Um amor quase perfeito.

Uma camisa entre tantas.

     Desespero - Estado de consciência que julga uma situação sem saída; desesperança.

Quando eu vi aquela camisa toda azul, eu fiquei nesse estado. Fiquei pensando nas consequências que eu teria ao ter que mudar de igreja, ou qualquer outra coisa, até que a minha mãe chegou e simplesmente disse "Compra outra igual!"

     Nossa! Como eu não havia pensado nisso? Era só comprar uma camisa igual a do Pastor, ele não brigaria comigo e ainda ganharia uma camisa nova.

Foi fácil, até eu tentar procurar uma igual. A camisa não era só uma simples camisa branca, em todos os lugares que eu ia, eram diferentes tipos de panos, tons e botões e eu me senti desesperada outra vez. Por fim, peguei uma camisa que custava quase o meu salário inteiro e fui para a igreja com o restante das roupas.

Eu só tinha manchado uma camisa, que mal havia nisso?

Em meio há tantas roupas, porque essa camisa importaria?

Eu me perguntava tentando me acalmar, todo o restante havia dado certo, eu não precisava me preocupar com as flores do meu velório tão cedo.

Ou eu teria. Afinal, era o Pastor Alex.

Mas assim como Abraão, eu cria contra a esperança.

Cheguei na igreja cedo, se o Pastor fosse me matar, que matasse antes que os membros chegassem. Me sentei em um dos bancos, enquanto esperava o Pastor descer do seu almoço para a salinha de campanha.

-Oi, Sarita! -Rebeca me cumprimentou.

-Oi, Beca! -Forcei um sorriso. -Não foi trabalhar hoje?

-Ganhei uma folga... Aí vim ver se o Pastor Alex vai precisar de ajuda.

Para me matar? Acho que ele vai querer fazer isso sozinho, pensei em silêncio.

-Está tudo bem, Sara? -Rebeca me olhou preocupada.

-Está! Por quê?

-Parece que alguém morreu. -Ela brincou e eu comecei a rir.

Rir para não chorar.

-Eu vou comprar a água do Pastor, eu já venho. -Ela saiu andando e depois de alguns minutos o Pastor Alex desceu.

Eu não sabia quando ele estava bravo de verdade ou se era a cara dele normal.

Segui até a salinha de campanha:

-Boa tarde, Pastor. -Novidade? Ele nem sequer olhou para mim. -Aqui estão as suas roupas. -Coloquei a sacola na sua frente com todas as camisas lavadas, passadas e dobradas.

Quase tudo perfeito.

-Minhas roupas? -Ele arqueou uma das sobrancelhas.

-A Dona me pediu para lavar.

-Certo. -Ele pareceu deslocado ao ter que me agradecer. -Acho que obrigado, Obreira. -Ele começou a pegar as coisas, mas antes que ele subisse para o escritório limpei a garganta criando coragem para falar.

-Pastor?

-Sim?

-Aconteceu um probleminha, nada de mais, enquanto eu lavava as suas roupas.

Ele me encarou e a expressão de que eu era uma presa e qualquer movimento meu, ele poderia me matar, estava ali.

-Qual? -Ele perguntou cansado como se já esperasse por isso. Como se já esperasse um erro meu.

Aquilo realmente me machucou, eu sabia que não conseguiria ser perfeita nem aqui, nem na China, mas era muito ruim saber que por mais que eu me esforçasse a todo instante aparecia um novo erro.

Peguei a camisa que estava azul da sacola que estava nas minhas mãos e coloquei na sua frente.

-O que é... -Ele começou a perguntar quando seus olhos se alarmaram demonstrando surpresa. -A minha camisa! -Ele a pegou em suas mãos. -O que foi que você fez?! -Ele gritou.

Ótimo, Sara morre hoje, um dia após o seu aniversário.

-Pastor, eu posso explicar!

-Era a minha camisa preferida! -Ele gritou mais uma vez e realmente ele parecia estar chateado.

-Mas o senhor tem umas dez camisas brancas! -Soltei em frustração! -E eu comprei outra camisa para o senhor! -Estendi a camisa sorrindo.

Ele empurrou a camisa de volta para mim rejeitando todo o meu esforço de compensar meu erro.

-Você não entende. Não é uma camisa que importa, eu posso comprar uma quando eu quiser. -Ele balançou a cabeça. -Foi meu pai quem me deu essa camisa, eu fui apresentado como Pastor com ela. -Ele não gritava mais e isso foi o que pesou dentro de mim.

-Desculpa. -Sussurrei.

Mas ele não disse mais nada, logo Rebeca entrou na salinha e eu saí de lá, estava abafado de mais.