Um amor quase perfeito.

Esta atrasada!

     Mesmo a minha igreja sendo uma sede, a maioria dos Obreiros ajudavam de manhã ou a noite, o que restava para mim a reunião a tarde. Como eu trabalhava no período da manhã e fazia faculdade a noite, eu e Mateus éramos os únicos Obreiros que estavam ali. Mateus vinha direto do trabalho e às vezes pelo trânsito chegava no amém, por isso eu procurava chegar cedo e arrumar tudo para o Pastor José fazer a melhor reunião para aquele povo.

     Cheguei o mesmo horário de sempre, guardei minhas coisas na sala das Obreiras, ajeitei o laço, abotoei o colete e desci para o salão.

     -Boa tarde, Obreira Sara! -Dona Vera me cumprimentou.

     -Boa tarde, Dona Verinha! -A abracei. -Como está a Priscila? -Perguntei sobre a neta dela. -Já voltou de viagem? Já posso arrasta-la para o Força Jovem?

     -Ela chega na sexta-feira, Obreira! -Ela me soltou e eu comecei a caminhar até a salinha de campanha.

     -Ótima notícia, reunião do Algo a Mais, avisa que ela já tem um compromisso! -Falei sorrindo e entrei na salinha.

     O Pastor Alex estava sentado em frente ao computador e parecia bravo. Me perguntei aonde estaria o Pastor José e se seria o Pastor Alex que faria a reunião.

     -Boa tarde, Pastor. -Falei, mas se ele me escutou, não pareceu se importar.

     Comecei a arrumar algumas coisas para a reunião quando ele finalmente notou a minha presença:

     -Obreira, que horas são?

     -São duas e vinte.

     -Está atrasada! -Ele falou e me encarou, seu olhar parecia perfurar a minha alma.

     -Não estou, Pastor... Eu sempre chego esse horário...

     -Então você sempre esta atrasada! -Ele se levantou e se aproximou lentamente até mim. Ergui o queixo para encara-lo, tentando esconder o medo que se instalava em meu peito fazendo o meu coração bater mais rápido. -O que você aprendeu quando estava sendo preparada para ser Obreira? -Ele perguntou e caminhou até a porta. Com o meu silêncio, seus olhos escuros se voltaram para mim. -O gato comeu a sua língua?

     -Não, senhor, é que...

     -Não gagueja!

     -Não estou gaguejando.

     -O que você aprendeu?

     -Muitas coisas. -Engoli em seco.

     -Ser a primeira a chegar...?

     -... E a última a sair...

     -Você precisa estar aqui antes mesmo daquela senhorinha. -Ele falou duramente. -Se ela precisasse de alguma coisa? Se ela precisasse de um conselho que somente uma mulher poderia dar? E se você disse a única capaz de salvar a alma dessas senhorinha, e por chegar atrasada, o diabo acabar com a alma dela?

     Eu queria gritar que ele estava exagerando, mas eu não podia. Mesmo que ele fosse irmão de uma das minhas melhores amigas, eu não o conhecia, e ele ainda era o Pastor.

     -Sim, senhor.

     Ele chegou perto de mim e pegou o desinfetante que eu havia acabado de colocar em cima da bancada:

     -Eucalipto, pelo menos dessa vez você acertou. -E saiu da salinha.

     Respirei fundo e o abençoei, mesmo que a minha carne gritasse para eu dar uns tapas em alguém.