Duelo de Vontades

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Eu estaria mentindo se dissesse que nunca o senti antes.

Ele – meu pesadelo, meu monstro, meu bicho-papão. A criatura sombria que rastejava dentro de minhas entranhas, ameaçando rasgar minha pele e devorar minha alma. Talvez tenha sempre estado comigo, mesmo que me lembrasse tão pouco de sua presença em meus anos mais ternos. Mas estava, pois, nada no mundo simplesmente surge de uma hora para outra. Ele foi se construindo, se alimentando e crescendo a cada dia, a cada pequeno pensamento, a cada pequeno gesto... até se soltar.

A noite em que minhas mãos se mancharam para sempre um perdi um pedaço de mim para ele. A noite em que meus olhos viraram uma assinatura e meu corpo se marcou, se recusando a me deixar esquecer. Podia senti-la agora, a maldita marca, queimando em cima do meu coração, muito mais forte e insistente do que vinha me acostumando. Era costume senti-la arder quando me irritava, quando chegava ao ponto de o mundo ficar vermelho. Porém, assim como meus olhos, costumava ser temporário.

Mas não agora.

Minha agitação foi o bastante para despertar Lagrum, que se mexeu e silvou da floresta, ameaçando vir até mim. Proibi, pois nada de bom sairia de sua aparição. Eu iria até ele quando acabasse, para lhe acalmar ou para o recolher e voltar ao mundo dos trouxas, já não sei. A perspectiva de ser expulsa não era nada agradável, mas eu tinha uma promessa a cumprir. E eu era alguém de palavra, quando a dava.

Encontrei Draco Malfoy ainda rindo nas masmorras, na companhia de seus seguidores sem cérebro. Crabbe, Goyle e Nott. Todos eles amontoados perto da entrada da sala comunal, ouvindo qualquer bobagem que seu líder tinha a dizer. Puxei minha varinha do meu coturno, meus olhos se concentrando na figura loira que ainda não tinha me visto. Geralmente, não atacava ninguém que sequer estivesse olhando em minha direção. Mas Malfoy não tinha qualquer pingo de honra ou dignidade, logo eu também não deveria ter.

Apontei a varinha para ele e agradeci novamente a Garrick por ser tão bom no que faz. Não precisei falar, a varinha me entendeu, entendeu minha magia. O feitiço Alarte Ascendare disparou em direção a Draco, o acertando em cheio e o lançando para cima antes que caísse com violência no chão. Os sorrisos de seus companheiros morreram e eu tinha pouquíssimo tempo antes da confusão se alastrar. Estávamos perto da sala de Snape e em frente a nossa sala comunal – não iria demorar até alguém aparecer.

— Você vai morrer, Lewis — Crabbe rosnou, os olhos cruéis mirando em mim. Lhe devolvi um sorriso suave, meus olhos brilhando no mundo vermelho enquanto a marca em meu coração queimava. Hoje, eu atenderia seu desejo. Apontei minha varinha para ele, também, e o Immobulus o fez congelar no lugar. Tão parecido com o Feitiço do Corpo Preso, mas muito mais prático. Joguei também em Goyle, e então me concentrei em Malfoy outra vez. Ele já havia levantado, com a varinha na mão e os olhos brilhando de ódio, empurrando Theodoro para longe. 

— Eu te fiz uma promessa, Malfoy — ronronei. — Eu disse para não me ofender e manter sua repugnante existência apenas para quem interessasse a reconhecer.

— Não me lembro de ter feito alguma coisa contra você, Lewis— ele rosnou de volta, os dentes trincados e a varinha apontada para mim. Balancei a cabeça para ele, impaciente.

— Considero a ação covarde de atacar um menino mais fraco uma ofensa pessoal.

Seus olhos gelados se estreitaram, a postura reta e o cabelo tão milimetricamente arrumado para trás todo bagunçado. Não demorou a apontar a varinha para mim, gritando o feitiço das cócegas, Rictusempra, que consegui desviar unicamente pelos malditos botes de Lagrum. Me amaldiçoei por não me lembrar de nenhum feitiço defensivo e culpei meu histórico enorme de não levar lutas longas – preferia bater com o máximo de força que conseguia e não dar chances para revanche.

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