I'm the Bozo!

1.9K 189 17
                                    

Dificilmente eu ficava doente, mas quando ficava, parecia que eu era um zumbi que havia acabado de sair das telas de The Walking Dead.

Pois bem, já podem imaginar o meu estado naquele domingo.

Quando eu entrei na salinha das Obreiras, Mônica, Larissa e Rebeca me olharam espantadas.

-O que aconteceu com você? -Elas perguntaram em uníssono.

Eu estava tão ruim assim?

Como resposta para aquela pergunta, soltei um enorme espirro.

-Meu Deus! Sarita doente! -Larissa constatou o óbvio.

-Eu que não vou ficar aqui, vai que é dengue! -Mônica saiu tampando o rosto seguida por Larissa cheia de risos.

-Grandes amigas vocês são! -Falei por cima do ombro com o nariz entupido.

-Oh, Sarita! -Rebeca segurou em meus ombros. -Venha aqui! -Ela me empurrou em cima de um puff. -Vou te ajudar!

-Não tem medo de pegar dengue? -Falei assoando o nariz.

-Fica quieta! -Ela disse enquanto abria um estojo de maquiagem.

-O que você vai fazer? -Perguntei assustada.

-Vamos dar uma corzinha nesse seu rosto.

***

Eu sabia que deveria ter lavado o rosto e tirado o que quer que Rebeca tenha feito com ele, mas mesmo com os milhares de olhares estranhos que eu havia percebido, eu deixei. Eu estava tão mole que imaginava se quando fosse lavar o meu rosto eu não me afogaria na torneira.

Mas eu deveria ter lavado, afinal mesmo que ninguém falasse, existia uma pessoa que não ficaria em silêncio.

Pensou em Pastor Alex? Está óbvio de mais.

A reunião já havia acabado e eu estava na salinha de campanha arrumando algumas coisas, quando ele entrou e franziu as sobrancelhas chegando mais próximo de mim me analisando.

Eu odiava aquilo.

-Posso ajudar?

-O que fizeram com o seu rosto? -Ele levantou a mão, mas pareceu pensar melhor e parou.

-Isso é maquiagem... -Falei temerosa.

-Sabe, Obreira. Acho que você não precisa disso. -Ele falou calmo.

-Oi?

-Com todo o respeito, a senhora já é bonita sem maquiagem, não precisa usar isso.

Senti minhas bochechas esquentarem e a minha boca se abrir, o Pastor Alex se afastou, mas eu continuei imóvel, ele olhou para mim preocupado:

-Você está bem?

-Estou, é só que...

-É só que?

-O senhor está sendo gentil comigo.

Ele pareceu tentado a sorrir como se não acreditasse no que eu estava falando.

-Certo, então prefere que eu seja rude com você? -Ele disse pegando uma folha e escrevendo algo.

-Não, é que...

-Então beleza, seu pedido é uma ordem. -Ele rasgou o pedaço de papel e colou uma fita durex atrás. -Você está ridícula com essa maquiagem! Parece um Bozo, na verdade, acho que o Bozo ficaria ofendido ao ser comparado com você! -Ele ergueu o papel e engrossou ainda mais sua voz imitando um locutor de rádio. -E agora com vocês, o prêmio mais esperado do ano da melhor fantasia para a noite dos horrores vai para ela, Sara! -E colou o papel em minha testa com toda força e saiu batendo palmas e assoviando.

Respirei fundo revirando os olhos e arrancando o papel da minha testa.

Idiota! Pensei em gritar, mas engoli em seco.

Um amor quase perfeito.Onde histórias criam vida. Descubra agora