"Lately, all I know is you're running through my mind
I know it hurts"| J O A N A |
Tudo estava numa completa confusão. A minha cabeça dava volta e voltas, embrenhava-se nos próprios pensamentos e voltava a fazer curvas sinuosas.
O ar estava tão pesado que eu sentia que ele me poderia engolir a qualquer momento.
A minha mãe, por sua vez, parecia um raio de sol, de tão radiante que estava com a minha gravidez. Sempre que ela falava do seu neto que estava por vir, a única coisa que me apetecia era afundar no meu próprio buraco negro.
Na maior parte das vezes, eu simplesmente a deixava falar, até não aguentar mais e pedir licença, ia para o meu quarto, onde me ditava na minha cama e chorava. Chorava por as coisas estarem naquela terrível merda. Chorava por estar a enganar todos, chorava por me estar a enganar, por me tentar convencer que aquilo era certo.
Aquele era o maior erro da minha vida e o maior que eu algum dia poderia cometer. Não era justo para ninguém, o que estava a fazer – aquela sucessão de mentiras, que apenas aumentavam, como uma bola de neve a descer uma encosta íngreme.
Aquilo estava a levar à minha lenta destruição, porque eu simplesmente não sabia lidar com o que me acontecera. Não conseguia lidar com o facto de o Tomás me ter mentido, me ter abandonado, não ter confiado em mim.
- Não tens uma ligeira desconfiança do porquê? – a Vanessa inquiriu.
Neguei com a cabeça, enquanto soltava um suspiro. Falávamos do Diogo e do facto de ele ter aceite o meu pedido.
- Se calhar ele quer ter mesmo alguma coisa contigo.
- Vanessa, não viajes! Ele está irremediavelmente apaixonado pela minha irmã e, além disso, eu não quero nada com ele!
- Ele pode ser daqueles que gosta mais do que de uma mulher... - ela riu com a própria piada. – Era engraçado ele querer um harém com as irmãs Matias, admite.
- Não, não era.
Ela deu de ombros, enquanto introduzia outro tema para uma nova conversa. Ela segredara-me que se sentia nervosa sempre que se aproximava de um hospital. Era como ver a morte do seu pai, novamente e novamente. Então a Iara Vanessa falava. Falava sem pensar para que as lembranças não a atormentassem.
Logo fui chamada. O meu estômago foi esmagado pelo frio que o preencheu. As minhas pernas tremiam, nervosas demais.
Quando a médica começou com a ecografia, eu só conseguia pensar no facto de ser a Iara ao meu lado e não o Tomás. Não que eu estivesse a reclamar. Nada disso. Na verdade, estava-lhe extremamente agradecida por me estar a acompanhar. Eu tinha a leve impressão que não conseguiria fazer a ecografia do meu bebé, sozinha.
A sua mão agarrou na minha, transmitindo-me força. Como se soubesse que eu sentia a falta dele. Como se soubesse que eu o queria ao meu lado. Como se soubesse que eu me culpava, naquele preciso momento, por lhe ter mentido, lhe ter ocultado que na verdade, existia bebé.
- Aqui – a médica apontou para o monitor – eles estão aqui.
Eles...
Olhei para a Vanessa, para ter a certeza de que eu ouvira mesmo aquilo. O seu rosto espelhava a minha reação: os seus olhos estavam esbulhados de espanto e lentamente levou a sua mão livre para tampar a boca aberta.
E quando ouvimos os seus corações bater, mais frenéticos que o meu, ela caiu num choro incontrolável. Parecia um choro sofrido, e isso atravessou o meu coração em dois.
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[Concluída] Acasos da vida
Romance+18||Contém conteúdo considerado adulto. Personagens e acontecimentos são inteiramente da minha responsabilidade. Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência. ***** [A história foi postada, inicialmente, com o título "Meu queri...