Sangue de Cobra

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Se possível, Rony amarrou ainda mais a cara enquanto eu tirava minha amiga dali em meio uma risada, a mancha de sangue de Draco Malfoy na parede melhorando em muitos níveis meu estado de espírito. Até chegarmos em nossa cabine outra vez, o trem com certeza já havia diminuído bastante a velocidade e o céu estava de uma cor roxa profunda. Quando o maquinista avisou que deveríamos deixar qualquer mala dentro do trem, esperei Hermione se trocar para pedir privacidade. Ela olhou para minhas mãos marcadas quando o fiz, e apesar de ter de morder os lábios para isso, não falou nada ao sair.

As vestes longas e pretas de bruxo me serviram bem, apesar de serem de segunda mão. Ajeitei-as o melhor que pude e murmurei para Lagrum ficar calmo e não, sabem, morder ninguém ou coisa parecida, ele provavelmente seria levado para meu quarto e eu traria pedaços grandes de carne para compensar o contratempo. Ele me xingou de algumas coisas feias, mas prometeu se comportar.

Quando o trem finalmente parou houve um tumulto básico para se chegar à porta e descer na pequena plataforma escura. Estreitando os olhos, avistei casas ao longe e cheguei à conclusão que estávamos em Hogsmeade. O fato de Hermione não parar de espichar o pescoço para tentar ver ao redor apenas comprovava isso.

— Que frio — ela reclamou, apesar de não estar com cara de quem estava realmente prestando atenção na temperatura, então encolhi os ombros para ela. Lagrum sempre disse que eu tinha algo de réptil em mim, já não sentia tanto frio ou calor quanto as pessoas a minha volta, e literalmente precisava de um pouco de sol para me sentir quente em algum dia.

— Alunos do primeiro ano! Alunos do primeiro ano aqui! Tudo bem, Harry? — O maior homem que eu já havia visto estava sorrindo para Harry, não muito distante de nós. Usava um casaco grande e bege, de aparência velha e gasta, e o cabelo negro se misturava com a barba, cobrindo seu rosto quase inteiro. Mas ainda era possível ver seus olhos escuros pequenos e brilhantes e aquele sorriso bobão. Apesar de ter uns bons dois metros de altura, ou mais, ali estava alguém com um coração genuíno. — Vamos, venham comigo. Mais alguém do primeiro ano?

O homem nos fez segui-lo por um caminho muito escuro e íngreme, o que resultou em muitos tropeços e escorregões coletivos. O cheiro me dizia que havia muitas arvores ali em volta, mas estava tão escuro que nem eu conseguia ver alguma coisa. Deviam estar todos muitíssimos concentrados em não cair, pois ninguém abriu a boca. Isso, pelo menos, até o homem fazer com que sua voz assustasse algumas das crianças.

— Vocês vão ter a primeira visão de Hogwarts em um segundo — gritou por cima do ombro. — Logo depois dessa curva.

Eu juro que não fomos treinados para isso, mas qualquer um que visse duvidaria. Soltamos todos "ah", "oh" e "uau" muito alto e muito sincronizados. O caminho estreito se abriu de repente na margem de grande lago. Podia ser a noite, mas suas águas me pareciam tão negras quanto as escamas de Lagrum e isso me fez me mexer de preocupação. Esperava que ele estivesse bem. Mas, sendo um pouco egoísta, eu tinha uma visão um pouco mais impactante do que a situação do meu amigo. Do outro lado do lago, no topo de um penhasco, havia um imenso castelo. Mil janelas brilhavam na escuridão e eu podia ver muitas torres, grandes e pequenas, se erguendo no céu estrelado. Era a coisa mais bonita que eu já tinha visto.

— Só quatro em cada barco! — Gritou o homem outra vez, apontando para um fila de barquinhos parados na margem do lago. Vi Harry e Ronald indo para um deles e os segui bem de perto com Hermione. O homem grande tinha um barco só para ele, claro, já que ninguém mais caberia, e depois de se assegurar que estavam todos acomodados, fez com que toda a fila se lançasse nas águas de uma só vez. Todos continuaram em silencio, os olhos apenas naquele imenso castelo que parecia ficar cada vez maior a medida que chegávamos mais perto.

Abaixamos as cabeças quando ele mandou, ao chegarmos ao penhasco. Atravessamos então uma cortina de hera que escondia larga abertura na face do penhasco, como um porto natural. Entramos direto em um túnel escuro e liso que nos levava com calma e tranquilamente por baixo do castelo até um cais subterrâneo, onde desembarcamos pisando em pedras e seixos.

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