Feliz aniversário, Pastor Alex!

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-Você sabe, acho que o Pastor Alex me odeia, não acho que eu deveria estar aqui. -Falei caminhando com Larissa e Patrick.

-Ódio é uma palavra muito forte, não acha? -Patrick perguntou sorrindo.

-Para com isso, Sarita! -Larissa empurrou meu braço. -E a Mônica que nos convidou, ela ficaria incrivelmente chateada se você não viesse.

-Você pinta o Pastor Alex como se fosse um monstrinho! -Patrick puxou meu cabelo de pirraça.

-Eu vou denunciar vocês! Parem de rir de mim!

Comecei a andar mais a frente. Depois do teste que o Pastor Alex havia feito, se antes ele não dirigia a palavra a mim, agora ele sequer dirigia o olhar. Em partes, aquilo era ótimo, afinal ele não pegava mais no meu pé, em outras partes era ruim porque...

Quer dizer, não tinha parte ruim.

O Pastor Alex não pegava mais no meu pé, não era aquilo que eu queria?

Mas por que eu estava tão incomodada? Era horrível aquela tensão que havia entre nós.

Era terça-feira a noite. "Folga" do Pastor Alex. Mesmo em suas folgas, o Pastor preferia ficar na igreja, dificilmente ele saía e quando saía era caso de extrema urgência. Graças a Deus, o pai de Mônica tinha uma boa lábia e conseguiu convence-lo de como era seu aniversário, pelo menos um jantar ele deveria estar presente. Afinal, como Pastor, seu pai usou o argumento de que amanhã ou depois, Alex poderia ir embora e era bom que eles aproveitassem a oportunidade que estava ali.

Bem, se você for observar o pai de Alex e Mônica dá pra entender porque os dois se parecem. A pele clara, o cabelo e os olhos escuros, a aparência de seriedade que transmitiam. Pelo menos, o pai e a Mônica eram só aparência mesmo, já Alex...

Olhei para a mãe de Mônica que era tão pequena e imaginei que certamente a mãe de Alex era alta, ou na hora da fila para receber a altura, Alex pegou a da sua irmã também para si.

Ok, não acredito que eu fiz essa piada.

Estávamos todos em silêncio, escondidos na cozinha quando Alex abriu a porta:

-Pai, cheguei!

-SURPRESA! -Nós gritamos e acendemos a luz. Os olhos de Alex se alarmaram em surpresa, ele estava descendo o zíper de sua jaqueta, mas quando percebeu que haviam mais pessoas do que apenas sua família, ele subiu o zíper discretamente. Não estava frio, e me perguntei se era por causa da tatuagem que estava em seu braço. Quantas pessoas sabiam que ela existia?

Começamos a cantar os parabéns e quando a velinha se apagou, Alex sorria maravilhado.

-Gente! -Paulo gritou atraindo a atenção de todos para si. -Quando fazemos aniversário, normalmente o Pastor faz uma oração por nós, afinal ele tem o poder de nos abençoar... Mas e quando o Pastor faz aniversário, quem ora por ele?

-Que pergunta idiota, Paulo! -Jota empurrou seu braço.

-Eu disse para não trazerem o Paulo. -Rebeca deu de ombros.

-Não tem como, comecei a namorar com o Jota, ganhei de brinde um animalzinho de estimação. -Mônica fez carinho na cabeça de Paulo.

-Ei!

-Acho que todos vocês podem orar por mim, a oração de um justo tem um poder que nós não imaginamos.

-Eu tive uma ideia melhor. -Os olhos do pai de Alex escureceram e ele abriu um sorriso. -Tem uma pessoa que adoraria fazer essa oração por você. -O Pastor Alex franziu as sobrancelhas. -Pode entrar, Márcia.

Uma mulher alta, com os cabelos claros, entrou. E eu vi o Pastor Alex se desmanchando.

-Mã-ãe? -Ele gaguejou.

A mulher foi até ele, e Alex a abraçou:

-Meu filho! -Ela sussurrou beijando a cabeça de Alex.

O Pastor levantou o rosto e senti meus olhos se encherem de água, lágrimas escorriam timidamente pelo rosto do rapaz.

***

Era estranho e ao mesmo tempo incrível ver tudo aquilo. Fazia quase um ano que Alex não via sua mãe, mesmo que ela morasse no interior de São Paulo, era impossível os dois manterem contato diariamente, a vida que Alex havia escolhido era outra.

Eu estava sentada comendo o bolo e observando tudo aquilo. Alex parecia uma pessoa totalmente diferente, ele sorria, fazia piadas, se dispôs a cantar e jogar uma partida de Just Dance contra Mônica (a propósito, ele ganhou, abismada com isso? Nem um pouco!). Era estranho vê-lo daquela forma, porque infelizmente dentro de mim a esperança de que ele poderia ser daquela forma comigo acendia novamente e eu sabia que eu não deveria me iludir, amanhã na igreja certamente ele acharia alguma coisa para me colocar para baixo.

Respirei fundo e enfiei todo o chantilly na minha boca. Nesse momento, os olhos de Alex encontraram os meus. Eu sabia que deveria quebrar o contato visual, mas continuei olhando para ele, até que Alex se levantou e caminhou até mim sentando ao meu lado.

Olhei para o seu nariz, estava intacto, nem parecia que eu havia dado um belo soco.

-Acho que eu preciso te pedir desculpas por ter feito aquilo com você.

Suspirei em tédio, só por aquilo ele me pediria desculpas?

-Ainda não entendo o porquê do senhor ter feito aquilo.

-Era só uma brincadeira, Obreira.

-Que tipo de brincadeira é essa? -Me exaltei.

-Desculpa, Obreira. Não fique com mágoa do Pastor.

Respirei fundo.

-Ok, desculpa por ter acertado o seu nariz.

Ele concordou:

-Agora podemos voltar a ser amigos.

Olhei para ele e arquiei uma sobrancelha mostrando descrença.

-Amigos? Nós éramos amigos?

-Sim. -Ele me analisou e sorriu com a minha confusão. -Você, Sara... É muito intrigante.

-Isso é uma crítica?

Ele sorriu ainda mais se levantando:

-Pelo menos, o perfume você acertou dessa vez.

Abri a boca para dizer que haviam me dado de presente, mas fiquei em silêncio, não precisava o informar que alguém que eu nem sabia quem era, sabia qual era o melhor tipo de perfume para eu usar.

Um amor quase perfeito.Onde histórias criam vida. Descubra agora