Eu sabia que estava em mais problema do que imaginava quando vi os quatro diretores das Casas e o próprio Alvo Dumbledore na entrada do Grande Salão. Eu havia voltado para a escola um pouco antes do horário do jantar, quando a fome e a sujeira já haviam chegado a níveis desagradáveis para mim. Tive pouquíssimo tempo para observá-los: os olhos frios de Snape, a boca apertada de McGonagall, as mãos agitadas de Sprout., os pés inquietos de Flitwick e os olhos brilhantes de Dumbledore. Me concentrei neles, pois estavam tão terrivelmente calmos e trancados, não deixavam nada a mostra, nem quando procurei algum misero sussurro. Então ele sorriu.
— Bom, aí está nossa aluna fugitiva — era a mesma voz de que eu me lembrava do discurso de boas-vindas, mas sem o tom caloroso e divertido. Era gentil, com certeza era. Mas até mesmo venenos podem ser anestésicos. — Presumo que devemos cancelar as buscas, professora Sprout. Poderia mandar Filch avisar a Hagrid? Quanto aos demais, creio que poderão avisar aos seus colegas que a srta. Lewis já retornou em segurança e a rotina poderá prosseguir. Venha a minha sala o quanto antes, Minerva. Senhorita Lewis, Severo, por favor.
Dumbledore manejou com a cabeça em um sinal bastante claro para que o seguíssemos e me perguntei se ele era cego, mas então percebi que era apenas justo. Porque ele deveria se importar com a lama e terra nos meus pés descalços e na sujeira no meu cabelo e rosto se, para começar, eu mesma não me importei? Isso me fez ficar em silêncio enquanto caminhávamos para o terceiro andar e parávamos em frente a uma grande gárgula de grifo por onde já havia passado várias vezes e haviam rumores de era capaz de falar, mas ninguém nunca ouviu.
— Balinha de Hortelã — a voz do diretor fez a gárgula se mexer para o lado, revelando uma escadaria em espiral. Ele continuou andando, subindo para a torre, enquanto eu pensava se alguém já havia ido parar na diretoria na primeira semana de aula. Como Hogwarts existia a uns bons mil anos e mais, era provável que sim.
O escritório do diretor, quando finalmente chegamos (e eu tinha uma satisfação pessoal de ter deixado tantos degraus sujos de terra para Snape arrastar a capa logo depois), se revelou uma grande sala circular que deveria ser bastante clara durante o dia pela quantidade de janelas. Também me parecia que havia quadros demais nas paredes, todos eles de olhos fechados e ressonando baixinho, o maior deles ficava imediatamente atrás da mesa principal: era de um homem velho e com cara de bobão que deveria ter sido o diretor anterior a Dumbledore, que, aliás, o único toque pessoal da sala eram as mesas aqui e ali com pequenos e curiosos, além de delicados, instrumentos de prata que zumbiam sem parar e soltavam pequenas nuvens de fumaça. Tinha livros o suficiente ali para preencher uma seção inteira da biblioteca, além do Chapéu Seletor (calado, graças a Merlin) e um poleiro vazio.
— Sente-se, srta. Lewis, aceita um pouco de chá? — Ele me perguntou, ele mesmo se sentando em sua mesa. Mesmo achando potencialmente perigoso, me sentei em uma das cadeiras à frente, com Snape ao meu lado.
— Não, senhor, obrigada — eu não era incapaz de demonstrar respeito, eu apenas demonstrava a quem achava que merecia. E Alvo Dumbledore era uma dessas raras pessoas, em conjunto com abadessa Joan e Minerva McGonagall, que possuíam essas faíscas nos olhos e a voz bastante baixa. — Mas se me permite, não estou expulsa?
— Deveria — a voz seca de Snape fez minha cara se contorcer. — Quanta irresponsabilidade e arrogância! O que está pensando, Lewis?!
— No momento, que sua mãe escolheu seu nome com uma precisão cirúrgica — devolvi e juro que achei que o homem iria pular no meu pescoço, mas Dumbledore chamou nossa atenção.
— Srta. Lewis, por favor, mais respeito com o professor Snape — mandou com a voz gentil de um pedido. — E não, senhorita, você não será expulsa, mas temo que a duração de sua punição e qual será ela está a cargo do diretor de sua Casa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Corona
FanfictionNomes são coisas perigosas. A maior parte da mitologia afirma que não os deve dizer levianamente - eles tem poder. Malorie Lewis tinha uma afeição particular pelo seu nome. Depois que seus pais adotivos morreram e ela teve de voltar para o Lar para...