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| T O M Á S |

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| T O M Á S |

O choro da Joana ainda ecoava na minha mente. Era como um pesadelo horrível, sempre que fechava os olhos, lá estava o seu rosto, preenchido pela dor, pelas lágrimas. Tudo mentira.

Eu não conseguia entender porque ela fizera tudo aquilo, porque ela me traíra.

Pensar no seu sorriso doía, cortava o meu coração em enormes fendas, e deixava-o a sangrar, a morrer aos poucos. Pensar na sua voz era como se um precipício se abrisse sobre os meus pés, fazendo-me cair, num tombo sem fim.

Tudo doía quando pensava na Joana. O meu corpo era preenchido por uma raiva sem fim, que posteriormente era aplacada pela morbidez de não a poder ter perto.

Mas doía, como doía!

- Mano, eu queria as historinhas da Jana – o João choramingou sonolento.

Forcei um sorriso, tão mórbido que tive medo de assustar o pequeno. Já tinha passado uma semana desde que ela saíra das nossas vidas, uma semana desde que não lhe púnhamos a vista em cima, e todo esse tempo trazia saudades.

Para os meus irmãos, ainda mais. Eles habituaram-se demasiado depressa à Joana e à sua permanente boa-disposição. A sua presença constante, que nos alegrava e punha ordem à casa, foi substituída pela ausência. E por mais que eu quisesse, não lhes conseguia simplesmente dizer que ela não ia voltar.

Magoava profundamente verbalisar essa ideia: ela fora para nunca mais, porque uma traição destas, é impossível de perdoar.

- Eu sei, - respondi-lhe, também queria. Queria as histórias, os toques, os sorrisos, os beijos. Queria que eles tivessem sido apenas meus – mas a Jana não está. Vais ter de ouvir as minhas histórias.

Ele fez beicinho, mas rendeu-se à minha voz que lia uma das suas histórias infantis. Quando reparei que ele dormia, aconcheguei o João aos cobertores e depositei-lhe um beijo na testa, para depois sair do quarto, deixando a porta entreaberta.

Fui ter com a Milena. A minha irmã estava estendida sobre a cama, enquanto encarava o teto branco do seu quarto.

- Quando a Joana vai voltar? – inquiriu, sem mover a cabeça. – Porque é que ela não vai voltar? – voltou a perguntar, retirando uma resposta do meu silêncio.

Sentei-me na cadeira que existia naquele quarto e pus as mãos nos bolsos. Parecia uma criança inofensiva, mais pequena que qualquer outra pessoa naquela casa. Sentia-me vulnerável, a ponto de me encolher e chorar. Naquele momento, a Milena parecia mil vezes mais adulta do que eu.

- Eu não sei o que aconteceu, Tom – a pequena sentou-se na beirada da cama e olhou-me fervosamente, na ânsia para que eu a ouvisse – mas ela ama-te. Sabes, era impossível ela não o fazer, sabes porquê? Porque ela ficou. Ficou sempre, Tommy, sempre! Diz-me quem mais ficou? NINGUÉM! E ela estava sempre aqui, contava historinhas ao João, fazia-te carinho e ajudava-me com os trabalhos da escola.

[Concluída] Acasos da vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora