DOIS

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DOIS.

No dia seguinte, minha mãe estava acordada cedo demais, ela falava ao telefone e parecia estar aflita, mas quando percebi que estava falando com minha tia do Rio de Janeiro. Seu ânimo mudou. Ela falava com um sorriso no rosto, e ajeitava os cabelos, mas não foi difícil falar da discussão de ontem com minha tia, ela derramou algumas lágrimas enquanto dizia. Eu havia dormido com ela ontem, estava tão fraca, coitada. A noite parecia que foi a pior noite do mundo.

Quando ela desligou o telefone, desce as escadas e fui a sua direção. Estava comendo seu pão integral e me olhou com um sorriso. Retirou um sanduíche de peru da geladeira apoiado em um prato de vidro azul e colocou à minha frente. Sorriu forçada, ainda de boca cheia e fez um cafuné nos meus cabelos. Ela voltou para a sala e pegou seu celular. Conversara com alguém no WhatsApp. Eu a olhara querendo dizer algo, mas não conseguia. Aproximei-me novamente e ela me olhou.

— O que foi querido? Coma seu lanche...

Eu olhei para o sanduíche.

— Mãe... Você nunca me deixa comer sanduíche no café da manhã. Sempre me dá uma fruta ou pão com manteiga e café com leite.

Minha mãe engoliu em seco.

— É verdade. Mas revolve mudar. — ela voltou a olhar para o celular.

— Mãe, me desculpa. Eu não queria que passa-se por aquilo. Era eu que deveria dizer aquelas coisas para ele, não você. Eu não... Eu não queria que isso acontece-se. Agora não temos lugar para ir.

Minha mãe me olhou com um sorriso sarcástico.

— Rapazinho, você acha mesmo que se eu quisesse ficar aqui, iríamos embora?

Eu a olhei sem entender.

— Então...?

— Júlio, eu conversei com a sua tia, antes da briga de ontem, ela me ofereceu um emprego no Rio de Janeiro na firma dela. Eu estou quase um ano desempregada e você sabe que preciso arrumar um emprego. Eu e seu pai íamos nos divorciar de uma maneira ou de outra. Só estava esperando o momento certo. Só isso.

— Então vamos para o Rio?

— Sim. — ela sorriu. — Você irá estudar em uma escola nova e vai morar perto da Bianca.

Bianca era a minha prima por parte de mãe. Eu nem conhecia direito meus parentes por parte de pai. Ela era uma garota fantástica e eu a admirava muito. Ela morava aqui em São Paulo. Mas há muito tempo se mudou para o Rio. Há sete anos e meio. Ela foi a primeira pessoa que contei que era gay. Por que ela sim era muito especial para mim. Muito mesmo.

— E quando vamos?

— Daqui a dois dias. Eu preciso passar no banco e depois para comprar algumas coisas para a nossa viagem.

— Tudo bem. Vou arrumar minhas coisas.

Romeu e JúlioOnde histórias criam vida. Descubra agora