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| J O A N A |

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| J O A N A |

O apartamento estava silencioso. Eram duas da manhã e eu encontrava-me no sofá da pequena sala, enquanto a televisão permanecia apagada e a janela entreaberta.

Se eu olhasse através do vidro sujo, veria as luzes dos candeeiros da rua acesas, dando uma tonalidade laranja à noite iluminada pelas estrelas. A brisa fria entrava pela nesga aberta, arrepiando-me a pele e enregelando-me os dedos.

O silêncio pesava sobre mim, tornando os meus pensamentos demasiado audíveis. Tornando o ambiente demasiado fúnebre. Tornando a minha dor demasiado palpável.

Sentia que me podia encolher e desaparecer para sempre, porque era isso que eu queria fazer. Pensava no bebé que, intrusamente, estava na minha barriga e tinha pena dele e só me apetecia arrancá-lo para que não sentisse o meu sofrimento.

Ele não merecia senti-lo. Ele não merecia viver as consequências de atos que não lhe pertenciam, que nada tinham a ver com ele.

As lágrimas foram inevitáveis. Agarrada à minha barriga, chorei dolorosamente, tentando ao máximo não importunar o silêncio.

Nada daquilo era justo. Quando eu mais precisava, ele duvidou de mim, abandonou-me... abandonou-nos. E essa dor era impossível de ser aplacada. Sentia que todo o amor que lhe dera não tinha sido retribuído, que ele não me amava, nunca me amara. E isso doía, doía como o caralho!

O Tomás despedaçou-me sem qualquer dó, deixando-me à minha sorte, como se eu fosse algo descartável. A minha alma encontrava-se totalmente despedaçada, sem rumo.

Caminhei lentamente para o meu quarto. Os meus pés arrastavam-se pelos ladrilhos do chão frio. As minhas pernas estavam pesadas e entorpecidas. Aninhei-me nos cobertores da pequena cama e o por mais que quisesse, não conseguia dormir.

Eu precisava de proteger o meu bebé. Não podia deixar que ele nascesse e achasse que tinha sido abandonado, seria uma enorme dor para uma criança, crescer ser pai.

Sei que podia obrigar o Tomás a assumir as suas responsabilidades, mas sinceramente, nunca mais o queria ver na vida. Nunca o conseguiria encarar, sabendo que ele me usara e que aquele bebé na minha barriga, apenas tinha sido uma consequência dos seus atos.

O meu bebé não merecia ter um pai como ele. Eu não queria que o Tomás fosse o pai do meu bebé! Não queria mais vê-lo!

Doía tanto saber que tinha sido enganada, que tinha vivido numa ilusão aquele tempo todo! Que aquela criança não tinha sido feita com amor, não das duas partes...

De tanto chorar, acabei por adormecer de cansaço.

***

Acordei sobressaltada, no dia seguinte. O meu telemóvel tocava estridentemente, em cima da mesinha de cabeceira.

[Concluída] Acasos da vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora