Os dois lados de uma moeda

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— Não sei o que houve! Eu juro que tinha dinheiro na minha carteira! — exclamava a mulher de cabelos curtos e bolsa importada diante do balcão da lanchonete, perante a cara de poucos amigos do gerente. Dei um sorrisinho disfarçado e tomei o último gole do meu suco de laranja, levantando da mesa próxima à janela e guardando os dólares recém extraviados no meu bolso, deixando o suficiente para pagar a conta.

— Deixa que eu pago para ela, e quero uma porção de fritas para a viagem. — anunciei para a garçonete sardenta e de aparelho.

— Muito obrigada, você é um anjo. — agradeceu a mulher enquanto eu dava uma nota de cinquenta para a garota e pegava meu pedido. Sorri de forma educada para a mesma, que saiu envergonhada pela porta diante dos olhos atentos de todos os fregueses.

— Estou mais para Diabo. — murmurei comigo, mordiscando uma batata.

Conviver com os Winchesters e suas falsificações de cartão de crédito não tinha sido uma boa influência para mim, já que a primeira opção para me virar sozinha durante aquelas semanas — e foragida de um bruxo, de Raphael, de possíveis demônios e monstros que quisessem minha cabeça — na rua tinha sido aprimorar meus poderes para "extraviar" algumas coisas. Não era muito difícil, eu apenas tinha que me concentrar nos impulsos elétricos pelo meu corpo e mandá-los para um objeto, fazendo com que a energia traçasse uma borda ao seu redor, e então eu ordenava que ela voltasse para mim, materializando-se na minha mão juntamente com o objeto. Obviamente só servia para coisas pequenas, mas eu conseguia dinheiro dessa forma, logo conseguia me virar para tudo.

Saí da lanchonete com o pacote transbordando de batatas fritas, começando a trilhar meu caminho pelas ruas frias de Illinois. Eu estava quase perto de Sioux Falls e ainda não tinha nenhum plano decente para saber se todos estavam bem, com as cabeças no lugar e não fazendo loucuras que pudessem matá-los depois (o que eu não tinha muita certeza). É claro que eu podia ligar, mas isso os faria ter uma pista minha, e eu não queria que acontecesse. Para falar a verdade, eu estava muito bem enrascada.

Assim que dobrei uma esquina, passando por uma mulher solitária e seu poodle na coleira cor-de-rosa com pedrinhas brilhantes, meu sexto sentido me alertou. Olhei para trás por segundos suficientes para perceber o homem que estava sentado na mesa do canto enquanto eu tomava meu suco, vindo na minha direção. Ele era alto e magro, usava uma calça jeans surrada, um casaco de veludo preto e um cachecol verde musgo por cima. Porém o mais chamativo nele era uma tatuagem em forma de estrela negra na pele de bronzeado latino, que ia da nuca até a frente da garganta. Fisicamente falando, ele não aparentava nenhuma ameaça com seus poucos músculos e corpo magricela, mas algo estava me dizendo para me afastar.

Continuei caminhando e na primeira oportunidade que tive, dobrei outra esquina, e logo que o mesmo fez igual, comecei a andar mais rápido. O ar úmido da manhã entrava pela minha garganta e arranhava, secando-a e tornando mais difícil respirar. Quando me enfiei em uma ruela cheia de caixas de papelão nos contêineres de lixo, encostei-me à parede, abaixando-me para agarrar um pedaço de madeira que estava jogado no chão sujo. Quem era ele? Ou melhor, o quê? Quando você é caçada por diversas criaturas sobrenaturais ao mesmo tempo, fica difícil saber com o quê está lidando até o momento derradeiro.

Fui me esgueirando junto à superfície enquanto me afastava do lado que ele deveria surgir, se eu pudesse chegar até a rua de trás, podia despistá-lo, quem quer que fosse. De repente senti mãos me agarrarem por trás, o desgraçado havia sido esperto e dado a volta, me pegando pelo lado que eu pretendia fugir. Ele me segurou pelo pescoço, colocando um pano com um cheiro terrivelmente forte tampando minha boca e meu nariz. Tentei me debater, mas em milésimos se segundo minhas pernas já estavam bambas, e tudo apagou de vez.

Supernatural: RéquiemOnde histórias criam vida. Descubra agora