16. Fugindo.

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Doutor Parker me encara, esperando eu dizer alguma coisa. Mas eu apenas permaneço em silêncio, encarando a janela.

- Foi alguma coisa com ele?

Uma coisa que Justin me ensinou foi a mentir. Por ser muito abservadora, eu aprendi a fazer isso.

Encaro o homem a minha frente e tento focar em alguma coisa próxima dos seus olhos, para demonstra confiança ao dizer as próximas palavras.

Os óculos.

Fixo meu olhar na nova armação que ele tem.

- Não, não foi nada com ninguém.

Doutor Parker me analisa. Tentando detectar o sinal da mentira.

- Não foi nada. Só estou cansada. - contínuo encarando o óculos de forma firme, como se fossem seus olhos, me esforçando ao máximo para transmitir confiança.

- Certeza?

- Sim.

- É uma pena que tudo tenha voltado a ser como era antes. - contínuo calada. - Poucas palavras. - explica.

Na volta para casa tio Adam pergunta sobre Justin, e eu apenas quero que todos parem de falar dele, mas parece impossível.

- Joe e eu vamos participar do jantar comunitário da nossa rua, mas Pattie disse que Justin não quer ir, pensei que soubesse o motivo. - ele continua insistindo.

- Não sei. - procuro meu fone dentro do porta-luvas.

- Mas vocês...

- Eu não sei mais dele, tio. Não quero saber também. Tem como vocês pararem?

Elevo o tom da minha voz, farta de ouvir seu nome.

Faz mais de uma semana que ele não me procura, não tentou me ligar, não foi a minha casa... Ele está fazendo denovo. Está saindo da minha vida, da forma mais dolorosa, me deixando machucada emocionante.

Me sinto burra por ter me apegado, por ter criado expectativa e no final ter terminado com o coração partido. Mas afinal, é sempre assim, não é mesmo? No final você sempre termina com lembranças boas e em lágrimas.

Eu havia criado uma barreira em volta do meu coração, uma barreira protetora que não deixava nada entrar nem sair. Estava tudo em ordem, eu sabia oque queria, e por mais que tentasse acabar sempre com a minha vida, até para isso eu estava preparada, mas ele chegou, e me tirou do controle da situação. Me faz enxergar o mundo de outra forma, ele fez eu querer continuar, me fez acreditar que eu tinha um propósito, mas me largou no meio da jornada. Me deixando seguir sozinha, mas esqueceu que eu não sei caminhar sem ninguém, e que seu suporte era o essencial para mim.

Tio Adam e eu ficamos em silêncio até chegarmos em casa. No meu quarto eu troco de roupa e me deito, porquê até na minha janela eu lembro de coisas e momentos que deveria esquecer, então fico na cama, tentando pegar no sono.

Sonho com olhos castanhos intensos e mãos firmes me seguram quando estou prestes a cair. Acordo ofegante, tentando tirar as imagens da minha cabeça.

Depois de tomar um longo banho, ouço a voz de meu tio me chamando.

Desço as escadas, encontrando alguns vizinhos nossos, andando com pratos e tigelas enormes, cheias de comida. Tem tanta gente andando de um lado para o outro, que eu me encolho, em uma tentativa falha de passar despercebida.

Bem falha, pois Joe berra meu nome, fazendo todos me olharem.

- Minha flor, quero te ver em algum vestido bem bonito para o jantar.

Remember, I Love YouOnde histórias criam vida. Descubra agora