Mais um dia em Sioux Falls

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Na última semana as coisas estavam mais calmas do que nunca em Sioux Falls, sem aparentes notícias de casos nos jornais, sem ameaças iminentes, sem criaturas querendo nos lanchar no café da manhã. Estava tudo absurdamente, impossivelmente e até inacreditavelmente normal. Sam até brincou que os seres sobrenaturais estavam tirando férias por causa da época natalina, então só o que podíamos fazer era não fazer nada.

Era cerca de uma hora da tarde, Bobby estava assistindo televisão enquanto os irmãos se ocupavam consertando um carro e conversando amenidades. Já Castiel e eu, bem, nós...

Com os olhos vendados por um lenço preto, eu sentia sua presença silenciosa logo atrás de mim, respirando próximo ao meu pescoço — o hálito quente em contraste com a brisa gelada do inverno causava uma sensação de formigamento na minha pele —, e em seguida suas mãos apertaram a minha cintura, me puxando mais para perto de modo que ficássemos encostados um no outro.

— Você é rápida, use isso ao seu favor. — instruiu com a voz baixa, dando um aperto mais forte no meu abdômen. — E tencione aqui quando for usar a força.

— Ainda estou em dúvida sobre isso, não quero te machucar. — murmurei relutante, comprimindo os lábios.

— Confie em mim. — insistiu Castiel, seu tom se tornando ligeiramente mais confiante. Eu podia jurar que nessa hora ele estava dando um sorriso quase arrogante. — Eu sou bom no que eu faço. — decretou por fim e eu revirei os olhos por baixo da venda.

Apertei a lâmina angelical entre os dedos e girei tentando passar o mais longe possível de onde eu achava que o mesmo podia estar. Consegui ouvi-lo se movimentar para baixo e com uma mão segurar meu pulso com a arma, puxando meu braço para trás e o prendendo as minhas costas. Usei um pé para lhe dar uma rasteira, conseguindo desequilibrá-lo e assim me soltando do seu aperto. Dei alguns passos, a terra molhada pelo orvalho da madrugada guinchando sob minhas botas de frio.

— Já treinou algum humano antes? — questionei ficando imóvel para sentir sua presença que agora podia estar em qualquer parte.

— Não, mas acho que sou qualificado já que treinei vários anjos. — a voz estava afastada, eu diria que vários metros a noroeste de onde eu me encontrava. Caminhei para frente, mapeando o caminho íngreme que já conhecia e logo as pontas dos meus dedos alisaram a superfície úmida e fria de uma das carcaças de carros que ficavam empilhadas pela oficina.

Capitão Castiel? — provoquei em uma estratégia para fazê-lo falar mais uma vez. — Estamos importantes. — emendei com um sorriso zombeteiro e ouvi uma risada em resposta, o som vindo de cima. Mas antes que eu pudesse raciocinar direito, um ruído metálico encheu meus ouvidos e o anjo pulou logo atrás de mim, as mãos imediatamente me prendendo contra o veículo.

— Comandante do exército, na verdade. — corrigiu próximo o suficiente para que eu tivesse dificuldade de manter a respiração instável, e mesmo sem ver eu sentia seus olhos me analisando por vários segundos, aproximando-se do meu rosto lentamente e quando seus lábios roçaram no meu queixo me fazendo pensar que ele iria me beijar, o mesmo então se afastou. — Você está pegando leve. — constatou voltando o foco para o nosso treino.

— Tem noção de que eu estou vendada e com uma arma que pode te matar? — devolvi gesticulando com a lâmina em mãos.

— Você é muito pequena para me acertar. — provocou tão seriamente que se eu não o conhecesse sua falta de tato para o sarcasmo e ironia, podia levar para o lado pessoal.

— Como se você fosse muito alto. — retruquei com uma risada e escárnio e no segundo seguinte ouvi um farfalhar de asas ao meu lado e Castiel me abraçar por trás, segurando minhas mãos para baixo e junto ao corpo.

Supernatural: RéquiemOnde histórias criam vida. Descubra agora