Planos Póstumos

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Eu tinha que me lembrar de nunca, jamais, confiar um segredo ao Hagrid. O gigante era um dos seres de melhor coração que eu conhecia, mas estava justamente aí o seu problema: ingênuo demais para alguém daquele tamanho, o homem abria a boca fácil para qualquer um com boa lábia. Parecia quase incapaz de detectar a malicia em alguma conversa, o que fazia ser fácil arrancar alguma coisa dele contanto que não perguntasse diretamente.

E nem era eu que estava dizendo.

— E ele pareceu interessado no Fofo? — Harry fazia um esforço olímpico para controlar a voz e a manter neutra. Tinha que admitir que ele até conseguia resultados satisfatórios quando se esforçava, ainda mais considerando que havia acabado de ouvir Rúbeo contanto que um estranho o embebedou e o encheu de perguntas sobre Hogwarts, sobre sua vida e sobre o cachorro.

— Bom... pareceu... quantos cachorros de três cabeças a pessoa encontra por aí, mesmo em Hogwarts? Então contei à ele que Fofo é uma doçura se a pessoa sabe como acalmá-lo, é só tocar um pouco de música e ele cai no sono...

Se interrompeu, de repente, fazendo uma expressão de horror. Brilhante, Hagrid, mas queria saber se também percebeu a merda enquanto ainda estava bêbado ao lado do ladrão. Nenhum de nós se despediu do gigante antes de dar as costas para ele e seus refrescos (que havia oferecido logo quando chegamos), até pisarmos dentro do saguão de entrada.

Quantos anos o Hagrid tem?! — Disparei olhando para trás, em direção a cabana do mesmo. — Cair em uma conversinha dessas, só uma criança...

— E isso importa?! Já foi! — Toda calma que Potter conseguiu manter estava indo embora. — Temos de procurar Dumbledore. Rúbeo contou àquele estranho como passar por Fofo e quem estava debaixo daquela capa era ou o Snape ou o Voldemort, deve ter sido fácil, depois que embebedou Rúbeo. Só espero que Dumbledore acredite na gente. Firenze talvez confirme, se Agouro não o impedir. Onde é a sala de Dumbledore?

— Por aqui — chamei indicando a direção, sendo a única que a conhecia. A sala do diretor não ela longe, mas uma voz fez com que parássemos de andar antes de déssemos mais de três passos. Era apenas a professor McGonagall, carregando uma enorme pilha de livros em seus braços.

— Que é que vocês estão fazendo aqui dentro?

— É proibido? — Disparei com mais acidez que o normal, recebendo um empurrão de Mione e um olhar afiado da professora. 

— Queremos ver o Prof. Dumbledore — Granger chamou atenção de Minerva antes que ela me tirasse pontos ou colocasse em uma detenção. Serviu, pois a mulher se concentrou nela e esqueceu meu desrespeito.

— Ver o Prof. Dumbledore? — Ela repetiu devagar, seus olhos nos examinando através das lentes quadradas, claramente desconfiada das intenções de quatro primeiranistas. — Por quê?

— É uma espécie de segredo — Potter era o pior mentiroso que eu já tinha visto, quase tão ruim quanto Hagrid. Assim que soltou o desastre, as narinas de McGonagall se alargaram como se farejasse a mentira deslavada, e devia estar farejando mesmo.

— O Prof. Dumbledore saiu faz dez minutos — a voz da professora não ganharia nenhum concurso de simpatia. — Recebe uma coruja urgente do Ministro da Magia e partiu em seguida para Londres.

— Ele saiu? — Harry tinha a boca aberta e os olhos três vezes maiores. — Agora?

— O Prof. Dumbledore é um grande mago, Potter, o tempo dele é muito solicitado.

— Mas tinha que ser justo hoje?! — Reclamei em voz alta, atraindo novamente a atenção da mulher. Mas o menino da testa rachada estava frenético demais para deixar de falar.

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