olhos dos demônios são pretos e os dos anjos têm um brilho azul claro.

— Quando você a transferiu eu pude vê-la, era cinza como um céu nublado. — murmurei encarando o teto, lembrando de quando Castiel teve a trágica ideia de transferir a graça para ele e tentar se explodir no purgatório com um feitiço baseado em um evento lunar. Nas duas vezes em que eu a vi deixar meu corpo, a mesma era cinza, como um rabisco de grafite no papel.

— Então só falta um estágio. — elucidou a loira, comprimindo os lábios e olhando de soslaio para os irmãos.

— Eu vou dormir. — anunciei me sentindo exausta demais para continuar aquela conversa.

— Nós já viramos o jogo no último segundo do segundo tempo. — apontou Bobby, me fazendo virar para encará-lo — Então pode tirar essa cara de quem já desistiu, ou então eu vou te dar um tiro.

— Obrigada, Bobby. — agradeci com um sorriso fraco.

— Nós estávamos pensando em comemorar o Ano Novo em algum lugar legal, como fizemos no Natal. — disparou Dean, mais uma vez interrompendo meu trajeto.

— A ideia foi da Maison. — Sam deu de ombros.

— O que vocês decidirem para mim está legal. — assenti uma vez e terminei de subir os degraus, chegando até meu quarto e automaticamente procurando o acendedor que meus dedos já haviam decorado o lugar exato onde ficava. Admito que não fiquei surpresa ao constatar que Castiel já estava dentro do cômodo quando ele se iluminou.

Supernatural: RéquiemOnde histórias criam vida. Descubra agora