Seja você.

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Não sei explicar qual era a pior situação. No final das contas, o Pastor Alex acabou não indo por ordens maiores e eu ainda precisava conviver com ele.

Eu comecei a evita-lo de todas as formas, era uma tarefa difícil quando a tarde só tinha eu e o Mateus de Obreiros. No começo o Pastor até continuava tentando conversar comigo, mas eu comecei a me distanciar e quando ele percebeu isso, até mesmo suas broncas já não existiam mais.

As aulas de teclado e canto eram maçantes, e quando chegava quarta-feira eu já me preparava, claro que eu havia melhorado muito com a ajuda do Pastor Alex, às vezes no FJU quando a Rebeca não estava, eu cantava, mas era insuportável a tensão que havia entre nós dois.

Era sexta-feira, eu não havia ido para a faculdade, então eu estava na reunião a noite, eu estava colocando o meu crachá quando sem querer escutei a conversa de algumas Obreiras:

-Você sabia que o Pastor Alex tem uma tatuagem enorme no braço? -Paula sussurrou.

-Como assim?

-Toda a igreja está comentando! Parece que viram uma foto antiga dele!

-Deve ser por isso que ele usa apenas camisas de manga longa!

-Se eu fosse ele, também usaria só esses tipos de camisa... Imaginem só! Um Pastor com uma tatuagem!

Olhei discretamente para a Obreira que parecia horrorizada com a ideia. Abri a boca para falar que aquilo não tinha nada a ver, que aquela tatuagem de Alex certamente fazia parte do seu testemunho antes de conhecer a Deus, mas antes que eu falasse algo, ele entrou, sua expressão estava fechada e as Obreiras no mesmo instante pararam de falar. O Pastor Alex não era bobo e qualquer um perceberia que elas estavam falando dele, as Obreiras arquearam as sobrancelhas e saíram da sala de campanha. Olhei para a expressão do Pastor, ele parecia chateado, como se pudesse fazer algo e fingir que aquilo não existia.

-Pastor? -O chamei e ele pareceu surpreso que depois de tanto tempo sem dirigir uma palavra sequer a ele, eu ousava a chama-lo. -Se me permite...

-Pode falar... -Ele pareceu incerto.

-Não acho que o senhor deveria se envergonhar pelo que é, cada um de nós carregamos cicatrizes que nos mostram da onde Deus nos tirou.

-Eu não tenho vergonha de quem eu sou.

-Então pare de se esconder atrás de uma camisa! -Falei o desarmando.

Peguei meu celular e sai da sala antes que ele me colocasse de volta em meu lugar.

Um amor quase perfeito.Onde histórias criam vida. Descubra agora