Brincando de boneca, parte I

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O edredom que me cobria era quente, mas não tão quente quanto os braços que me envolveram a noite toda, e por isso eu acabei acordando. Espreguicei-me, agarrando o travesseiro enquanto me lembrava das cenas de ontem e não conseguia deixar de sorrir. Mas se por um lado havia sido a noite mais mágica desde que eu me entendia por gente — tocar as asas de um anjo, algo que eu nunca imaginei ser possível, era quase como se você dissesse para uma criança que ela tinha ganhado sua própria fábrica de chocolates —, também tinha sido um alerta de que eu não podia me esquecer dos perigos que nos esperavam pela frente. Havia os Caçadores de Sombras atrás do meu irmão, havia a profecia apocalíptica que envolvia Castiel e a mim, havia Lúcifer, que com certeza estava armando alguma coisa, e havia a questão dos meus poderes aumentarem mais a cada dia enquanto os de Castiel diminuíam. Eu não podia me dar ao luxo de me acomodar agora, pois a vida a qual eu fui submetida nunca me deixaria fazer isso. Ou você estava preparado ou você estaria morto.

Ouvi passos baixos se aproximarem pelo corredor, demorando cerca de cinco segundos até chegarem à frente da porta, girando a maçaneta e abrindo a mesma. Sorri ao perceber que Castiel estava espiando para dentro do cômodo a fim de ver se eu já havia acordado.

— Bom dia.

— Bom dia. Você me trouxe café na cama? — arqueei as sobrancelhas ao notar a bandeja em suas mãos. O anjo se aproximou enquanto eu me ajeitava sob o colchão, colocando o apoiador na altura das minhas coxas. Observei as torradas com chocolate, pães de mel, sanduíches, morangos e suco de laranja, logo ao lado do prato havia uma rosa vermelha. Fitei-o com um sorriso, controlando a vontade de jogar as mãos para cima e rezar um rosário em agradecimento por existir alguém nesse mundo que tinha algum senso sobre agradar uma garota. Na verdade, eu nunca imaginei receber algo assim, eu queria mesmo era jogar tudo de lado e cobri-lo de beijos.

— Eu vi em um filme, achei que você ia gostar. — confessou com a expressão um pouco tímida.

— Eu geralmente não como muito de manhã... — comecei gesticulando para o tanto de comida que havia ali, uma porção que alimentaria três ou mais de mim — Mas vou comer dessa vez. E os rapazes? — questionei pegando um morango da bandeja e colocando na boca.

— Estão todos andando na ponta dos pés e irritados com o barulho da goteira que tem na pia da cozinha. — disse Castiel com o tom de voz ligeiramente divertido, os dedos passeando despreocupadamente pelas minhas pernas que estavam cobertas pelo edredom.

— Parece ser uma ressaca das bravas. — comentei apontando para um pãozinho com cobertura de creme, lembrando que Lucius sempre trazia para o café da tarde quando voltava mais cedo, uma sensação de nostalgia me preenchendo quando dei uma mordida no mesmo. — Eu havia esquecido como eu amo pão de mel.

— Qual o gosto? — perguntou com curiosidade.

— É doce, macio e te deixa feliz. — respondi depois de pensar por uns instantes. E então ele fez algo que me deixou surpresa, pegou um dos pães que estava no prato e deu uma mordida, fazendo uma careta ao saborear a guloseima, pois nós dois sabíamos que anjos não conseguem discernir o gosto de qualquer alimento. — Desde quando anjos comem?

— Eu não sou um anjo. — o mesmo deu de ombros seriamente, puxando os lábios para dar um sorriso torto — Sou seu pão de mel.

— Será que é por isso que eu tenho vontade de te morder? — brinquei, me inclinando com dificuldade por cima da bandeja para me aproximar dele, puxando-o pelo sobretudo gentilmente até depositar um beijo em seu queixo. Castiel colocou uma das mãos no meu rosto, a expressão distante, como se estivesse descobrindo uma nova teoria científica.

— Isso tem gosto de átomos, energia e... Eca. — grunhiu por fim, me fazendo dar uma risada sonora, me divertindo momentaneamente pela incapacidade angelical de sentir sabores. Então ele fechou os olhos de repente.

Supernatural: RéquiemOnde histórias criam vida. Descubra agora