O sentimento que queima em silêncio

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Devo ressaltar que eu nunca corri tanto na minha vida. Meus pés batiam no chão como se eles quisessem levantar voo — o que não seria uma má ideia se isso me desse mais tempo. Cheguei ao Impala e me joguei no banco do motorista, Sam estava apavorado.

— Que parte de "Tentem não chamar atenção" vocês não entenderam?! — ralhou o garoto estupefato. Arquejei, passando as mãos pelos cabelos, e notei que o moreno parecia menor, ou mais novo. E Dean agora era uma criança recém nascida, quase prematura. Ele percebeu meu olhar de pânico.

— Sim, nós temos pouquíssimo tempo agora.

— Quanto tempo? — perguntou Castiel, apreensivo.

— Pelos meus cálculos menos de meia hora.

— Eu dirijo e você lê! — apontei para o anjo enquanto o Impala cantava pneu e saia em disparada, o som das sirenes estava perto, talvez dobrando a esquina, era ensurdecedor. Virei na primeira rua que vi.

— Sam, onde fica essa escola? — indaguei elevando o tom de voz. Ele se inclinou, apontando para frente onde no horizonte estava o morro alto da cidade. Ah, que ótimo.

— Agatha Kingstorm, de aparente origem caucasiana, foi encontrada em frente ao orfanato Oriente no dia 27 de Janeiro de 1800. Foi criada no respectivo local, apresentando desde muito nova baixa empatia com os superiores e demais crianças.

— Resume Castiel, eu não quero saber se ela era antissocial! — exclamei, fechando uma curva e fazendo o carro derrapar, nos sacudindo violentamente.

— Talvez se você não dirigisse feito uma psicopata! — devolveu imitando o meu tom.

— Pelo amor de Deus, briguem depois! — berrou Sam, irritado e desesperado no banco de trás. Com o grito, Dean acabou acordando e começou a chorar. Castiel continuou com a leitura, quase gritando para se tornar audível.

— Aqui têm depoimentos de testemunhas, inclusive algumas freiras. Elas dizem que Agatha não tinha amigos e era sempre solitária, mas nunca seria capaz de matar a sangue frio. Segundo a freira, Agatha queimou o jardineiro, pois ele estava se aproveitando das garotas do orfanato.

— Eu sabia! — bati as mãos no volante — Aposto que aquele professor também estava, e por isso ela o matou!

— Depois disso, ela foi condenada à fogueira, e suas últimas... — joguei o Impala contra o lado oposto ao que eu estava, entrando na contramão para pegar a rua que dava direto para o morro. Um carro que vinha no sentido contrário buzinou — Você pode tentar não bater, por favor?!

— O que ela disse? — perguntei ignorando-o.

— Suas últimas palavras foram "Isso não acaba aqui".

— Certo, e onde isso é mais do que nós tínhamos? — se meteu Sam.

— Isso confirma o que eu disse. Ela matou o jardineiro porque ele estava fazendo algo errado, e todos a condenaram. No fim ela é só uma criança amargurada.

— Ela é uma bruxa, Esther! — exclamou o moreno, repreensivo.

— Bruxa ou não, ela é uma criança. — ressaltei novamente.

— E o que você pretende?

— Conversar. — admiti e eles me lançaram um olhar incrédulo.

— Conversar?! — repetiu ele — Você vai chegar lá e dizer "Sinto muito sobre a sua vida, agora queime bruxa! Queime! Suma!" acho que não vai funcionar!

Supernatural: RéquiemOnde histórias criam vida. Descubra agora