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| J O A N A |

Decidi que havia chegado a altura de revelar a minha gravidez. Escolhi aquele dia por ser aquele em que supostamente eu e o Diogo iríamos acabar com tudo. Mas eu não podia acabar com as coisas.

Já tínhamos tido um jantar em que eu o apresentava como namorado, umas semanas após eu ter encontrado o Tomás. Esse jantar em questão, acabara terrivelmente mal:

Por algum motivo, a minha mãe achara uma boa ideia convidar o Vicente, ex-namorado da Paloma, ela guardava a esperança de um dia eles reatarem a relação. Porém, a minha irmã sempre nutriu um ódio especial por ele, após o rompimento do namoro e dizia, veementemente, que não queria mais nada com ele.

Quando ela o viu, simplesmente enlouqueceu. Chegou mesmo a dar-lhe uma bofetada, frisando que a única coisa que sentia por ele era nojo. Depois fugiu para casa da avó, que ficava a escassos minutos dali.

Naquele instante, senti que a minha mãe tinha ido longe demais, preferindo acudir por um qualquer ao invés da própria filha.

Sai de fininho, com o Diogo, deixando a minha mãe a chorar, dizendo que era uma má mãe. Ele queria ir atrás da Paloma.

- Ela deve ter ido para casa da avó, fica já ali – eu disse, apontando para a casa da minha avó. – Mas ela atá bem, tenho a certeza! Ela fica sempre bem...

Forcei um sorriso e pedi que me levasse a casa de uma amiga, neste caso, para casa da Vanessa.

Do Tomás, não voltei a ouvir notícia. E por mais que eu quisesse, isso não me deixava descansada.

Como o meu prazo com o Diogo acabaria naquele dia, era a minha última chance. Parecia doentio, e neste momento, revendo as coisas que fiz, eu diria que estava gravemente doente, louca, por fazer o que fiz.

Quando toda a gente se sentou no sofá, de frente para mim e para o Diogo, eu sentia-me terrível. O meu interior estava num estado lastimável, transformado em poeira e eu senti os tremores do impacto que seria se eu verbalizasse o que estava a pensar.

- Eu e o Diogo temos uma coisa muito importante para contar – comecei, agarrando na mão do Diogo e entrelaçando os meus dedos nos dele. Queria que aquela mão fosse a de outra pessoa, não queria o Diogo sentado ao meu lado, queria outra pessoa. Senti-me uma filha da puta, por não dizer o que o Diogo esperava que eu disse: – Eu estou grávida.

Só tive tempo de ver a Paloma se levantar e correr escadaria acima, enquanto os meus pais não esboçavam qualquer reação.

- Que caralho é esse, Joana? – o Diogo rugiu, levantando-se também do sofá, passando os dedos nervosamente pelo cabelo.

- Calam, amor – tentei fingir que as coisas entre nós ainda era as mesmas. Tentei fingir, novamente, e novamente, e novamente. Fingi tanto que acho que me perdi nas minhas mentiras.

- Amor é o cacete, porra! Que merda é essa?

- Vamos falar lá fora, Diogo – agarrei-lhe na manga do meu casaco e conduzi-o porta afora, não querendo que os meus pais ouvissem a nossa conversa.

- Vais lá dentro e vais desmentir essa merda, Joana! Estás a ouvir, porra? – o Diogo ordenou, chacoalhando-me pelo braço – Não achas que já chega de mentiras? Estás a fazer isto para quê?

- Não é uma mentira, Diogo – praticamente sussurrei.

- O caralho que não é! – a sua raiva era visível, pelo monte de xingamentos que ele dizia.

- Não é uma mentira, porra! – gritei para que ele me ouvisse de uma vez. – Eu estou grávida!

Uma lágrima solitária começou a escorrer pela minha face. Era a prova da minha destruição interior, mas rapidamente eu a limpei.

