Natureza Humana

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Pela primeira vez, lamentei quando a madrugada começou a recuar. Ainda não estava pronta para voltar para escola e ignorar tudo que já sabia. A ideia de encarar Snape era vergonhosa. A lembrança havia sido claramente uma armadilha, uma que eu cai. Seja qual fosse o final da conversa que vi, eu havia lhe confirmado o que precisava saber quando sai correndo como uma garotinha assustada.

De um modo infeliz, ficar entocada na floresta não era o jeito de provar de que estava enganado. Maior do que minha vergonha era a sensação de pura repulsa ao cogitar deixar meu professor imaginar que eu estava encolhida em algum canto, escondida do mundo malvado. Por isso deixei Lagrum para trás e voltei para o castelo, os ouvidos bem atentos a qualquer latido ou barulho quando passei pela cabana de Hagrid ou as patas macias de madame Nor-r-ra quando entrei no saguão de entrada. Tinha sorte de minha sala comunal ser tão próxima da entrada e não demorei a estar segura em meu dormitório.

Uma vez lá, o peso das minhas escolhas apressadas caiu em cima dos meus ombros outra vez enquanto ia para o banho e separava meu uniforme sujo para os elfos darem um jeito rápido (eu teria que os visitar e agradecer, qualquer dia). Havia sido uma péssima ideia não ter dormido, pois hoje começava minha detenção com Minerva e eu não fazia ideia do que esperar dela. Eu sabia que, até agora, havia dado muita sorte de todas minhas detenções serem diretamente com os professores e não com Filch – já tinha ouvido falar que ele colocava alunos para esfregar toda a galeria de troféus duas vezes. E talvez a vida mansa de Hogwarts estivesse me fazendo mal, mas aquele lugar era enorme e cheio de quinquilharia. Só me imaginar esfregando tudo noite a dentro fazia com que meus braços pesassem chumbo.

Tenho que agradecer, porém, que minha vida havia encontrado uma balança funcional. Mesmo que existissem momentos terríveis, eu era recompensada com calmarias refrescantes, e vice-versa. Meu dia começou provando que não seria um desastre tão grande quanto o anterior quando minhas colegas de dormitório decidiram que já haviam chegado ao seu limite de direito para sentir raiva de mim. Pansy, inclusive, me intimou a parar de palhaça e tratar de recuperar os pontos perdidos. Ela havia feito isso com a boca cheia de mingau no café da manhã, mesmo assim fiz a cara mais séria que pude – foi Sue quem riu dela.

O restante do pessoal de minha casa também começou a parecer desinteressado em fofocar ruindades sobre mim, se dignando a me lançar alguns olhares rancorosos. Admito que isso me fazia querer cruzar os braços e deixar a Sonserina ter a pior derrota em seis anos, mas se eu tinha decidido voltar a minha vida normalmente isso incluía ser uma sabe-tudo que ganhava pontos em todas as aulas. 

Mesmo a detenção com McGonagall não foi tão ruim. Ela era uma mulher bastante justa, afinal, e apesar de sua detenção ser quatro vezes por semana (incluindo no sábado), duraria apenas duas semanas e não era nada chato. Na verdade, enquanto arrumava os livros das aulas e folheava os exercícios antigos, era uma ótima forma de estudar. No final, nada ficou tão ruim quanto aparentava ficar e ainda tive que ouvir Lagrum debochando da minha cara, me chamando de desesperada e dramática. Cobra desgraçada.

Hogwarts era, definitivamente, uma escola esportiva. A medida que a próxima partida de Quadribol se aproximava todos os corredores e grupos de alunos pareciam focados nisso. O jogo seria Grifinória contra Lufa Lufa e as apostas estavam bastante equilibradas. Se fosse um jogo usual, não tinha duvidas de que as pessoas tenderiam para a casa vermelha e dourada. Porém, a noticia de que era Snape quem iria apitar (uma vez que a saúde de madame Hooch foi atingida pelo tempo chuvoso e frio) se espalhou rápido e quase todo mundo (incluindo o fanático do Wood) estavam apostando que Severo iria dar um jeito de favorecer os texugos de todas as formas possíveis apenas para prejudicar sua casa rival.

Potter, apesar de se manter firme em sua decisão de jogar, ia ficando cada vez mais nervoso e não era preciso ler sua mente para perceber isso, pois Hermione e Rony viviam olhando para ele com uma cara preocupada que mudava rápido para uma cética quando ele respondia que estava bem. Além de se preocupar com sua próxima escapada da morte, ele havia contado que os ânimos do time estavam tensos: estavam todos ansiosos e na expectativa de garantir a frente da Sonserina no campeonato entre as casas (já que, a cada dia, eu restaurava mais e mais pontos), mas tinham duvidas se conseguiriam com o juiz em questão. Logo, a responsabilidade de terminar o jogo logo era toda de Harry: que ele apanhasse o pomo de uma vez para não deixar o jogo desenrolar e dar muitas chances à Snape.

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