A Morte

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Das minhas ultimas semanas em Hogwarts posso pontuar alguns acontecimentos.

A festa no Grande Salão foi até muito depois das dez horas, e acho que Minerva sequer viu quando Fred e Jorge me levaram pelo braço no meio da confusão direto para a Torre da Grifinória. Eu estava embriagada demais por tanta comida e tanta euforia coletiva para me importar com regras, então dancei e rugi com os leões até a madrugada, quando voltei para minha masmorra extasiada e satisfeita, um sorriso feliz fazendo par com meus passos leves e meio saltitantes.

Quando passei pela parede, deixei minhas pernas caírem em cima de um sofá de couro caro, meus olhos perdidos nas chamas esmeraldinas que ainda ardiam. Eram verdes como os olhos de Harry e calorosos também. Foi uma noite feliz para todos, mas para o órfão magrelo com uma cicatriz tinha sido o mais puro significado da palavra magia. Teríamos tempo depois para os assuntos ruins – trocar detalhes e achismos como o que havia acontecido lá embaixo, com Quirrell e Voldemort. Não naquela noite, teria sido uma ofensa.

Mas isso não significa que não houve lagrimas. Hermione providenciou bem esse departamento. Minha amiga quase quebrou minhas costelas, e chorou de preocupação e então de felicidade, então abraçou com ainda mais força naqueles braços finos e beijou meu rosto, chorando de novo. Leoa corajosa e com coração enorme, ficou apavorada quando viu eu e Harry desmaiados. Suas unhas tinham todas ido embora durante a espera do retorno da nossa consciência e, quando eu não voltei, ela chorou mais um pouco. Não teve nada que a tirou do meu lado durante a noite ou que a fizesse desistir de me fazer prometer ir visita-la durante as férias. Prometi que daria um jeito, eu sempre dava.

Já os Weasley eram a própria festa. Enquanto Ronald dizia que arrancaria minha "metida cara sonserina" se eu lhe desse um susto desses outra vez (e estava sorrindo enquanto dizia isso), os gêmeos soltavam fogos e explosões na torre, ignorados pela primeira vez por Percy, seu chato irmão monitor, mesmo ele embriagado com a vitória. Lino Jordan dançou comigo várias vezes e Neville também, com sua gravata amarrada na cabeça. O garoto tinha dois pés esquerdos e acabamos caindo, mas sequer ouvi sua desculpa – o resto da torre inteira achou uma excelente ideia se jogar no chão e fizeram isso aos risos e berros.

Eu não deixei de reparar, pois Lagrum me mataria se algum dia eu perdesse completamente a controle sobre mim e sobre os outros, em como Fred estava perto. Sempre perto. Seus toques eram gentis o bastante para minhas cicatrizes não formigarem, mas também foram constantes. No meu pulso, nos meus dedos, seu braço em meus ombros e sua respiração em meu rosto. Não liguei. Gostava de Fred. Ele era bonito e diferente de Jorge, com um sorriso mais maroto e olhos mais caóticos, mas também não liguei por tudo sempre se interromper quando eu era puxada para outro lugar. 

Queria estar com Lagrum agora, mas ele estava longe demais na floresta. Eu poderia vê-lo, de certa forma, na minha mente, mas não era a mesma coisa. A autorização para a Seção Reservada ainda estava guardada nas minhas coisas, mas agora não tinha mais motivos ou desculpas. O ano havia acabado, a Pedra estava salva e as provas feitas. Iria o mais rápido possível até a biblioteca antes que fosse tarde demais, queria meu amigo perto de mim. Mas uma coisa que aprendi no mundo da magia foi a ter cuidado com o que eu desejava, pois vai que alguém está ouvindo. No caso, recebi Draco Malfoy.

Eu devia ter cochilado por alguns minutos, embalada pelo cansaço e pelas chamas, mas acordei quando o senti por perto. Não me lembrava de alguma vez ter reparo em seu cheiro – artificial e sofisticado. Até ali o garoto era embalado como o aristocrata que nasceu para ser, com sabonetes e perfumes requintados e, aposto, com um preço de vários algoritmos. Tive curiosidade para descobrir como seria o verdadeiro cheiro de sua pele, o gosto da sua essência. E então fugi. A terra entre o mundo dos sonhos e o real era mesmo perigosa.

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