- Eu não queria que a Paloma ficasse chateada. Não era essa a minha intenção, não era mesmo! – a minha voz saiu em soluços, enquanto eu me tentava explicar. – Eu só quero que o meu bebé tenha uma vida saudável, que tenha um pai e não se sinta um... um...

Não consegui concluir a minha frase. Por mais que eu não quisesse, o meu choro era desenfreado e as lágrimas olhavam-me completamente o rosto.

- Por favor, Diogo, ajuda-me!

O Diogo ficou por momentos a olhar para o nada, apático. E eu temi que ele recusasse, que desse o veredicto que faltava: eu estava louca por lhe fazer esta proposta insana.

- Eu sei que sempre vais estar por perto, pelo menos por causa da Paloma, eu sei que vais. E... e eu só... tenho medo de não conseguir. Eu preciso de ti, por favor, Diogo! Preciso que não me abandones! Não é por mim, é por esta criança.

- Tudo bem – ele disse por fim, soltando um suspiro doloroso. – Eu aceito ser o pai dessa criança.

Temi que a minha mente me estivesse a pregar uma partida. Temi ter ouvido o que o Diogo não tinha dito. Quer dizer, o que o levaria a aceitar? Eu apenas lhe tinha feito mal, desde o primeiro dia que entrara na sua vida.

- Tu aceitas? – inquiriu cautelosa, mesmo demonstrando nas minhas feições a felicidade esperançosa de uma resposta positiva.

- Sim, eu aceito.

***

Apesar de ter ganho uma "batalha", com a resposta positiva do Diogo, eu não sentia que a tinha ganho na totalidade. O meu peito pesava de uma forma nada agradável e durante a noite, foi impossível adormecer.

Havia algo que me impedia de cair no mundo doa sonhos, talvez a consciência pesada...

Decidi que era propício ir beber água. Levantei-me da cama, devagarinho para não acordar ninguém e fui descendo as escadas, vendo um vulto sentado no sofá. Reconheci a Paloma envolta de escuridão.

- Paloma... – chamei aproximando-me dela.

Vi o seu pequeno corpo estremecer levemente. Provavelmente pelo susto de ser chamada na escuridão. Sentei-me ao seu lado e passei-lhe a mão pelo braço.

De todas as pessoas, a que mais saíra ferida no meio de todas estas mentiras, fora a Paloma. Ela, que era adepta da verdade e sempre arcava, de cabeça erguida, as consequências dos seus atos, estava devastada. A minha irmã simplesmente não merecia que eu a magoasse deste jeito.

A Paloma afastou-se do meu toque, deixando-me ainda com um sentimento pior, começando a chorar de seguida. Aquilo matava-me, saber que ela estava tão mal ao ponto de chorar na minha frente.

- Paloma, só me ouve, ok?! – eu tentei que ela ouvisse a verdade. Eu queria contar-lhe tudo, naquele momento, senti verdadeiramente que ela merecia isso.

Senti que eu merecia ouvir poucas e boas, após contar toda a verdade. Não esperava o seu apoio, mas ao menos ela saberia que o Diogo nunca havia sido meu.

Mas a minha irmã deu uma risada seca, encarando-me altiva.

- Não, Joana, tu é que me tens de ouvir! És assim tão miserável ao ponto de aceitar o que ele fez? Isso tudo é o quê? Medo de ficar sozinha? Necessidade de atenção ou inveja? Eu não me importo com as mentiras dele, mas tu devias importar! Ele traiu-te com a maior cara de pau e tu vais simplesmente ignorar isso? Vais simplesmente... – ela deu outra risada sarcástica – És nojenta, sabias? Miseravelmente nojenta! Realmente estão bem um para o outro.

Baixei o meu rosto, sabendo perfeitamente que eu merecera aquelas palavras e que metade delas eram verdadeiras. 

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Bem, aqui estou eu com mais uma capítulo!!

Espero que tenham gostado!

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Beijos!

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[Concluída] Acasos da vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora