O demônio conhecido

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De duas, uma: Ou Brawian tinha muita confiança que sua magia não me deixaria fugir, ou ele estava me testando.

Pelo menos duas vezes por dia, o bruxo saia e me deixava completamente sozinha, e eram nessas horas que eu aproveitava para vasculhar cada centímetro daquele apartamento em busca da minha jaqueta com o anel do cavaleiro. Mas como esperado, não tive nenhum sucesso.

Desci de cima do guarda-roupas, onde havia conseguido me empoleirar na procura do objeto e segurei a cadeira pelo recosto, arrastando-a de volta para a cozinha. Devo pensar que Brawian sabia exatamente o que era aquele anel e que o havia escondido em algum lugar que eu jamais alcançaria. Deixei um suspiro derrotado escapar por entre meus lábios. O cara era esperto, eu não podia negar.

O bruxo também havia conseguido roupas para mim, por solidariedade ou por não aguentar mais me ver com o mesmo vestido encardido de lama. Depois que eu tomei um banho quente, coloquei uma calça de física e uma regata branca, enfiando as peças sujas diretamente no lixo.

Há quantos dias eu estava ali? Dois? Três? De qualquer forma, um pressentimento ruim me dizia que algo estava por vir e eu não poderia me dar ao luxo de estar sequestrada no momento. Talvez fosse o instinto de sobrevivência me alardeando para escapar antes do veredicto do conselho. Antes que eu perdesse a cabeça, literalmente falando.

Atravessei a porta do quarto e encolhi-me em um canto do colchonete enquanto uma vassoura dançava pela casa, limpando o chão e varrendo a sujeira para uma pá que se despejava sozinha na lata metálica de lixo. Estranhamente eu já estava acostumada demais com aqueles fenômenos bizarros que nem dava muita importância ao caso. Senti uma presença ao meu lado eriçar os pelos da minha nuca e não precisei olhar para saber quem era.

— Olha quem resolveu aparecer. — debochei com o queixo apoiado nos joelhos, fitando um ponto invisível a minha frente. — Achei que como seu passe livre da gaiola já estivesse garantido e não precisasse mais de mim, não veria mais sua cara estúpida.

— Não vai se livrar de mim tão fácil. — apontou Lúcifer do canto obscurecido ao lado da cortina pesada.

— Que bom saber. — suspirei com sarcasmo.

— Seus amigos estão movendo céu e terra para te encontrar. — contou pisoteando minha cama e vindo sentar-se ao meu lado, imitando minha posição. Uma sensação de felicidade ferroou meu peito ao saber daquilo, embora eu não quisesse ser encontrada por eles.

— Achei que só pudesse presenciar coisas a certa distância de mim. — murmurei depois de alguns segundos em silêncio.

— Já que a jaula está se rompendo, eu ganhei novas habilidades. — explicou o anjo rapidamente, aproximando-se conforme eu virava o corpo para longe dele. — Mas acontece que, não que eu me importe, mas os Winchesters estão jogando um jogo perigoso, e o seu anjo guardião é quem está dando as cartas.

— Castiel? — pisquei várias vezes, pensando o quão verídicas poderiam ser aquelas informações. Eu nunca imaginaria Castiel fazendo nada de perigoso envolvendo os rapazes, não seria ele.

— Digamos que Eve já foi para o saco e tem algo nada bom a caminho. — contou e eu o encarei em dúvida. A Mãe estava morta? Nós ficamos semanas sem ter uma única opção para sequer encontrá-la e de repente eles conseguem acabar com ela?

— Por que você fica falando meias palavras? Diga tudo de uma vez, isso é irritante! — vociferei para o sorriso irônico a minha frente.

— Saia daqui e descubra por si mesma. — desafiou.

— Já sei o que você quer! — levantei bruscamente do colchonete, caminhando a passos pesados pelo meio da sala/cozinha. — Isso é um truque para me fazer fugir e assim salvar sua preciosa graça para quando você sair da gaiola. Não vai funcionar!

Supernatural: RéquiemOnde histórias criam vida. Descubra agora