.25.

2.1K 248 37
                                    


  "Lately, all I know is you're running through my mind
I know it hurts" 
 

| J O A N A |

Tudo estava numa completa confusão. A minha cabeça dava volta e voltas, embrenhava-se nos próprios pensamentos e voltava a fazer curvas sinuosas.

O ar estava tão pesado que eu sentia que ele me poderia engolir a qualquer momento.

A minha mãe, por sua vez, parecia um raio de sol, de tão radiante que estava com a minha gravidez. Sempre que ela falava do seu neto que estava por vir, a única coisa que me apetecia era afundar no meu próprio buraco negro.

Na maior parte das vezes, eu simplesmente a deixava falar, até não aguentar mais e pedir licença, ia para o meu quarto, onde me ditava na minha cama e chorava. Chorava por as coisas estarem naquela terrível merda. Chorava por estar a enganar todos, chorava por me estar a enganar, por me tentar convencer que aquilo era certo.

Aquele era o maior erro da minha vida e o maior que eu algum dia poderia cometer. Não era justo para ninguém, o que estava a fazer – aquela sucessão de mentiras, que apenas aumentavam, como uma bola de neve a descer uma encosta íngreme.

Aquilo estava a levar à minha lenta destruição, porque eu simplesmente não sabia lidar com o que me acontecera. Não conseguia lidar com o facto de o Tomás me ter mentido, me ter abandonado, não ter confiado em mim.

- Não tens uma ligeira desconfiança do porquê? – a Vanessa inquiriu.

Neguei com a cabeça, enquanto soltava um suspiro. Falávamos do Diogo e do facto de ele ter aceite o meu pedido.

- Se calhar ele quer ter mesmo alguma coisa contigo.

- Vanessa, não viajes! Ele está irremediavelmente apaixonado pela minha irmã e, além disso, eu não quero nada com ele!

- Ele pode ser daqueles que gosta mais do que de uma mulher... - ela riu com a própria piada. – Era engraçado ele querer um harém com as irmãs Matias, admite.

- Não, não era.

Ela deu de ombros, enquanto introduzia outro tema para uma nova conversa. Ela segredara-me que se sentia nervosa sempre que se aproximava de um hospital. Era como ver a morte do seu pai, novamente e novamente. Então a Iara Vanessa falava. Falava sem pensar para que as lembranças não a atormentassem.

Logo fui chamada. O meu estômago foi esmagado pelo frio que o preencheu. As minhas pernas tremiam, nervosas demais.

Quando a médica começou com a ecografia, eu só conseguia pensar no facto de ser a Iara ao meu lado e não o Tomás. Não que eu estivesse a reclamar. Nada disso. Na verdade, estava-lhe extremamente agradecida por me estar a acompanhar. Eu tinha a leve impressão que não conseguiria fazer a ecografia do meu bebé, sozinha.

A sua mão agarrou na minha, transmitindo-me força. Como se soubesse que eu sentia a falta dele. Como se soubesse que eu o queria ao meu lado. Como se soubesse que eu me culpava, naquele preciso momento, por lhe ter mentido, lhe ter ocultado que na verdade, existia bebé.

- Aqui – a médica apontou para o monitor – eles estão aqui.

Eles...

Olhei para a Vanessa, para ter a certeza de que eu ouvira mesmo aquilo. O seu rosto espelhava a minha reação: os seus olhos estavam esbulhados de espanto e lentamente levou a sua mão livre para tampar a boca aberta.

E quando ouvimos os seus corações bater, mais frenéticos que o meu, ela caiu num choro incontrolável. Parecia um choro sofrido, e isso atravessou o meu coração em dois.

[Concluída] Acasos da vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora