| J O A N A |
Novamente, voltei a acordar com a entrada do Tomás no quarto. Naquele dia, não fiquei na cama nem esperei pelo seu beijo na minha testa.
Levantei-me e fui até à casa-de-banho, onde comecei por fazer xixi e depois tomei banho. Quando voltei ao quarto, o Tomás já lá não estava. Vesti-me e fui para a cozinha.
- Bom dia, Lurdes – saudei a senhora que punha a comida em cima da mesa.
- Bom dia, Joana – ela sorriu em resposta.
- Posso saber onde vais? – o Tomás perguntou, levando a caneca aos lábios.
- A uma entrevista de emprego – disse orgulhos de mim mesma.
A Lurdes tinha-me ligado, no dia anterior, dizendo que a sua sobrinha lhe tinha dito que eu vinha mesmo a calhar: uma das rececionistas tinha entrado em Licença de Maternidade, o que fazia com que precisassem de uma substituta durante os próximos quatro meses. Era o ideal para mim – um trabalho leve sem ser preciso muita experiência (porque convenhamos, a minha experiência no mercado de trabalho era nula).
- Joana – ele começou por falar, lentamente – tu não vais a lado nenhum! Precisas de descansar, sabes perfeitamente disso.
A essa altura, a Lurdes saiu da cozinha, alegando que iria ajudar as crianças a vestirem-se.
- Tomás – usei o mesmo tom que ele – eu estou ótima! E se pensas que vou ficar os próximos sete meses trancafiada nesta casa, podes tirar o cavalinho da chuva!
- Sabes que não podes fazer esforço.
- Vou ser rececionista. Achas que ser rececionista requer algum esforço físico? És o único que me trata como uma peça de cristal, percebes isso? Eu estou ótima.
Eu estava uma pilha de nervos e super irritadiça.
- Eu não quero que vás. Não precisas de trabalhar.
- Ainda bem que não mandas em mim e que eu não te faço todas as vontades, né, amor? – Ele lançou-me um olhar atravessado, com as sobrancelhas cerradas. – Vou aproveitar para passar numa sex shop – continuei a falar, como se não fosse nada de mais e todos os dias fosse a uma sex shop.
Na verdade, nunca tinha entrado numa, mas havia uma primeira vez para tudo.
- O que vais fazer a esse caralho? – comecei a perceber a impaciência do Tomás, e devo dizer que achei super engraçado.
- Comprar um amiguinho. – Ele lançou-me um olhar incompreensível, o que me fez explicar melhor. – Um consolo, Tomás! Um vibrador, sei lá, algo assim!
- Para que é que queres um vibrador, Joana? – ele passou as mãos pelos cabelos, nervoso pelo rumo da conversa.
- Tu podes contentar-te com as mãos. Eu não me contento. Preciso de um vibrador para ele fazer o tu não fazes!
Ele inspirou profundamente, soltando um grunhido.
- Mamãe feliz, bebé feliz – cantarolei enquanto comia uma torrada com compota de framboesa. – Bebés, neste caso.
Dei um sorriso gigante, enquanto o Tomás me olhava, sem palavras.
***
O Tomás deixou-me em frente a um grande edifício, enquanto eu começava a suar de nervosismo. Dei-lhe um beijo na bochecha e encaminhei-me para a entrada. Faltavam dez minutos para as nove, hora marcada para a minha "entrevista".
VOCÊ ESTÁ LENDO
[Concluída] Acasos da vida
Romansa+18||Contém conteúdo considerado adulto. Personagens e acontecimentos são inteiramente da minha responsabilidade. Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência. ***** [A história foi postada, inicialmente, com o título "Meu queri...