Filhote de Sangue Frio

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Rúbeo Hagrid era o ser mais doce e bondoso que eu já havia conhecido.

Tinha o tamanho de um gigante e o rosto quase desaparecia no cabelo e na barba, mas seu sorriso era fácil e os olhos brilhavam. Serviu chá e biscoitos para todos e foi um acordo mutuo fingir comê-los para não o magoar, pois eles quase quebraram nossos dentes. O chá, por outro lado, estava excelente.

Em pouco tempo eu soube de toda a história entre ele e Harry, de que havia sido ele a tirá-lo da casa Potter em ruinas, e ele outra vez a tirá-lo dos tios cretinos. Até mesmo lhe comprou uma coruja de aniversario e fiz Potter prometer que me mostraria Edwiges.

— Tem algum animal de estimação, Mal? Você parece gostar — Hagrid perguntou, me fazendo balançar a cabeça.

— Animais são melhores do que gente, é verdade, mas não tive dinheiro para comprar nenhum no Beco. E, mesmo que tivesse, não acho que teria escolhido qualquer um permitido.

— E qual escolheria? Eu entendo de... bom, animais não comuns. Acredito que são apenas mal compreendidos — Hagrid tinha aquele sorriso que fazia suas bochechas ficarem rosadas e eu ri, segurando no brasão da Sonserina em minha veste.

— Uma cobra, com certeza. São criaturas fantásticas! Inteligentes, elegantes, versáteis...

— Frias, venenosas, podem decidir te devorar a qualquer minuto — Ronald me interrompeu, mas dei meu melhor sorriso para ele.

— Melhor tomar cuidado comigo, Weasley, talvez eu decida que você não precisa de alguns dedos.

— E logo agora que eu estava começando a te achar gente decente — o menino revirou os olhos ao soltar uma risadinha.

— Meu caro, eu não era gente decente nem antes de entrar em Hogwarts, não é ser da Sonserina que vai mudar muita coisa — devolvi para ele, mas Harry balançou a cabeça.

— Eu te acho gente decente, Mal — me defendeu. — Qualquer um que quebre o nariz de Draco Malfoy é decente o suficiente para mim.

— Você o que?! — Rúbeo tinha a boca aberta. — Fez isso mesmo? Com o filho de Lúcio Malfoy, aquele nariz em pé?

— Ficou bem para baixo quando o achatei na parede do trem — meu sorriso era maldoso, mas Rony tinha os olhos brilhando.

— Foi lindo, Hagrid, lindo — o menino Weasley tinha um sorriso sonhador. — Nem mesmo foi a primeira vez. Também o acertou com um livro no Beco Diagonal, certo?

— Certo — e sorri de forma um pouco mais gentil para Hagrid. — Não se preocupe, Ruby. Ele mereceu nas duas ocasiões e eu estou ilesa.

— Não duvido que tenha merecido, Mal, mas é gente poderosa esses Malfoy — balançou a cabeça. — Ruins, todos eles, e tão influentes quanto podres. É melhor ficar afastada do garoto para evitar problemas e aborrecimentos para si mesma.

— Ele dorme no dormitório ao lado e fica que nem um pavão na sala comunal — dei de ombros. — Não conseguiria ignorar a presença dele nem se quisesse... mas vou tentar — disse sem jeito ao ver a preocupação genuína em seus olhos negros. Hagrid então balançou a cabeça de forma enfática.

— Isso, isso, faz bem, entende? Eu sei o que acontece quando é palavra de um contra outro... — sua voz morreu baixa e pesada, seu rosto sombrio. Mas no mesmo momento em que olhamos uns para os outros, cada um com uma interrogação na testa, ele sacudiu os ombros e tomou um grande gole de chá de seu caneco. — Mas chega disso. Como foram as aulas, hem? Tudo bem para você, Harry?

Harry então contou como havia sido sua semana, que havia sido quase a mesma semana de Ronald. Imaginei que devia ter sido horrível ser o ponto de referencia para O Menino Que Sobreviveu, mas acredito que fosse ainda pior ser encarado e apontado como uma atração de circo. Não precisei de mais de cinco segundos para perceber que o famoso Harry Potter odiava toda aquela perseguição e atenção exageradas. A cicatriz na sua testa apareceu quando mexeu em sua franja, uma coisa fininha em formato de raio, e tive vontade de azarar qualquer um que ficasse encarando. Mantive minha boca fechada ao menos uma vez, mas será que não ligavam os fatos?

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