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  "Fill my veins with poison

Poison, filled with poison"


| T O M Á S |

Vi a Joana entrar em casa e ser abraçada pelas crianças, que lhe beijavam a face, felizes por a voltarem a ver. Talvez eles tivessem medo de que ela voltasse a ir embora, eu tinha medo de que isso acontecesse...

As suas feições transpareciam um brilho diferente, uma felicidade só dela, como se estivesse orgulhosa de si mesma.

- Olá! – saudei-a.

Ela sorriu e caminhou até mim. Parecia um felino, prestes a atacar. E eu era a sua presa. Gostei daquilo, da forma como ela me olhava, como se só eu existisse, como se só eu importasse no momento.

Os seus braços alcançaram-me, rodeando o meu pescoço. Ela roçou o seu nariz no meu, ainda ostentando aquele brilho genuíno e o sorriso só dela. O meu peito aqueceu, podendo senti-la tão perto de mim, poder sentir o seu cheiro impregnar em cada poro que eu possuía.

- Olá.

E enquanto falava, os seus lábios aproximaram-se dos meus, onde depositou um beijo, inicialmente cálido. Tentei resistir, tentei impor-me um limite, tentei parar, mas logo a sua língua já dançava com a minha. Baixei a guarda rapidamente, entregando-me ao beijo, cujo eu sentia tanta falta!

A Joana soltou um suspiro, com os seus lábios presos nos meus. As suas unhas arranham a minha cabeça e o seu peito estava totalmente espremido no meu, como se quisesse se fundir a mim.

- Nheca! – uma vozinha infantil foi ouvida, desfazendo o nosso beijo num sorriso de lábios ainda juntos. – Beijinhos na boca!

A Joana gargalhou, virando-se para o meu irmão.

- Anda cá, pestinha, que eu já te encho de beijinhos! – ela disse caminhando na direção dele, cujo deu um gritinho e correu para a sala.

Consegui ouvir a sua risada infantil, imaginando as mãos finas da Joana, que com certeza, lhe faziam cócegas. Sorri para o nada, de peito cheio.

***

- Compraste – eu tentei suar indiferente, enquanto arrumava a cozinha.

- O quê?

- O vibrador.

A Joana deu um risinho suspeito, antes de responder.

- Sim. Eu disse que o ia fazer – fez uma pausa. – Mas eu preferia não o usar. – Levantou-se da cadeira e caminhou até mim. – Preferia algo mais real – sussurrou ao meu ouvido.

Afastei-me do seu corpo, que me tentava.

- Tomás, porra! Dá-me ao menos uma explicação para não queres fazer sexo comigo!

A sua postura mudou radicalmente de descontraída para zangada. Ela exigia-me uma resposta, que para mim parecia simples.

- É por causa de eu te ter mentido, é pouca disso, não é?

- Não! Nós já falamos sobre isso e nos perdoamos, mutuamente – eu respondi-lhe

- Eu tou gorda é isso? Eu já engordei e tu já não me achas atraente? Eu só tou no iniciozinho da gravidez, Tomás! Não acredito que tenha engordado assim tanto... - ela começou a choramingar.

- Joana, para com merdas! Nem que engordasses cem quilos, continuarias a ser a mulher mais atraente do mundo! A mais linda, a que eu amo.

- Então é porquê?

[Concluída] Acasos da vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora