Mente Aberta

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Quando todos já estavam encharcados e cansados, foi quando Potter decidiu que era hora de eu dar minha volta. Então, enquanto os Weasley já iam para a torre da Grifinória para se aquecer, eu e ele fomos em direção ao campo de Quadribol. O menino não hesitou por um segundo ao estender a vassoura para mim.

— Sabe montar, certo?

— Acho que fui nas mesmas aulas de voo que você, Cicatriz — devolvi com um sorriso. — Ao menos, na primeira vez.

— Certo, desculpe— Harry me devolveu um sorriso, talvez um pouco sem graça dessa vez. — Não precisa dar um impulso forte, ela é bem mais sensível do que as vassouras da escola.

Balancei a cabeça para seu conselho e observei ele dar dois passos para trás. Passei minhas pernas pelo cabo da vassoura e impulsei para cima. Potter estava certo, flutuei quase dois metros sem o menor esforço e então fiz todas as coisas que fariam Madame Hooch enfartar do coração em um primeiranista. Quero dizer, eu fiz ziguezagues, voltas, loopings, mergulhos e rolamentos o suficientes para começar a ouvir Potter gritando do campo, me mandando ter cuidado. Claro que seu desespero apenas me fez rir, e só aterrissei de novo quando parei de sentir completamente a ponta dos meus dedos.

— Caramba, Mal! Foi incrível! — Harry sorria enquanto eu desmontava de sua vassoura, os cabelos desarrumados e o a respiração arfante. — Você tem talento! Devia entrar para o time!

— Você sabe que eu entraria na sua maior rival, não sabe? — Provoquei com uma sobrancelha arqueada, fazendo-o rir.

— É verdade, esqueça, não chegue perto do time — rimos enquanto eu passava a mão pelo cabelo, tentando dar alguma ordem neles. — Sabe, eu estava pensando...

— Isso é perigoso.

— Engraçadinha — devolveu ajeitando seus óculos. — Você ainda não me explicou... você sabe. O que aconteceu no Dia das Bruxas.

Toda a euforia do voo foi substituída por uma sensação gelada que não tinha nada a ver com a neva em volta de nós. Meu sorriso caiu pela metade enquanto observava seus olhos muito verdes e igualmente concentrados em mim. Não tínhamos tido tempo de ter essa conversa. Até agora.

— Em primeiro lugar, sinto muito — comecei encolhendo os ombros. — Por ter entrado na sua cabeça assim. Foi isso que fiz. Dumbledore me explicou que se chama legilimência, é uma espécie de magia de permite que você leia as emoções e os pensamentos de outra pessoa. Por algum motivo, eu tenho um dom natural, quero dizer, eu não preciso fazer nenhuma magia de fato. Eu só... escuto, na maior parte do tempo. Mas as vezes, como naquele dia, eu faço de propósito.

Inclusive, dei tudo de mim para não fazer outra vez. Tudo porque Harry achou que era uma excelente ideia ficar em silêncio, com aqueles olhos verdes muito intensos pregados nos meus. Com os pés fincados no chão e as mãos dentro dos bolsos, devolvi o olhar dele da melhor forma que pude. Potter era bonito. A comida de Hogwarts o havia tirado da subnutrição e, se ignorasse as calças largas seguradas pelo cinto, o suéter Weasley lhe caia bem: o verde-claro combinando com o verde sonserina dos olhos. Os cabelos, muito pretos, ainda tinham um pouco de neve da guerra e segurei minha mão para não os bagunçar ainda mais, já pareciam, por si só, que cada mecha crescia para um canto.

— Não está fazendo de novo, está? — Finalmente falou, testando as palavras com cuidado. Não o culpava.

— Não — balancei a cabeça. — É uma violação, sei disso. Tem um motivo para, normalmente, seus pensamentos e emoções não chegarem a conhecimento alheio: são seus. Então eu... eu me fiscalizo com vocês. Hermione, Ronald, os gêmeos, você... eu poderia ouvir tudo a todo segundo, mas seria errado. Severo tem me ensinado...

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