[Bônus] Tudo que precisamos é de um pouco de paciência

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Três dias antes.

As coisas estavam cada vez mais difíceis. Seus poderes diminuíam mais a cada dia e o anjo podia sentir que a hora se aproximava. E para completar, seus irmãos estavam o pressionando conforme Raphael assolava os poucos rebeldes que não se curvavam diante da sua posse de poder — o culpavam na verdade —, pois Castiel passava mais tempo na terra do que no céu, com os seus, e se importava mais com os humanos do que com a guerra sangrenta que estava acontecendo. Mas não era bem assim, o anjo sabia perfeitamente conciliar as duas coisas, embora a marca do guardião o prendesse constantemente à terra. E, na verdade, era ali que ele se sentia em casa.

Algumas horas após Esther finalmente conseguir dormir, Castiel materializou-se ao seu lado na cama. Ele não fazia ideia, ou muito menos sabia do contato direto que a garota estava tendo com Lúcifer, mas podia sentir que havia algo muito errado com ela, algo em proporções catastróficas.

Ele contornou o cômodo e parou logo a sua frente, inclinando-se levemente para tocar seu rosto com os dedos, e percebendo os longos cílios molhados e as marcas de lágrimas pelas bochechas dela, sentiu seu coração se apertar. Em poucas semanas, os sentimentos que possuía em relação à Esther haviam mudado relativamente, pareciam mais intensos e conectados. Em alguns momentos ele podia sentir claramente o que ela sentia, e naqueles instantes o anjo era bombardeado com uma onda gigantesca de emoções confusas, todas se misturando e causando por fim um nó na garganta, que sua mente indicava ser algo que remetia ao choro, se pudesse fazê-lo. Ele queria fazer aquela dor parar, mas não sabia como.

Quando olhava para Esther, via aquela menininha doce que escapulia do quarto de madrugada e que ele tanto sentia necessidade de proteger. E o fato dela sentir-se daquela forma o deixava transtornado, inútil e com uma terrível e estranha pontada de culpa.

— Cass... — murmurou a garota em seus mais profundos sonhos. Ele franziu o cenho por um momento, surpreso, e então um sorriso se formou em seus lábios. Não fazia ideia do porquê, mas sentiu uma alegria enorme ao saber que era com ele que ela sonhava agora. Tinha vontade até mesmo de entrar em sua mente para ver melhor, mas o bom senso vencia a curiosidade.

Castiel. Ouviu seu nome novamente, mas agora era numa oração e imediatamente reconheceu o timbre de voz de Elisabeth. Deu um suspiro, fitando Esther por mais alguns segundos e então se desmaterializou dali.

Desde que a condessa voltara, ele sentia-se profundamente abalado. Toda vez que olhava em seu rosto, era como se todo o remorso e a dor voltassem de repente, o deixando entorpecido. Um lembrete constante do que havia feito. Mas o anjo não deveria sentir-se dessa forma, ele havia cumprido sua missão quando matara Elisabeth, assim evitando que ela causasse uma catástrofe no mundo humano, liberando Lúcifer do inferno. Ele havia feito o correto, certo? Embora tivesse sentido como se milhares de facas fossem enfiadas em seu peito no momento em que a lâmina atravessou a garota. Mas eram apenas sentimentos humanos que ele não deveria ter, e por isso eram constantemente e arduamente ignorados.

Castiel sabia exatamente qual o seu papel, e caso não conseguisse mudá-lo para salvar Esther (algo que estava se tornando cada vez mais frustrante, pois não havia encontrado absolutamente nada em suas buscas incessantes. A não ser um feitiço da placa da revelação que estava tentando decifrar, sua última esperança), ele o desempenharia novamente. E só de pensar nesse momento já sentia raiva de si mesmo. Porém preferia amaldiçoar-se pela eternidade a deixar que a garota virasse um monstro comandado por Lúcifer, aquilo era basicamente profanar a essência da alma pura que ele sabia que ela tinha.

Coisa que Elisabeth parecia ter perdido. Embora elas fossem absurdamente idênticas por fora, Esther tinha uma aura branca e brilhante em volta do corpo, algo que era facilmente percebido por seus sentidos angelicais, já a condessa era apagada e triste, como um cadáver.

Supernatural: RéquiemOnde histórias criam vida. Descubra agora