Um adeus, uma lágrima e um final

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As árvores que contornavam a rodovia se moviam sinuosamente com a brisa gélida no momento em que entrei pela porta do bar chamado Road House, onde uma pequena placa de madeira ao lado do letreiro dizia "Sob nova direção". Andei entre os alegres homens bêbados que se debruçavam por cima do balcão na tentativa de conseguir enxergar a final do campeonato de basquete na minúscula televisão presa à parede. Coloquei meu casaco de inverno no recosto da cadeira e sentei a mesa próxima ao banheiro. Eu podia dizer, com certeza, que a minha vida tinha virado de cabeça para baixo nos últimos dias. Meus planos — que eu já não tinha muita fé que seriam para longo prazo —, tinham encurtado ainda mais e se priorizado em três únicos objetivos: O primeiro, parar a profecia definitivamente. O segundo, selar Lúcifer de maneira permanente no inferno e o terceiro era o que eu ia tratar de assegurar agora, com a ajuda da minha ilustre convidada que ainda não tinha aparecido.

Ouvi um arrastar de sapatos as minhas costas e puxei o canto da boca para dar um meio sorriso irônico.

— Sempre furtiva. — comentei para a garota e senti a mesma colocar uma das mãos no recosto da cadeira, puxando a outra ligeiramente para apontar um objeto afiado perto da minha costela direita.

— É muita audácia sua me chamar. — disse Maison, inclinando-se mais para frente, apertando a ponta da faca com mais força e trincando os dentes. — Ou muita burrice.

— Preciso de um favor seu, Maison. — continuei calmamente, girando a cabeça para fitá-la com desafio, o que fez a loira estreitar os olhos claros. Então indiquei sutilmente para baixo e ela logo percebeu que eu tinha a minha lâmina angelical (que Meg fez o "favor" de roubar de sabe-se-lá qual anjo) firmemente presa entre os dedos e no caminho de sua barriga.

Eu a conhecia bem o suficiente para saber que ela não lida bem com traidores, e era exatamente isso que eu era no momento. Minha intenção não era machucá-la, mas eu também não podia deixar que Maison tentasse arrancar meu fígado e atrapalhar meus planos.

— Eu não vou fazer nada para você, ou melhor, para Lúcifer. — rosnou se afastando e ocupando o segundo assento que havia na mesa, de frente para mim. Alguns segundos de silêncio se estabeleceram entre nós, a sua expressão rígida logo começava a adquirir uma pontada de desgosto. — Esther, eu não tenho palavras para dizer o quão desapontada eu estou com você.

— E eu não estou interessada em ouvir, não tenho tempo para isso. — gesticulei com um suspiro baixo, fitando os torcedores alegres comemorarem alguma coisa no balcão, todos vestidos de branco como se estivessem em uma espécie de "retiro da paz". — Preciso que mantenha os Winchesters longe dos arredores do Parque Histórico.

Ela deu uma risada alta.

— Como se eu pudesse impedir Sam ou Dean de fazer alguma coisa. — apontou com sarcasmo, recostando-se para trás.

— Amarre-os se precisar. — disparei no mesmo instante. — É muito importante que eles não estejam lá hoje à noite.

— Por quê? Vai dar uma festinha de Ano Novo para os moradores do inferno? — questionou irônica. O olhar fixo ao meu soltava faíscas de desafio.

— Eu vou abrir a jaula e se eles estiverem lá vão morrer... — comecei, percebendo tarde demais que havia alterado a voz de uma maneira que não condizia com aquilo que eu queria demonstrar no momento. Embora minhas emoções estivessem entorpecidas por uma barreira e eu estivesse lutando para mantê-las no lugar, a mínima parte que ainda estava intacta não conseguia conceber a ideia de ver qualquer um dos rapazes metido naquela "festança demoníaca" e mortal. — E atrapalhar tudo. — emendei com um sorriso. A loira apertou as pálpebras, me analisando por vários instantes até espalmar as mãos sonoramente na mesa rústica.

Supernatural: RéquiemOnde histórias criam vida. Descubra agora