Pulsar

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Durante intermináveis segundos, o silêncio reinou sobre nós. O único som audível era o de nossas respirações entrecortadas e os gemidos sôfregos da garota encurvada no piso gelado. Todos os olhares se cruzavam e terminavam parando em mim com um misto de descrença e até mesmo medo. A tensão pairava no ar.

Agora que a raiva havia passado, um estranho sentimento começou a pulsar dentro de mim, fazendo com que eu me sentisse um buraco oco. Meu corpo tremia e minha mente rodava em uma tontura vertiginosa. Não era como se eu tivesse planejado aquilo, apenas deixei me levar e quase acabei machucando Castiel. Na hora eu não via mais nada além do ódio cego dentro de mim, mas agora a culpa me corroía abaixo da pele, junto com o pavor de mim mesma enquanto eu encarava minhas mãos ainda quentes. Eu não sabia o que teria feito se Elisabeth não tivesse se colocado entre nós e alguma coisa acontecesse com ele.

E como se tivessem apertado o botão de play em um filme pausado, Lúcifer foi o primeiro a se pronunciar e me tirar do meu monólogo de culpa e torpor.

— Eu não teria feito melhor. — admitiu juntamente com um barulho de palmas.

— O que diabos aconteceu aqui?! — exclamou Jimmy, abrindo os braços e me lançando uma expressão perplexa.

— O segundo estágio da profecia começou. — revelou Castiel atônito, algo que eu sabia, porém não tinha ideia do quão grave era. Até agora. Todos os olhares se cruzaram novamente, totalmente alarmados.

— Cass... — murmurou Elisabeth com um gemido de dor, virando-se o suficiente para lhe fitar. O anjo abaixou-se imediatamente, colocando a garota sentada e apalpando por cima do ferimento enquanto ela respirava com dificuldade.

— Não consigo! Droga! — chiou ao tentar pela sétima vez fazer com que a luz branca que saía das suas mãos a curasse. — Balthazar! — exclamou quase num rosnado.

— Quem invocou meu santo nome em vão? — questionou o mesmo, materializando-se ao lado de Maison, que apenas se limitou a virar o rosto para encará-lo.

Balthy! — vibrou Lúcifer, apontando para o irmão e dando uma risada eufórica. — Eu adoro esse cara, ele tem senso de humor.

— Cure-a. — pediu, soando mais como uma ordem.

— Por que não faz você mesmo? — devolveu Balthazar com ar de tédio.

— Não consigo! — rosnou Castiel entre dentes.

— Tudo bem! Não se exalte, Cassie. — o anjo levantou as mãos em forma de rendição e agachou-se ao lado de Elisabeth, que o fitou com receio, puxando as mangas para cima.

— Você vem comigo! — pronunciou-se Sam, agarrando-me pelo braço de repente e me arrastando para o lado de fora da oficina. Eu estava em um estado de choque tão grande que mal pude protestar contra o aperto forte nos meus músculos ou o fato de eu tropeçar nos meus pés tentando acompanhá-lo. Assim que paramos longe o suficiente da casa, o Winchester caçula me segurou em frente a ele, encarando-me fixamente. Seu olhar não tinha nada de agressivo, ao contrário dos seus gestos anteriores, era preocupado e temeroso. — O que aconteceu lá?

— E-eu... não sei. — gaguejei. Meus olhos varrendo ao redor, procurando por explicações que eu não conseguia encontrar dentro de mim. O que eu poderia dizer? Que havia me descontrolado? Que estava mentindo para eles esse tempo todo? Isso só tornaria tudo muito pior. Ouvi sons pesados de passos se aproximarem.

— Esther, o que foi aquilo? — repetiu Dean estupefato, aparecendo pelas costas do irmão, seguido por Maison e Jimmy que corriam esbaforidos atrás do loiro. Encontrei seus olhos verdes pairando em mim e não vi nada de amigável ali, era um olhar acusador, idêntico ao que ele usou depois de matar aqueles vampiros. Meu estômago se retorceu com aquilo, uma mistura e descrença e mágoa. Como ele podia me olhar assim?

Supernatural: RéquiemOnde histórias criam vida. Descubra agora