CAPÍTULO 14: " Preto e branco"

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Minhas férias estavam acabando e era uma tortura saber disso logo agora, quando as coisas começaram a ficar interessantes.

- Olha que legal, vai ter uma exposição de desenhos e esculturas na praça perto da sua escola. - Meu pai diz enquanto corto as cenouras e ponho na panela.
- Que legal, quando é ?
- Vamos vamos vamos ! - Diego parece animado- Você viu aquilo pai ? Era um transformer .
- Quem esculpe um transformer ?- meu pai parece perplexo.- É amanhã.
- Por favor por favor podemos ir ?- Diego implora me abraçando pela cintura.
- Hum não sei....
- Eu prometo que vou escovar os dentes todos os dias.
- Então quer dizer que você não escova todos os dias ?- Repreendo-o
- Escovo, só que às vezes eu esqueço, mas depois eu lembro.

Ele tinha só tinha 11 anos e 4 meses mas as táticas de chantagem de irmã mais velha eram avançadas pra idade dele.

- Proposta baixa.- desdenho mexendo a cenoura e os outros legumes na panela.
- Eu faço a capa do seu trabalho de ciências.
- Fechado.
- Isso !- ele comemora a vitória. - Vou pesquisar umas capas legais.
- Você tá ficando boa nisso, daqui a pouco ele lava suas roupas- Meu pai diz e sei que no fundo ele está orgulhoso de mim.
- Eu iria levar ele de qualquer forma.
- Eu sei querida, eu sei. - ele dá dois tapinhas na minha costa e pega uma cenoura da panela.

Depois de limpar a casa inteira e separar as roupas sujas do Diego subo e me deito um pouco. Algumas nuvens carregadas estão a mostra, minha janela grande me permite o privilégio de vê-las.

Sinto a necessidade de vê-lo.

📲 Disco em seu contato.
Ele: "Boa tarde."
Deito na cama e me concentro naquela voz. Ele já sabia que era eu.
Eu: "o q tá fazendo?"
Ele: "pensando em vc enquanto corto as unhas do pé."
Eu: " que romântico"
Ele ri, sua risada é levemente abafada pelo telefone.
Eu: " queria te ver."
Ele: " Eu também queria, vc não faz ideia do quanto."
Fico em silêncio.
Ele: " oq vc vai fazer amanhã ?"
Eu: " depende. Q horas ?"
Ele: " de tarde."
Eu: " Vou levar meu irmão na feira de artes na praça"
Ele: " posso ir com vcs? Seu irmão e eu somos amigos."
Eu: " Ah claro uma grande amizade"
Ele: "tá com inveja ?"
Eu: " não, eu não quero ser sua amiga"
Ele: " eu nunca disse que queria apenas isso."

Dou gritinhos por dentro.

Eu: " a gente se encontra lá às 17:00, pode ser ?"
Ele: " Okay. Podemos ir fazer algo depois? Seu irmão vai com a gente."
Eu: "tudo bem."
Ele: " preciso fazer umas coisas agora. Te vejo amanhã princesa ;)"

Que clichê, penso comigo mesma. Na mesma hora imagino outras um milhão de coisas que poderíamos fazer juntos, eu, ele e meu irmão, talvez até meu pai qualquer dia. Will   tinha algo que me cativava e ao mesmo tempo me impressionava, talvez por ser o homem mais velho que eu havia beijado, sua maturidade, sua tranquilidade, seu jeito jovem e ao mesmo tempo tão adulto me dava vontade de passar horas na cama imaginando um futuro com ele. Ele era tão singular e sem igual, e seu interesse por mim me impressionou. Mas eu ainda não sabia quais eram as intenções dele comigo e por mais que meu coração dissesse " vá e viva" minha mente dizia " vá com calma com essa merda!"

O resto do dia passou muito devagar, talvez pela minha ansiedade para o dia seguinte. São quase oito horas, vou até a casa do Guto.

Sua avó abre a porta.
- Oi tia boa noite.
- Oi filha, Gustavo tá no quarto. Vai lá.
- Oi seu Dedé boa noite- o avô do Guto estava organizando as cartas de baralho na mesa da cozinha.
- Boa noite, cadê o João ?
- Papai está em casa organizando uns relatórios do trabalho.
- Senta aí vamos jogar uma partida.
- Dedé não vai alugar a menina, não senta não filha se não daqui a pouco ele rouba teu dinheiro apostando.
- Depois a gente joga. - vou até o quarto do Guto.

- Entra .- ele diz após eu dar dois toques na porta.
- Deita aqui- Ele está vendo algo na tv, a luz está apagada e ele está de óculos.
- Faz tempo que você não usava esse óculos né- tiro o chinelo e deito do lado dele.
- Só uso pra assistir TV. Tá fazendo o que de bom ?

Está frio e me cubro com o lençol também, ponho a mão no rosto do Guto e ele começa a morder as pontas dos meus dedos, ele sempre faz isso quando estamos vendo algum filme. É uma mania.

- Estou no tédio. O seu avô quase me convence a jogar baralho com ele agorinha.
- Ei não joga não, ele é péssimo, engana todo mundo. Outro dia perdi foi duzentos reais só de uma vez pro velho.
- Meu Deus teu avô é um ícone, imagina se ele jogasse pôquer.
- Deus livre!
Rimos.
- Está assistindo o que ?
- É um documentário sobre as casas mais caras do mundo.
Olho pra ele.
- Você também tá no tédio né.
Ele balança a cabeça em afirmação com exagero.
Ele parou de morder meus dedos.
Assistimos mais dois documentários depois desse e liguei pro meu pai avisando que dormiria aqui.
Guto dormiu no final do segundo documentário, desliguei a tv e deixei a escuridão do quarto guiar meu sono.

Acordo com a voz da tia Joana gritando alguma coisa pro seu Dedé do quintal. Privilégios de morar com gente velha. Sinto falta dos meus avós, preciso visitá-los. Dona Joana e seu Dedé são meus avós do coração. Levanto da cama e ouço vozes da cozinha. Penteio o cabelo e passo  desodorante. O quarto do Guto era bem mobiliado, cama de casal, tv, guarda roupa, escrivaninha e algumas prateleiras, tudo preto e branco. Ele gostava dos tons de cores distintos. O tapete macio que está na beira da cama eu quem dei. Amarro o cabelo em um coque e me dirijo a cozinha.

Para minha surpresa Will está lá.

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