Presente Verde e Prata

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Dezembro chegou com uma nevasca. Mais ou menos no meio do mês toda Hogwarts acordou coberta de neve até os joelhos. O lago se tornou um espelho congelado do fim do mundo de tão negro, e agora suas águas eram quase sempre escuras vistas da sala comunal. Certo dia, os gêmeos Weasley enfeitiçaram um monte de bolas de neve para perseguir o patético do Quirrell por todo o pátio, o acertando na parte de trás do turbante ridículo. Eles receberam um castigo por isso, claro, mas eu ri tanto que sequer me preocupei, pois não era de hoje que o professor me encarava por muito tempo durante as aulas, as vezes com o rosto branco de tanto pânico, as vezes com as mãos tremendo.

Isso havia começado depois de minha briga com Malfoy, a que o atirei na parede, e quando fiquei um bom tempo sendo evitada por qualquer um que não os grifinórios que conhecia e minhas colegas de dormitório, uma vez que a menção ao vermelho dos meus olhos tinha corrido toda a escola. Era de se imaginar que um covarde como Quirrell fosse se assustar com isso, mas já estava começando a me irritar de verdade, então bati na mão dos Weasley, peguei minha varinha e fui para detenção com eles.

Felizmente, eu tinha coisas mais importantes a me preocupar do que uma pequena detenção. Snape, por exemplo. Na nossa primeira aula depois do jogo, na segunda feira, fui em direção a sua sala esperando que me mandasse embora. Apesar de ser um pedido do diretor, ele não era obrigado a me ensinar coisa algum além de poções. E mesmo assim, ele me deixou entrar. A fúria que havia visto em seus olhos tinha apagado, mas ainda me parecia mais desgostoso que o usual.

— O que fez no sábado, Lewis, foi de uma estupidez tamanha... — começou o que, acredito, havia pensado em dizer durante todo fim de semana. — Me atrapalhou de tal forma... eu quase consegui...

— Achei que estava tentando matar o Potter — disparei. Às vezes, falar algo de forma bruta desestabiliza o ouvinte, e foi o que aconteceu. Choque correu o rosto pálido de Severo antes de se transformar em indignação e raiva. Achei que iria me mandar embora, mas disse apenas quatro palavras antes de me mandar sentar na frente dele para a aula, tão baixo e tão pausadamente que tive que inclinar a cabeça.

— Nunca mais repita isso.

E acreditei nele. Acreditei, pois suas emoções eram verdadeiras, ao menos o que ele deixou aparecer. Mas minha crença não seria nem de longe o suficiente para convencer o trio de leões, então mantive minha boca fechada e minha lealdade comigo mesma. Afinal, eu tinha mais coisas com que me preocupar do que meu professor de legilimência e oclumência sendo crucificado. O tempo estava cruel. E, apesar de haver grandes lareiras quentinhas no Grande Salão, na Sala Comunal e nos dormitórios, não havia nada assim nos corredores ou nas salas de aula, e nem na floresta.

Cobras não sofrem com a mesma intensidade dos outros animais os impactos do tempo extremo. Tanto para o calor quanto para o frio, elas conseguiam se adaptar muito bem ao regular a própria temperatura do corpo, as vezes até chegavam a hibernar. Mas esse não era o caso de Lagrum, e mesmo tendo ficado bem até hoje, minhas noites eram cada vez mais agitadas de preocupação por saber que ele estava exposto ao frio a todo momento.

O avanço nas aulas de transfiguração me deu uma ideia de que meu amigo talvez não fosse gostar, mas era o melhor. Se eu conseguisse realizar, seria a salvação de sua pele e ele sabia disso, pois não veio sibilar no meu ouvido durante meu sono ou durante nossos encontros escondidos. A ideia me fazia passar tanto tempo quanto Hermione na biblioteca e ser obrigada a dividir minha atenção durante as aulas, com metade da minha mente no professor e outra em um pergaminho discreto e enfeitiçado com alguns truques para afastar curiosos, onde eu rabiscava tantos diagramas e contas quanto seria possível.

— Tenho tanta pena — Draco disse uma vez, despertando minha atenção na aula de poções. Não estava falando comigo, é claro, e sim com Zabini à algumas cadeiras para trás. — Dessas pessoas que tem de passar o Natal em Hogwarts porque a família não as quer em casa.

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