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| J O A N A | 

Ouvi barulhos pelo quarto, o que me fez despertar.

Remexi-me na cama, de forma a ficar de frente para o intruso, deparando-me com o Tomás. Não estava admirada de o ver ali, isto já se tinha tornado rotina.

A suas costas nuas estavam viradas para mim, conseguindo visionar cada músculo se tencionar com os movimentos que fazia. Envolta à sua cintura, uma toalha branca estava presa, impedindo-me de ter uma visão completa do paraíso – algo que eu já não via há cerca de dois meses.

- Tomás – chamei para que ele me olhasse.

- Shii... volta a dormir!

Ele veio até mim, com a roupa na mão e depositou um beijo na minha testa, deixando-me extremamente frustrada.

Desde o meu rapto, que o Tomás me vinha a tratar como uma criança. Eu tinha aceite vir para casa dele, achei justo fazê-lo. Depois de contar tudo à minha mãe, por tudo em pratos limpos, parti com o Tomás, perante uma choradeira desenfreada da minha progenitora – que, segundo ela, lhe estavam a levar a menina.

Até aí tudo bem. O pior, foi quando ele anunciou que ia dormir para os sofá.

- Tomás, – eu argumentei – deixa-te de ser parvo, pelo amor de Deus!

Mas não valeu de nada. Ele dizia que não me queria magoar, durante a noite. A mim, só restou inspirar fundo e conter a vontade de lhe tacar com o sapato, dizendo comigo mesma que era só até o ferimento que a bala causou cicatrizar.

Custou-me imenso viver debaixo da casa do Tomás, mas ter de lidar com o seu afastamento. Ele começou a tratar-me como uma peça de cristal, que a qualquer toque, poderia partir em milhares de pedaços. Por isso, deixou-se de toques. Os seus beijos, cingiam-se à minha testa, e, vez ou outra, lá conseguia um na minha bochecha.

Aquilo estava a matar-me! Já tinha passado quase um mês, e o meu ferimento já estava a cicatrizar, ostentando uma crosta grossa e nem doía mais. Mas continuava sem ter os toques do Tomás, ele continuava a dormir no sofá e a tratar-me como uma estranha na própria casa.

Agarrei-lhe no braço, para que não se afastasse.

- Quando é que vais parar com isso? – eu inquiri, quase a chorar. – Para de me tratar assim! Como se eu não passasse de uma coisa frágil e quebradiça! Eu preciso de ti, Tomás... - supliquei. Eu precisava de um beijo, só um beijo.

Ele afastou-se no último momento, saindo do quarto sem proferir mais nenhuma palavra. Tive vontade de gritar de frustração e de raiva. Estava farta desta situação!

Quando ele saiu, fui ajudar a Lurdes a preparar as crianças para irem para a escola. Com todos os acontecimentos recente, eu perdi demasiado tempo na faculdade, por isso congelei a minha matrícula por um ano. O que queria dizer que não tinha nada para fazer durante o dia inteiro.

Conversei com a Lurdes e cheguei à conclusão de que iria tentar encontrar um emprego, nem que fosse apenas por uns dois ou três meses. Eu precisava de ocupar o meu tempo livre, e fazia-me confusão ficar em casa do Tomás a viver inteiramente às suas custas.

A senhora, muito simpática, disse que poderia falar com a sua sobrinha, para ver se ela me poderia ajudar nesse quesito, arranjando-me emprego na mesma empresa onde ela trabalhava, talvez como secretária.

***

A Lurdes já tinha ido embora, e as crianças estavam entretidas: o João viam televisão e a Milena os trabalhos da escola, quando o Tomás chegou.

[Concluída] Acasos da vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora