Floresta Proibida

2.5K 409 174
                                    


Para os facilmente impressionáveis de plantão eu devo servir de choque de realidade: em nenhum momento cheguei a crer que Snape iria pegar na minha mão e desabafar com detalhes toda a situação da Pedra Filosofal e de Quirrell. E não aconteceu mesmo. O homem carrancudo me botou para fora sem pensar duas vezes, repetindo para eu não me meter onde não era chamada. Mesmo assim, parei na porta de sua sala e analisei sua postura curvada sobre o caldeirão, falando antes que ele decidisse por me arremessar para fora.

— Lembra quando eu te pedi autorização para entrar na Seção Reservada?

— Eu disse que não daria autorização nenhuma já que você não tinha nenhum motivo para ir até lá — me respondeu com impaciência, a varinha em punho movimentando a poção abaixo de si. Flexionei os ombros e respirei fundo, era minha última chance antes do ano letivo terminar.

— Eu tenho motivos, mas não vou dizer — encontrei os olhos dele e sustentei toda aquela escuridão, uma que se assemelhava a minha própria, e talvez essa fosse a razão de nos darmos tão bem, eu e ele, na medida do possível. — Seria uma boa hora de mostrar um pouco de confiança em mim, já que eu fiz com você.

Isso havia sido baixo e descarado, mas eu já não tinha mais tempo para sutilezas. Se não conseguisse o livro rápido eu teria que adiar tudo para o próximo ano, e minhas pesquisas já haviam alcançado o ponto de estancar, eu precisava ser mais especifica. Eu já estava com tão pouco tempo que, provavelmente, eu teria apenas tempo de achar o livro e copiar as partes mais importantes para algum rolo de pergaminho para estudar no orfanato, com calma, do jeito certo, eu havia perdido tanto tempo...

No fim, entendi o silêncio de Snape como "talvez" e dei as costas, fechando a porta de sua sala atrás de mim. Tinha coisas demais para pensar e, para meu próprio bem, ignorei a grande maioria, pelo menos até o dia seguinte quando Malfoy passou a reclamar alto após ler um bilhete que havia aparecido na sua frente: o pequeno lorde havia ganhado uma detenção pela sua peripécia na noite da libertação de Norberto e senti uma vontade quase incontrolável de beijar as bochechas ossudas de Minerva com isso.

— Vinte e três horas! Em que momento eles esperam que eu vá dormir?!

— Levando em consideração que está sendo punido por andar por aí fora do horário, as altas horas da noite, mostrando claro desprezo pelo toque de recolher e tudo o mais... não acha realmente que eles se importariam com isso por você, ou acha?

O olhar de Blásio encontrou o meu ao dizer isso, um olho seu piscando em minha direção enquanto eu fazia força para não cuspir todo meu café para fora. A bebida trouxa era um ritual de toda manhã e, por muito pouco, não o joguei todo na cara de Parkinson. Zabinimerecia um prêmio pela expressão ofendida e indignada no rosto de Malfoy e garantia mim mesma que estava o devendo essa. 

Foi maravilhoso observar a cara emburrada de Draco durante o resto do dia, indignado e ignorado por todos menos Crabbe e Goyle. Ficou tudo ainda melhor quando, na hora do almoço, um pergaminho apareceu na minha frente bem quando eu colocar mais um pouco de purê no meu prato. O conteúdo nele me fez rir alto antes de guardar no bolso das minhas vestes: Eu, Professor Severo Snape, Mestre de Poções de Hogwarts e diretor da Casa de Sonserina, concedo autorização para que a aluna Malorie Lewis, Sonserina - Primeiro Ano, entre na Sessão Reservada.

Um pouco pomposo, talvez, eu havia ouvido falar que apenas uma assinatura era necessária. Mas talvez Snape tenha decidido não dar qualquer chance de Pince considerar a autorização falsa. Ignorei completamente os olhares curiosos e os pescoços esticados a minha volta e busquei a mente escura que já conhecia bem, dando pequenas batidas em seu forte e tendo o mesmo acontecido comigo, em reconhecimento. Considerei aquilo uma versão particular de um aperto de mão.

CoronaOnde histórias criam vida. Descubra agora