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  "And I'm done with your lies

[...] 

And you try to break me but I stay strong" 

| T O M Á S |

Tic-tac, tic-tac, tic-tac...

O relógio marcava os segundos, no seu tempo constante. Tic-tac – era tudo o que os meus ouvidos captavam. Tic-tac – parecia que a cada batida dos ponteiros, a minha cabeça estalava por dento. Tic-tac – estava tudo tão terrivelmente errado!

Tic-tac, tic-tac, tic-tac...

Bebi mais um grande gole do líquido âmbar que repousava no meu copo e apoiei a testa no tampo frio da secretária, de seguida.

Tic-tac, tic-tac...

Os meus dedos rodearam fortemente o vidro do copo – tic-tac – e o braço fez o impulso restante para que o arremessasse contra o relógio que não parava um segundo, pendurado na parede à minha frente.

Tudo o que repousava em cima da secretária, foi atirado para o chão, com um único empurrão e bastou um pouco mais de força para eu a mesma fosse revirada. A estante que, serenamente, estava encostada à parede lateral, sofreu um empurrão, que bastou para que os livros caíssem quando as suas prateleiras de madeira escura encontraram o chão.

Os meus pés vacilaram sobre o soalho, trôpegos pelo excesso de bebida que percorria pelas minhas veias e ao tentar equilibrar-me, rasguei a pele da minha mão que inutilmente começou a sangrar.

Limpei o sangue à minha camisa branca e amassada, que, imundamente, tapava o meu tronco, não sem antes impedir que algumas gotas manchassem o tapete felpudo que sustentava os meus pés. O suor criava-lhe manchas de água, enquanto que os seus botões estavam abertos até à metade.

- Tomás! – o meu nome saiu como um rugido, através da garganta do Miguel. Ele forçou a maçaneta, sem sucesso. – Abre a merda desta porta, imediatamente, caralho!

Peguei na garrafa de whisky, que, inexplicavelmente, não sofrera nenhum abalo e bebi diretamente do gargalo, ignorando a ordem que me fora lançada. Sentei-me de frente para a grande janela que enchia a parede inteira e observei a cidade, sem a ver realmente.

Sentia-me miserável. Eu era um miserável – miseravelmente incapaz de manter aqueles de quem gostava perto de mim, miseravelmente incapaz de impedir que os outros sofressem, miseravelmente incapaz de me sustentar e erguer perante as adversidades.

A incapacidade aumentava em dobro, comparada com a velocidade com que o álcool entrava e preenchia o meu cérebro.

Eu só conseguia focar nas coisas que tinha perdido, nas pessoas que me tinham abandonado e no vazio de sentimentos que deixaram: o meu pai, o que restava da minha mãe, a July – a frágil e inocente July, juntamente com o nosso filho -, a Joana e por fim o meu bebé – o segundo bebé que me deixava aqui, que perdia a vida por decisões erradas que eu tomava!

- Tomás – dois toques na porta foram ouvidos, e uma voz suave proclamou. – Tomás, deixa-me entrar. – Engoli mais um gole de álcool, disposto a ignorar qualquer um, disposto a afogar-me na minha própria tristeza. – Por favo! – o seu desespero parecia contido, mas não o suficiente para o não o notar.

Quantas vezes ela me vira naquela situação? Quantas vezes ela acariciou a minha cabeça e sussurrou que tudo ficaria bem? Quantas vezes ela chorou comigo e temeu por mim?

[Concluída] Acasos da vidaOnde histórias criam vida. Descubra agora