03. Sangue.

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Estava ficando preocupada, o sangue escorria de forma assustadora. A dor estava intensa e profunda, até que começou a ficar insuportável e eu gritei.

Gritei até faltar o ar dos meus pulmões, enquanto tentava estancar o sangue que agora inundava o quarto. No meio do meu desespero, alguém segurou meu rosto, e me forçou a olhar seus olhos.

- Fica comigo. Fica aqui.

- Está doendo muito.

- Vai passar, eu juro! Só não vai. - gritou a última parte.

Fechei os olhos brevemente, mas sentia meu corpo se movendo de um lado para o outro.

- Amber? Meu Deus, acorda!

Abri os olhos assustada.

Tio Adam estava me olhando desesperado do banco da frente, Joe estava dirigindo e meu pulso doia muito.

- Ah, querida, você está bem? Céus, Amber, eu pedi para você não fazer isso. - ele praticamente grita.

- Já estamos chegando, só tenta segurar firme o pano no corte. - Joe me pediu.

Não segurei.

Quanto mais sangue saísse, mais rápido eu iria.

Quando eles vão entender que eu só quero ir?

(...)

- Ela teve muita sorte.

Sorte?

- Se você não chegasse no quarto a tempo, talvez ela não iria resistir. - o médico contínua. - Está ouvindo, Amber? - concordo.

- Ela não é de falar muito. - meu tio explica.

- Podemos ficar a sós?

Eles saem, mas ambos beijam minha testa antes.

- Meu nome é Arthur, Amber. - contínuo em silêncio. - Eu vi na sua ficha que você é uma jovem depressiva.

Mais silêncio.

- Você vai ao psicólogo, não é?

- Sim.

- Sobre oque conversam?

- Coisas banais, ele acha que vai me ajudar... Eu não o culpo, mas você acha que ele vai conseguir?

Arthur ergue as sombrancelhas.

- Eu não culpo ninguém em tentar me ajudar. Eu aprecio meu tio e o marido dele se esforçarem, mas me quebra saber que é em vão. Eu não estou fazendo isso para chamar atenção, eu só quero ir logo. Não mereço estar aqui, não sirvo para nada, eu só preciso acabar com essa droga de vida, Arthur, só isso.

- Quer ouvir uma história?

Não sei onde ele quer chegar, mas ele me passa confiança. A forma como ele me olha, calmo, não tem pena sendo transmitida do seu olhar, apenas seriedade, calma e confiança.

Eu gosto de pessoas confiantes, elas geralmente sabem o que fazem, e se não sabem, se arriscam. Isso é bom.

- Minha mãe adotiva morreu de câncer, minha mãe biológica morreu de câncer, meu pai morreu de câncer e meu segundo padrasto também. - minha boca fica aberta. Eu estou tão chocada que não tenho reação. - Você não sabe como é frustrante, passar quase dez anos estudando medicina e perder todas as pessoas importantes para você, para uma doença sem cura.

Ele suspira, se senta ao meu lado e continua.

- Eu tive depressão. Não queria sair do meu quarto, não queria comer nem falar com ninguém. Foram doze meses trancado em um quarto escuro pedindo a Deus para que Ele me levasse. - ele olha nos meus olhos. - Sabe oque aconteceu? - nego com a cabeça, rapidamente. - Ele não me levou, todas as vezes que eu me enforcava, a corda rompia. Era horrível no momento. - seus lábios se curvam em um pequeno sorriso. - Quando eu tentava tomar algum tipo de remédio eu sempre vomitava... Até a água ficou contra mim, não consiga me afogar.

Ele deu uma risada.

O cara tinha acabado de me contar o que seria um dos fatos mais importantes da vida dele, e ri disso.

- Onde eu quero chegar, é: Você tem algum propósito aqui, Amber. Não é atoa que eu estou te contando isso, não é atoa que você veio parar aqui e não é atoa que você perdeu seus pais. Pensa nisso, não dê para o seu tio outra perda. Ele já teve que deixar a irmã cedo de mais, e se importa muito com você, ele não quer que você morra agora também.

Absorvi suas palavras.

Pensei nelas no caminho para casa.

Um propósito.

Será mesmo que eu tinha algo de importante para fazer aqui? Afinal, eu só servia para me sentir mau e inútil. Eu sou uma inútil.

Ao descer do carro, uma mulher baixinha com os olhos azuis também está saindo de um, ela mora na casa que vive tento brigas.

- Boa noite, vizinho. Noite difícil? - ela é simpática, tentando fazer uma piada.

- Nem diga. - Joe responde ao sair do carro. - Anda tendo problemas aí também?

- Vocês devem ouvir os berros. Me perde. - diz, mais baixo.

- Entendemos.

Prefiro entrar na frente, eu preciso de um banho e depois minha cama.

Estou terminando de vestir meu pijama quando meu tio entra no quarto com uma bandeja nas mãos. Frutas picadas e iogurtes estavam dentro de uma pequena tigela de vidro.

- Você vai comer. - praticamente ordena. 

Me sento na cama, ele senta ao meu lado e acaricia meu cabelo.

- Eu te amo, você sabe disso, não é?

- Sim.

Reparo que tem um pouco de manchas vermelhas no carpete. Me sinto mau.

- Amanhã eu limpo o chão. - comento.

- Não se preocupe com isso.

Suspiro.

- Desculpa. - sussurro.

- Eu só queria que você não se sentisse assim, meu amor. - beija minha cabeça. - Eu dou o meu melhor... As vezes só queria entrar nessa cabecinha e saber oque se passa aqui.

Pela primeira vez, em muito tempo, sinto vontade de rir.

Ele não quer saber oque se passa aqui. Definivamente não quer.

Acordo assustada depois de um pesadelo. Minha respiração está inrregular e uma fina camada de suor cobre minha testa. Respiro fundo algumas vezes para me acalmar.

Depois de escovar os dentes, vou abrir a janela do quarto, o tempo está frio e o vento que está forte e gelado vai servir para arejar o local.

O cara do consultório está do lado de fora da casa. Ele fuma um cigarro e tem uma garrafa de bebida nas mãos.

Olho meu celular para ver as horas.

Nove e meia da manhã

Ele tem o olhar perdido, encarando a rua meio sem saber oque fazer. Fico observando ele, não sei porquê, mas alguma coisa faz me prende ali, não deixando mover minhas pernas. Ele traga mais uma vez o cigarro, soltando a fumaça pela boca, leva a garrafa aos lábios e parece beber todo o conteúdo de uma vez, em seguida a quebra no chão, fazendo um som alto no asfalto.

Sua atenção se volta para um caminhão que vem em alta velocidade, ele se levanta.

Não sei qual força toma meu corpo.

Como que por instinto eu corro. Saio do meu quarto o mais rápido possível, com o coração a mil, cada célula do meu corpo está em alerta, eu sinto que se não correr até ele pode acontecer uma tragédia. Céus, oque está havendo comigo?

Desço as escadas de dois em dois degraus, quase caindo em cima de Joe que passava enfrente.

- O que aconteceu, menina? - empurro ele e abro a porta.

Olho para o caminhão que está a menos de três metros, o homem está parado no meio da rua, seus olhos fechados e os braços abertos, como se esperasse aquilo.

Meu peito queimou imaginando a cena que viria a seguir. Eu só consegui correr até ele.

Fechei os olhos ao ouvir a buzina extremamente alta, e não os abri quando meu corpo se chocou de forma brusca ao seu.

Remember, I Love YouOnde histórias criam vida. Descubra agora