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| J O A N A |

Entrei em casa, contemplando o silêncio mortal.

A Lurdes apareceu no corredor e caminhou até mim, envolvendo-me num abraço materno e reconfortante.

- Já soube o que se passou – ela chorou, enquanto me apertava. – Eu sinto muito, minha querida!

Assenti. Tudo em mim doía. O simples ato de respirar, parecia que alimentava a minha dor interior. Rachava o meu peito em fendas fundas e sinuosas.

Fui para o meu quarto, onde me deitei e tentei não sucumbir à dor. Senti a presença do Tomás atrás de mim. Os seus braços rodearam os meus ombros e as minhas lágrimas voltaram a escorrer com força total.

Virei-me de frente para ele e aninhei-me no seu peito.

- Dói muito, Tomás! – solucei. – Dói tanto! O nosso bebé morreu...

- Shiii... - ele beijou o topo da minha cabeça e balançou-me suavemente.

- A culpa foi minha, não foi? – continuei, enquanto chorava copiosamente. – A culpa foi minha! Ele morreu por minha culpa.

- Não! A culpa não foi tua! Não tens culpa, Joana. Olha para mim! – os meus olhos rolaram para os seus, também inchados. – A culpa não foi tua!

Tentei descansar, segundo indicações do Tomás, mas os meus olhos recusavam-se a fechar. O meu telemóvel tocou, fazendo o meu braço esticar na sua direção, lentamente.

- Sim?

- Joana! Oh, Joana! Daqui é a Jéssica... eu já soube o que se passou, a tia Lurdes contou-me, e sinto muito, sinto mesmo – ela falou tudo seguido, sem me deixar qualquer brecha para lhe responder. – Tira o resto da semana, sim? Eu cá dou um jeito de pôr alguém na receção. Eu pensei, e tenho sido uma péssima pessoa contigo, quase nem te dou qualquer atenção, então passo por tua casa amanhã. Posso passar aí?

- Obrigada – agradeci, totalmente sem jeito. – E claro que podes passar por aqui.

A minha falta de entusiamo era notória. Qualquer poderia perceber, mesmo pelo tom da minha voz, que o meu estado de espírito estava de rastos. A única coisa que consegui fazer o resto do dia foi ficar deitada, enquanto os meus olhos repousavam num ponto fixo da parede, sem o contemplar propriamente. Dos meus olhos, as lágrimas escorriam silenciosamente.

Vez ou outra, lá enfiava alguma coisa pela goela abaixo, imposta pelo Tomás. Se dormi, não me lembro em que momento o fiz, se parei de chorar, muito menos.

Num momento de completo silêncio, a porta foi aberta sorrateiramente.

O Tomás tinha saído, em algum momento, para ir buscar as crianças à escola. Ele arrastava-se pelo espaço, cabisbaixo, desamparado.

Um corpinho esgueirou-se até à cama, onde levantou a coberta e juntou se juntou ao meu.

- O Tommy disse-me. Ele disse que eram dois e que um simplesmente tinha desaparecido. Ele disse que estavas triste, ele também está.

Rolei na cama e encarei os seus olhinhos brilhantes, cor de chocolate negro.

- Eu gostava que tivessem sido dois. Duas meninas, iguaizinhas, com os olhos do Tom – os seus lábios esboçaram um sorriso sonhador. – Mas não vão ser. E nem por isso vou deixar de estar feliz, sabes porquê? Porque ainda existe uma, aí dentro. E eu vou gostar muito e a ter comigo. E de te ter a ti também, Joana!

As palavras da Milena fizeram os meus olhos brotarem mais lágrimas. Mas aquelas eram diferentes. Eram menos dolorosas, mais suportáveis, menos sufocativas.

- Eu gosto muito de ti, Joana! Gosto mesmo! – aquelas frases percutiram no meu peito. – E eu sei que vais ser forte. Porque desta vez é mais fácil, porque o Tomás está contigo. E o João também, e eu também.

Os seus braços fininhos rodearam os meus ombros, enquanto eu a acolhia no meu peito.

- Eu também gosto muito de ti, pequenina.

***

O dia amanheceu. A cama era apenas ocupada por mim e eu senti falta que o Tomás me tivesse acordado com um abraço apertado.

O quarto foi invadido por um João saltitante, que carregava um girassol quase maior que ele. Atrás dele, o Tomás e a Milena entrar também.

- Uma florzinha para a Janinha – ele cantarolou, enquanto invadia a minha cama e beijava o meu rosto. – O mano disse que estavas tistrinha... - as suas pequenas pernas rodearam a minha cintura, sentando-se assim no meu colo, colocando a flor entre os nossos rostos. – Ele disse que ias gostar de um florzinha do João, mas é uma folorzona!

A sua gargalhada infantil invadiu os meus ouvidos, enquanto que o João entendia os braços ao ar. Acompanhei-o na gargalhada, deleitando-me com a sua felicidade.

- Nós roubamos a folorzona no vizinho. Mas não podes contar a ninguém – ele segredou. – O mano disse que é feio roubar e que a polícia pode vir buscar-nos. Porque quando roubamos, ficamos com algo que não é nosso – a sua seriedade era comovente. – Mas a Janinha estava tistrinha, então ele disse que podia ser só daquela vez.

Olhei para o Tomás, que deu de ombros, enquanto se sentava ao nosso lado. Finalmente, a criança estendeu o girassol na minha direção.

- Gostas? Tem um beijinho meu, da mana e do mano.

- É muito lindo, obrigada!

Ele deu um grande sorriso, abraçando-me apertadamente, ao ponto de enterrar a minha cabeça no seu peito. O Tomás também me abraçou, e logo de seguida sentia a Milena aproximar-se e nos abraçar também.

- A Janinha gosta muito de vocês – sussurrei.

- Nós também gostamos muito da Janinha – o Tomás disse de volta, enquanto depositava um beijo na minha cabeça. 

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Olá, minhas lindezas! ❤

Como se sentem?

Eu sei que já faz um tempinho que não posto. Mas as aulas começaram e eu preciso de organizar a minha vidinha.

Em relação ao capítulo: fiquei na dúvida se o postava ou não. Porém, como vos devia um capítulo, aqui o temos.

Espero que tenham gostado!

Não esqueçam de votar e comentaaaaaaar!!

Beijinhos. 😘

Vêmo-nos em breve!!

[Concluída] Acasos da vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora