Doces ou Tra(sgo)vessuras

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O outono correu rápido, costurando-se através dos dias de setembro e outubro. Pode-se dizer que havia encontrado certo equilíbrio na minha vida escolar, finalmente. Como logo descobri após a aula de Herbologia, Harry e Rony haviam deixado qualquer hesitação de lado e até mesmo passaram a encarar o encontro com o cão enorme de três cabeças como uma boa aventura. Neville Longbottom, com a opinião muito mais parecida com Hermione, não queria saber falar do assunto.

Aliás, não havia mesmo o que se falar e nem o como. Mais ou menos uma semana depois de nossa aventura noturna, o correio chegou cedo e trouxe consigo um grande pacote para Potter. Apesar de toda a fama que supostamente tinha, ele devia ser uma das pessoas que menos recebia cartas na escola, então é claro que chamou a atenção de um certo garoto de olhos prata. Mal tive tempo de receber minhas próprias cartas, as respostas de Olivaras e Tom, supus, e com certeza não tive nenhum para ficar feliz, uma vez que também me levantei e marchei em direção a cena patética que Malfoy insistia em protagonizar, o seguindo até o saguão de entrada.

— Do jeito que você enche a boca para falar sobre como foi criado, eu pensei que alguém teria te ensinado educação, Draco — arranquei eu mesma o pacote de suas mãos ansiosas, entregando para o dono. — Para se pegar o que é dos outros, tem de se pedir.

— Cale a boca, Lewis — ele me olhou com todo o desprezo que podia reunir, misturado a inveja do que quer que tivesse sentido no pacote. — Como se você soubesse o significado de educação. Logo você, que sequer teve pais e foi largada em um canto junto com outros rejeitados — e então se virou para Harry, puro despeito estampado em seus traços bem feitos e finos. — Você vai se ferrar desta vez, Potter, alunos do primeiro ano não podem ter vassouras.

— Não é uma vassoura qualquer, é uma Nimbus 2000. Que foi que você disse que tem em casa, Draco, uma Comet 260? — Ronald soltou uma risada fria e cruel ao se virar para Potter. — A Comet enche os olhos, mas não tem a mesma classe da Nimbus.

— Que é que você entende disso, Weasley, você não poderia comprar nem a metade do cabo. Vai ver você e seus irmãos têm de economizar para comprar palha por palha.

— Que trabalho seria, Malfoy, mas eles ao menos teriam capacidade para todo o cálculo. E você? Pediria ao papai para subornar as palhas malvadas e fazer com que elas se contassem?

Aquilo poderia ficar feio. Tinha todas as chances de ficar péssimo. Com o rosto de Malfoy se contorcendo de raiva e os dedos de Crabbe e Goyle se estalando perto de mim (estavam a apenas alguns passos, barrando o caminho dos grifinórios). Mas bem nessa hora, o professor Flitwick apareceu do lado de nosso grupo pouco convencional e claramente hostil.

— Não estão brigando, crianças, espero — ele usou o tom que os adultos usam quando querem lhe dar uma pequena chance de fugir de seu erro, de negar sua falha mesmo que estava muito claro que você a cometeu. Mas claro que Malfoy era burro o suficiente para desperdiçar.

— Potter recebeu uma vassoura, professor — ele disse depressa, os olhos quase brilhando de excitação. Arqueei uma sobrancelha em desdém para ele, a cabeça inclinada em quase repulsa. Isso fez o brilho irritante se apagar.

— Eu sei — o professor de feitiços estava com um enorme sorriso para Harry. — A Profa. McGonagall me contou das circunstanciais especiais, Potter. E qual é o modelo?

— Uma Nimbus 2000, professor — Potter respondeu com um sorriso largo, os olhos brilhando e os cantos da boca tremendo pela dificuldade em esconder a gargalhada diante do choque, quase horror, que cortava a expressão de Draco. — E, para falar a verdade, foi graças ao Draco aqui que ganhei a vassoura.

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