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"But you know that there is no innocent one

In this game for two"

In this game for two"

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| J O A N A |

O Tomás deu um grande passo para trás e um sorriso desacreditado formou-se nos seus lábios, como se eu houvesse dito uma piada.

- Tu não fizeste isso...

Eu nada disse, apenas ergui a cabeça e o olhei de cima, mesmo com as lágrimas a molharem-me o rosto, mesmo estando destruída por dentro, mesmo demonstrando que estava desfeita.

- Diz que é mentira, Joana! – implorou. – Diz que não fizeste isso! – ele agarrou nos meus ombros e chacoalhou-me fortemente, enquanto berrava na minha cara, enraivecido. – DIZ, CARALHO!

Era impossível não derramar as lágrimas, não quando o rosto do Tomás era inundado pelas suas próprias gostas salgadas.

- Tu não tinhas esse direito! – Daquela vez era ele que levantava o dedo no meu rosto, era ele que ditava palavras de ordem, era ele que zanzava sem rumo, enquanto passava as mãos pelos cabelos quase inexistentes. – Não tinhas...

A sua voz do Tomás não saiu mais que um fiapo, enquanto chorava copiosamente. Ele caiu de joelhos à minha frente e passou levemente a mão pela minha barriga, como que vendo o bebé que existia ali dentro, mas que para ele não existia mais. Foi impossível conter o arrepio que percorreu a minha espinha, foi impossível não ficar sem o que dizer por momentos, foi impossível não ficar condoída, mas apenas por momentos. Os momentos que ele não teve.

- Era o meu filho... não tinhas o direito de ter feito isso...

Ele continuou a chorar, como uma criança chora quando perde o seu brinquedo preferido. A sua testa tocou a minha barriga, mesmo por cima do tecido do vestido, enquanto os seus dedos agarravam fortemente a minha cintura.

- Eu tinha, sim! – declarei dando um passo para trás. – Tenho e continuo a ter! – O meu coração sangrava, dolorosamente, encharcando de sangue o meu peito, pintando de vermelho a minha alma. – Era MEU! Não TEU! Não era nada teu! Assim como eu não sou e nunca fui. Estava dentro e mim, e eu tenho o direito de fazer o que quiser com o eu está dentro de mim!

- Isso é mentira e tu sabes! TU SABES, PORRA! Mas não tinhas o direito de matar o meu bebé, o meu filho! O nosso... se calhar era a única coisa nossa.

- Nunca houve um nós – chorei enquanto a minha voz era abafada e saía entrecortada. – Houve um tu e os teus irmãos. Nunca estive verdadeira inclusa e tu sabes disso, sabes melhor que ninguém. Não fui mais que um objeto, para ti, enquanto para mim foste mais que tudo. E eu amei-te e quero que saias da minha vida com essa certeza: eu amei-te e ainda te amo.

- Eu posso ter feito muita merda, Joana! Posso ter errado em não te ter contado antes. Posso ter fodido o nosso relacionamento em não ter confiado em ti. Posso ter-te amado. Mas nunca te vou perdoar por teres matado o meu filho – ele ditou duro, olhando bem fundo dos meus olhos, como que prometendo aquilo à minha alma.

E assim que o disse, virou costas e foi embora.

Senti tudo dentro de mim desmoronar. As minhas pernas ficaram moles, enquanto o choro saia de mim, desesperado.

Por momentos o arrependimento passou por mim. O arrependimento de ter magoado o Tomás com uma mentira, uma mentira que custava aos dois. Mas eu necessitei daquilo, para o magoar tanto quando ele me magoara. Sentir-me vingada.

E eu precisava daquilo. Precisava de me sentir como se não tivesse sido a única lesada. Precisava de sentir que ambas as partes estavam destruídas e não penas a minha.

E por muito que eu tivesse conseguido cumprir a minha mísera vingança, não me sentia vingada. Sentia-me arruinada e cheia de dor. Uma dor descomunal, que me preenchia por completo e me fazia sentir completamente miserável.

***

- Se te atirares, nada vai mudar. Vai tudo continuar na mesma, embora tu cá não estejas.

A noite continuava escura, com as estrelas escondidas sobre as nuvens. Eu decidir ir até ponte, onde o rio revolto passava em baixo dela e o meu choro se camuflava sobre o barulho que a sua passagem causava.

A ideia era chorar sozinha na noite escura, nunca pensara que alguém poderia ir até lá, àquelas horas da noite.

Limpei rapidamente o meu rosto molhado.

- Mas a minha dor para – eu disse, sem me virar para ver quem me tinha falado. – Embora as coisas não mudem para os outros, a minha dor para.

- Sempre pensei que pudéssemos usar a dor em nosso benefício. Sei lá... mudar o mundo?!

Finalmente virei o meu rosto para trás. Uma rapariga encarava-me com um ligeiro sorriso no rosto. Os seus cabelos eram tão escuros como a noite e uma pequena franja tapava-lhe a testa, enquanto que as suas ligeiras ondas não lhe passavam do ombro.

- Quando estás tão destruída, a última coisa em que pensas é reconstruir seja lá o que for. É tempo perdido, quando sabes que existirá uma nova guerra que irá transformar tudo em escombros, novamente.

- Não falei em reconstruir, não vale a pena voltar a construir algo que descambou. Se tombou, foi porque não era bom o suficiente para se manter em pé. Estou a falar em mudança. Mudar para se tornar forte e continuar em pé, mesmo com todas as atrocidades que o possam afetar.

Mudança – era a isso que se resumia tudo. Não valia de nada reconstruir-me quando voltaria a ser uma pessoa facilmente quebrável. Tinha de mudar, tornar-me inquebrável.

- Iara – ela disse, entendendo a mão na minha direção.

- É um bonito nome – murmurei.

- Vanessa é mais – ela sorriu, perante o meu desentendimento. – Iara Vanessa, o meu nome.

- Joana – apertei-lhe a mão. – Só Joana.

- Vamos conversar, Joana, só Joana! – a Vanessa disse, sentando-se na beirada do passeio que separava a estrada da ponte. – Porque a noite é longa e cheia de terrores! Gelado? – apontou o pequeno pote na minha direção, após me sentar ao seu lado. – Só tenho uma colher, vamos ter de a partilhar. Não te preocupes, não tenho nenhuma doença contagiante.

_____-----_____

Oioiooooii!!

Como se sentem? 

Para que conste, também doeu em mim escrever este capítulo! Este fim foi mesmo para desanuviar um pouco...

Agora, para aqueles que leram "Meu querido Desconhecido": lembram-se do nome da menina que andava com os gémeos, irmãos da Joana? A Paloma falou de um trio... eheheh, não digo mais nada.

Espero que tenham gostado!

Comentem!!

Beijoooos, amo vocês! ❤






ESTRELINHA!! NÃO ESQUEÇAM DE VOTAR, É DE GRAÇA E NÃO ENGORDA! ^-^   

[Concluída] Acasos da vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora