.27 | Parte 1.

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| T O M Á S |

Se eu olhasse à minha volta, perceberia que estava num quarto de hotel, todo bagunçado. Havia cacos espalhados pelo chão, – de garrafas e copos – manchas de bebida pelas paredes e a cama estava totalmente revirada.

Poder-se-ia dizer que passara por aqui um furacão. Eu simplificaria, dizendo que aquilo apenas era a prova da minha fúria. Uma fúria filha da puta que encheu o meu corpo, deixando o meu sangue a correr quente pelas minhas veias, incendiando o meu corpo.

Eu não poderia acreditar que ninguém dissera a verdade. Sentados naquela mesa, enquanto jantávamos, ninguém teve o caralho de decência de abrir a porra da boca e dizer a verdade àquela mulher grávida, que sorria como se presenciasse o final feliz de um romancezinho barato – ainda não é o final, minha querida.

Eu não deveria estar a reclamar, afinal fui um dos filhos da puta que não abriu a boca. Mas a falta de carácter vindo da Joana, deixava-me fora de mim. Eu não poderia acreditas que ela me mentira tão descaradamente.

Era dos meus filhos que estávamos a falar!

Ela não poderia simplesmente inventar que o pai deles era outro e tudo ficava resolvido. Ela não tinha o direito de me mentir dessa maneira – dizendo que abortara.

Eu encarava o teto vazio do quarto, ignorando a destruição à minha vota. O meu telemóvel tocou, fazendo-me ver de quem se tratava.

O nome "Joana" brilhava na tela. Eu não iria atender. Estava farto das merdas todas que ela dizia – parecia que avança um passo, para recuar uma meia dúzia deles.

Aquilo estava a deixar-me louco! Era altura daquela mimada de merda perceber que nem tudo girava à volta dela. Que as pessoas que a rodeavam também tinham sentimentos e seriam afetadas pelas suas decisões. Pelas suas mentiras descaradas, que apenas aumentavam.

À terceira tentativa, estava disposto a atender, caso houvesse uma quarta, e mandá-la para a casa do caralho. Mas ela não voltou a ligar, utilizando uma mensagem para se comunicar comigo. "Preciso de falar contigo. Preciso de estar contigo. Diz-me onde estás, por favor!".

Preciso de estar contigo. Falar contigo.

Eu não iria sair daquela porra de cidade até que as coisas estivessem esclarecidas. Eu era o pai dos bebés que ela carregava na barriga e queria que toda a gente soubesse disso. Nunca fugi das minhas responsabilidades, eu iria criar aqueles bebés, porque eles eram meus, meus filhos, caralho! E eu nunca precisaria de uma ameaça para criar os meus filhos!

Nem que a Joana nunca mais quisesse olhar para a minha cara, nem que ela não me quisesse por perto, – mesmo regado a ouro – nem que ela me mandasse para a puta que me pariu todas as vezes que eu me aproximasse, eu iria perfilhar os meus filhos. Poderia não estar presente durante a gravidez, mas assim que nascessem, não os largaria um só segundo!

Consegui adiantar algum trabalho de escritório referente à Veneno, até receber outra chamada. Daquela vez, o número era-me desconhecido.

- Tomás Queirós – atendi – Pois não?

- Senhor Queirós, daqui é o Sargento Miranda – uma voz, visivelmente de homem respondeu. – Queria saber se conhece alguma mulher chamada Joana Matias?

- Sim, conheço. – Comecei a ficar temoroso com o que se passava. O que levaria a Polícia a me ligar perguntando se conhecia a Joana? – Passou-se alguma coisa?

- O carro dela foi encontrado abandonado na estrada, sem sinal dela. O seu número foi o último a quem ela contactou...

- Eu não lhe respondi à mensagem nem lhe retribuí as chamadas. Não sei o que se terá passado.

[Concluída] Acasos da vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora