Águas Turvas

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Não estava nos planos de Lagrum me deixar ficar pensando muito sobre pacotes misteriosos e traidores no castelo, então mesmo que uma boa parte da minha mente ainda estivesse girando em torno do que isso significava e ainda ansiosa pela situação de Hermione, fui obrigada (sem muito esforço), a acompanha-lo pela floresta. Talvez não fosse seguro, para a maioria das crianças de onze anos, andar por uma floresta cheia de criaturas mágicas potencialmente perigosas, mas eu não era como a maioria. Eu tinha minha varinha e eu tinha Lagrum, nada era uma ameaça.

Andei com eficiência pela floresta, meus pés descalços se embrenhando em terra e folhas, deixando que eles aprendessem o caminho, decorassem o ambiente. Cobras eram cegas, mas haviam outras formas de se enxergar. A textura da terra, o cheiro da grama, o quebrar de uma folha: tudo isso ajudava a se localizar, a saber para onde você estava indo e de onde havia saído.

Fique por perto, acho que estamos chegando...

Queria perguntar onde, exatamente, estávamos chegando, mas algo nos encontrou primeiro. Lagrum parou de deslizar e se enrolou, mas não estava em nenhuma posição de defesa, o que me permitiu manter os ombros relaxados e a cabeça erguida enquanto procurava entender, naquela escuridão, o que havia aparecido na minha frente.

Tinha pelo menos três vezes meu tamanho e não era humano, ao menos não completamente. Da parte de cima, era um homem – o torso nu se projetava, mais alto do que Hagrid, até. A cabeça coroada de cabelo e barba vermelhos. A parte de baixo, fazendo uma ligação com a cintura do homem, já era um cavalo – o corpo de um garanhão castanho forte, luzido, com uma calda longa e avermelhada. Carrega um arco e uma alijava nas costas e seus olhos, de um castanho avermelhado, se concentraram em nós ao mesmo tempo que pareciam mais interessados em algo muito, muito distante.

— Pequenina — a criatura falou. — Está muito longe da escola, não acha?

Seu nome é Ronan. Ele é um centauro, como pode ver. Era ele que queria que visse, é o único agradável com seres humanos.

— Eu disse para não se meter em confusão, Lagrum — sibilei para ele, voltando minha atenção ao centauro. — Ignorando as normas da escola, não existe nenhuma lei que me proíba de estar aqui, não é?

— Desde que consiga se defender, não há — havia um fantasma de um sorriso nos lábios dele. — Você fala a Língua das Cobras, menina, e há tempos não se vê algo assim. Esse seu amigo tem causado certo alvoroço por aqui, por mais que tenha sido cuidadoso.

— Lagrum não pode estar causando tanto mal — respondi. — Ou já teria acontecido alguma coisa. É por suas caçadas?

— A floresta dá e recebe o suficiente para alimentar mais uma criatura, não, não é por isso — suspirou, então, olhando para cima como se conseguisse enxergar alguma coisa apesar do bloqueio de folhas. — A constelação de Serpentário, brilhando tão forte... — se interrompeu. — Sabe algo sobre os astros, criança?

— Malorie — corrigi, cansada de ser chamada por adjetivos. — Mal, na verdade. E estudamos isso em Hogwarts. O sistema solar e seus planetas, a características deles, os tipos de galáxias...

— E aprendem também, Mal, o que cada planeta significa e cada aspecto que pode apresentar, suas interferências em nossas vidas?

— Não — entreguei, encolhendo os ombros. — Ao menos, ainda não. Mas os trouxas, de onde eu vim, conhecem isso, já ouvi falar. Chamam de astrologia. É interessante, mas não sei muito.

— Não sabe muito... — Ronan repetiu, voltando a olhar para mim. — Meus iguais estavam um pouco agitados com a chegada de sua criatura, mas creio que o conhecimento de sua presença os acalmará. Pretende deixar a floresta?

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