CAPÍTULO 20: " Lista de presença "

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Corro para o banheiro.Ninguém aqui graças a Deus. Encaro meu reflexo no espelho por alguns segundos.

Meu professor ?
O que isso significava ?
Ainda poderíamos ficar juntos ?
E por que ele me tratou tão indiferente ?
Será que na escola teríamos que fingir que não tínhamos nenhuma relação a não ser aluna e professor ?

Sinto outra pontada no estômago enquanto as perguntas repassam na minha cabeça.Lavo meu rosto rapidamente. Tomo fôlego, crio coragem e vou pra sala. Já faz 15 minutos que o primeiro tempo começou. Pego meu horário novamente, minha primeira aula de educação física pós- férias seria na sala.

Dou duas leves batidas na porta.

Will me olha rapidamente e desvia o olhar para qualquer outro canto.

- Pode entrar. - ele diz, olhando paro relógio.

Sou recebida com alguns "oi" e "Saudades de você" dos meus amigos. Sento-me na terceira cadeira da fileira do canto.

- Bom como eu estava dizendo, eu sou o professor William e vou assumir a disciplina de educação física com vocês até o final do ano já que o antigo professor entrou de licença. - Eu nunca tinha o imaginado assim. Agora na frente da turma toda vejo um lado do Will que eu não conhecia: o Will sério e  profissional.- Nossas aulas serão alternadas aqui e na quadra de esportes, também vamos ter atividades teóricas, práticas e extra classe. Alguma pergunta ?

Ele não olhou pra mim em nenhum momento depois que eu entrei na sala, diferente de mim que não consigo parar de ver esse novo Will na minha frente, na frente da sala inteira aliás.

- Professor, vamos ter os jogos escolares esse ano ?
- Sim eu estou trabalhando com a direção nisso, não se preocupem, vocês vão jogar bola.

Começo a roer minha unha do polegar. Estar na sala de aula nunca havia sido tão desconfortável. Eu só queria ir até ele e beija-lo da melhor maneira possível.

- Vamos começar com um questionário, preciso testar o conhecimento de vocês em relação aos esportes.
- Prova ? Mas já ?- alguém resmunga no fim da sala.
- Sim e vale dois pontos então caprichem. É a primeira nota de vocês do mês.

Passamos os próximos 15 minutos preenchendo o questionário de 5 páginas. Um exagero sendo que se tratava de educação física. Deveríamos estar na quadra.

A cada pergunta olho pra ele, que me ignora completamente. Será que ele se lembra que ontem a tarde a única pessoa que tinha toda atenção dele era eu ?

Ele morde levemente a caneta enquanto escreve algo em um caderno de capa preta.

Sinto falta daqueles lábios quentes nos meus. Ele fica tão lindo assim, sério e profissional.

Suspiro levemente e tento ignorar meus pensamentos.

- Não esqueçam de assinar a lista de presença quando saírem. O professor de biologia pediu pra vocês irem direto para o laboratório.

Eu deixo pra assinar a lista por último.

Preciso falar com ele.

Todos saem da sala deixando apenas nós dois e um silêncio ensurdecedor.

Estou de pé, em frente sua mesa.

- Aqui não. - Ele diz, organizando os questionários e colocando-os na bolsa.

Não digo nada, assino meu nome e saio deixando-o.

Na hora do intervalo busco o Diego pra lanchar. Não consegui me concentrar muito na aula de biologia. A ansiedade já tinha me feito roer as unhas da mão direita inteira.

-o que você tem ? - Diego diz, colocando ketchup no pastel até derramar pelas bordas.
- Nada.
- você nem brigou porque tô comendo muito ketchup.
Olho para ele com carinho.
-Já chega inclusive.- tomo o ketchup de sua mão.

Procuro Will pelo pátio, olho perto da cantina. Nada.

Eu não sabia o que iria acontecer, não sabia o que esperar, não sabia quando poderíamos conversar, a falta de controle da situação estava me matando por dentro.

O sexto toque é o meu. Arrumo minhas coisas na bolsa. Pego irmão. Meu pai está esperando lá fora. Não vejo Will nem o seu carro.

Chegamos em casa,  mal tiro os sapatos meu telefone vibra.

📩Will
" Você pode por favor aparecer na porta ?"

Calço minha havaianas.
- PAI JA VOLTO. - grito antes de sair.

Entro no carro parado na minha porta. Ele dirige em silêncio até chegar perto de uma lojinha de roupas de bebê três ruas depois da minha. Ele para o carro.

Estou olhando para o poste na nossa frente.

- Day...

Continuo olhando para o poste.

- Eu não sabia que eu seria seu professor, eu não li a lista com o nome dos alunos. Nunca nem passou pela minha cabeça que você estudava aonde eu iria trabalhar.

- Eu entendo. - Digo. Eu realmente entendia, a culpa não era dele.

- Day olha pra mim.

Viro- me pra ele.

- Meu pai morreu há dois anos, minha mãe se virou pra me ajudar a terminar a faculdade. Nossos parentes todos moram no Sul. Aqui somos só eu e ela, ela depende de mim agora. Depois que meu pai morreu a gente conseguiu viver um tempo com o dinheiro que ela tinha guardado, mas minha mãe ficou doente, gastamos muito com tratamentos, hoje em dia ela vive melhor, mas ainda toma muitos remédios e precisa de muitos cuidados... Ela depende de mim, você entende ?

Faço que sim com a cabeça.

- Conseguir esse emprego na sua escola foi uma sorte gigante, eu fui o único da área que assumi a disciplina. Estou dando aula pra 3 turmas pela tarde e duas pela manhã. Eu fiquei daquele jeito por ver você lá porque você é importante pra mim, mas esse emprego também. Me desculpe te tratar daquela forma, é estranho pra mim também mas no contrato que eu assinei tinha bem claro que eu não poderia ter nenhum tipo de relacionamento com as alunas a não ser de de professor para com o aluno.

Sinto o peso de duas palavras.

- Não podemos fazer isso.

Eu não estava pronta para ouvir aquilo.

- Não podemos ? Will eles não precisam saber. Eu trato você como professor e você me trata como aluna, na sala, fora de lá podemos viver o que a gente quiser.
- Não é tão simples assim...
- Por favor vamos tornar simples então- digo me aproximando dele. Ponho a mão em sua nuca. Ele fecha os olhos.
- Dayane eu não posso correr o risco de perder meu emprego, nem por você.

As lágrimas brotam tão facilmente em meus olhos.

- Vamos dar um jeito.- digo dando um leve beijinho em sua boca.
- Por favor não seja egoísta.
- Egoísta ? Eu só quero ficar com você Will. Lembra de ontem ? Podemos viver aquele momento tantas outras vezes.
Ele tira minha mão do seu rosto.
- Você está tornando tudo mais complicado.
- Eu gosto de você. - digo, agora estamos olhando nos olhos um do outro. É a hora de deixar o meu coração falar. - Gosto de você mais do que eu deveria.

- Dayane você não tem noção do quanto eu gosto de você e quero estar com você também.

Seguro a sua mão mas ele a afasta.

- Eu sinto muito Day.

O encaro pela última vez. Sinto uma súbita raiva misturada com um milhão de outras coisas subindo por cada centímetro do meu corpo.

- Eu também. - Saio do carro e bato a porta.

- Espera aí, eu te levo em casa- ele sai também.

- Não. Eu vou sozinha.
- Day por favor entra no carro.
- Eu preciso de um tempo Will. Vá pra casa.

Ele me olha por mais alguns segundos pra ter certeza que eu não mudaria de ideia. Sigo a rua sem olhar para trás.

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