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| J O A N A |

Senti o baloiçar do colchão e sem querer abrir os olhos, deduzi que o Tomás se levantara. Enrosquei-me ainda mais nos cobertores, preguiçosa demais para fazer menção de me levantar.

Se eu fizesse uma revisão a todo o meu percurso até então, veria que a Joana de outrora, já não existia mais. Aquela menina que cometera erros estrondosos, que afetara a todos à sua volta, desaparecera.

Não que esta nova Joana deixasse de cometer erros, ou de magoar as pessoas, apenas estava mais madura e conseguiria facilmente arcar com as consequências dos seus atos, sem ter de prejudicar ninguém.

Sentia-me uma nova pessoa, mais adulta, mais responsável. Sentia-me na obrigação de chegar o mais perto possível da perfeição. Não por mim, ou pelo Tomás, mas pelas – em breve – três crianças que estavam em meu encargo.

Eu queria ser uma mãe irrepreensível, por muito que eu não o conseguisse ser. Queria ter a minha bebé nos braços e sentir que a Milena e o João continuavam bem.

A minha filha deu um chute dentro da minha barriga e era tão bom poder senti-la!

Era como ter a certeza de que não a iria perder. Sempre que ela se movimentava, o meu peito aquecia-se de felicidade.

Eu sabia que a felicidade que sentia em nada poderia ser comparada se o Tomás não estivesse ao meu lado. Ele foi aquela peça-chave. Sem ele, eu não teria aguentado a dor da perda, não teria suportado o buraco que se formou no meu peito.

Sempre que me lembrava do bebé que não nasceria, eu sentia uma pontada demasiado violenta de dor e aquela lágrima escorria pela minha face. Era impossível não me sentir assim, após saber que nunca sentiria aquele bebé, que nunca o veria nem tocaria.

Mas eu ainda tinha a minha menina. E estava num ponto que nada me faria desistir da minha bebezinha.

Senti o Tomás inclinar-se sobre mim e um beijo foi depositado na minha testa.

- Tenho de ir trabalhar – ele murmurou.

Abri os olhos e estendi os braços ao ar, pedindo por um abraço. O Tomás atendeu ao meu pedido.

As minhas narinas foram inundadas pelo cheiro característico dele, assim que afundei o meu nariz no seu pescoço. Apertei-o no meu peito, com o máximo de força que consegui.

- Eu também queria muito ficar aqui contigo, meu amor. Mas preciso mesmo de ir.

Assenti, afastando os nossos peitos e juntando os nossos lábios.

- Amo-te – disse ainda de lábios juntos.

- Também te amo – o Tom respondeu, com um sorriso suave.

Acompanhei-o até à saída do quarto, apenas com o olhar. Ainda estava demasiado sonolenta para me levantar da cama de vez, para além da dor ligeira de cabeça com que tinha acordado. E foi só virar-me para o outro lado para adormecer novamente.

***

- A Bela Adormecida precisa do beijo encantado para acordar do seu belo sono? – a voz sorridente da Iara Vanessa fez-me despertar.

Virei a cabeça para a poder visualizar. Os seus cabelos curtos e pretos estavam apertados no topo da cabeça o seu rosto ostentava um sorriso.

- Janinha, vamos levantar dessa cama, que temos de fazer o dia valer a pena. Quero que essa pequerrucha tenha o melhor álbum de todos os tempos! Pelo menos enquanto estava na tua barriga.

[Concluída] Acasos da vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora