Dia 11 de agosto de 2016.
No dia seguinte, quinta-feira, me levantei para ir a escola. Minha mãe já estava pronta e tomara seu café à mesa. Eu não tomava café antes de ir para a escola, sempre comia no recreio. Agora ainda mais que eu tinha o meu grupo pessoal. Bem, quase pessoal. Eles eram amigos da Bianca e já meus "colegas".
Fui para o banheiro e tomei um banho rápido. Quando sai, enrolado na toalha, fui para meu quarto e me viste. Não demorei muito, faltavam 25 minutos para as 7, chegávamos em 15 minutos na escola. Sai do quarto já pronto e desce as escadas com minha mochila em mãos. Minha mãe me olhou rapidamente e abriu a porta, saiu com presa e foi em direção ao carro. Tranquei a porta e coloquei a chave em um dos bolsos. Entrei no carro e minha mãe sorriu e me beijou na bochecha. Sussurrei um "bom dia" caloroso e partimos para a casa de Bianca.
Bianca entrou no carro sem olhar nós nossos olhos. Ela parecia estar nervosa, nem mesmo estava com seu celular em mãos. Minha tia estava à porta e gritou:
— Tenha um bom dia, senhorita Bianca. Quando chegar da escola ainda iremos conversa. E nada de ir para casa do Júlio!
Bianca a ignorou.
— Tia, pode andar logo, por favor?
Minha mãe acenou para sua irmã e partimos em direção a escola.
— O que aconteceu com você, Bianca?
Ela olhou para minha mãe.
— Discuti com a minha mãe.
Eu a olhei pelo retrovisor.
— E posso saber por que discutiram? — perguntou minha mãe.
Bianca ficou calada por alguns segundos.
— Nada demais. Coisas de casa. Podemos ir para a escola sem mencionar nisso, por favor?
Olhei para minha calça tentando encontrar o vazio. Eu queria ajudar Bianca de alguma maneira, mas ela não queria papo por hoje. E parecia que não iria querer o resto do dia. Eu a olhei mais uma vez assim quem chegamos. Bianca saiu do carro tão rápido que nem pude perceber.
Minha mãe e eu ficamos olhando-a enquanto ela ia em direção a seus amigos. Eu olhei para minha mãe e lhe dei um beijo de despedida, ela me deu outro beijo e fez um cafuné em minha cabeça. Sim, bagunçou um pouco dos meus cabelos, mas isso agora não importava muito. Sai do carro e fui em direção aos amigos de Bianca, mas ela já parecia ter ido para a aula. Falei com todos e também fui para minha sala. Alguns dos amigos de Romeu estavam presentes, três deles, Felipe e os gêmeos loiros. Eu os olhei e depois olhei para toda a sala. Estava um pouco vazia. Sentei-me quase na frente e peguei o celular do bolso. Enquanto a professora não chegara, via minhas mensagens de e-mail. Não tinha nada importante.
— Bom dia, alunos! — a professora chegou. Era magra dos cabelos negros até a cintura. Vestia um vestido verde florido e bem confortável. Eu a olhei de cima a baixo. Era uma mulher muito bonita. — Para quem não me conhece, eu me chamo Serena. Sou professora de geografia. — ela deu risadas. — Bem, vamos começar a aula.
Abri meu caderno na matéria de geografia. Escrevi o nome da professora em baixo da data e comecei a escrever o que ela passara. Parecia que esse bimestre iríamos estudar sobre a xenofobia. Era sim um tema ótimo que abordava preconceito. Uma coisa que muitas das pessoas tinham, mas não sabem o que é.
De repente, senti algo bater em minha cabeça. Mas eu não sabia o que era. Virei metade do rosto para lado e fiquei encarando alguns dos alunos que estavam ao meu lado e na minha diagonal. Virei novamente para frente e continuei a escrever. Novamente, outra coisa bateu em minha cabeça. Parecia ser a mesma coisa.
Coloquei a mão sobre meus cabelos e nada senti. Fiquei olhando um tempo para os lados. Mas voltei a escrever, quando a terceira bolinha de papel atingiu minha cabeça, eu olhei para trás. E lá estavam os amigos de Romeu, olhando-me e sorrindo sarcasticamente. Voltei a escrever e ouvi risadas baixas de alguns deles. Novamente, outra bolinha veio em mim, mas não me tocou e sim caiu em minha mesa. Olhei para trás com rapidez e os encarei. Felipe ainda me olhara com um sorriso, mas outros estavam sérios.
— Dá para vocês pararem?!
Eles me olharam fixamente. Sérios.
— Do que está falando?
— Estou falando das bolinhas de papel! Dá pra parar?
Eles se olharam e deram risadas.
— Você está maluco? Não atiramos nada em você.
— E eu sou idiota, por acaso?
— Eu acho que é! — disse um dos gêmeos.
Quer saber? Deixa pra lá. Não vale apena discutir com umas pessoas dessas. Virei-me e continuei copiando a matéria do quadro. Quando outra bolinha me acertou, desta vez, mas forte.
— Professora! — gritei. Ela me olhou e fiquei encarando-a por alguns segundos. Disse o que estava ocorrendo. Ela olhou para Felipe e os gêmeos.
— Qual é o seu problema, Felipe? — ela se aproximara dele.
— Professora, — ele dizia com risos. — Ele que estava nós tacando bolinhas. Nós só estamos nos defendendo.
Eu o olhei com desprezo. O quê? Eu atirei bolinhas nele? Que miserável!
A professora me olhou desconfiada.
— Não é verdade. Eles começaram. Pode perguntar a qualquer um.
A professora olhou para o resto da turma. Todos se afastaram de nós e continuaram com a cabeça baixa. Felipe largava um sorriso de "vingança concluída".
— Olha só, eu não quero mais saber de bolinhas de papel voando pela sala, vocês me entenderam?
Assentimos. Todos juntos.
— Que bom. — ela olhou para Felipe. — Felipe, se eu me virar e não ver o senhor copiando vai para a diretoria, ok?
Felipe concordou em dizer nada. Começou a escrever e naquele momento, me deixaram em paz.
Quando a aula terminou, saí da sala e fui em direção ao recreio. Algumas pessoas bateram de frente comigo. Principalmente alguns meninos. Olhei para o rosto de alguns que me encaravam quando se distanciavam.
Felipe foi um deles, esbarrou comigo tão forte que a mochila que estava em meu ombro caiu. Eu o olhei com desgosto e me baixei para pegar a mochila, ele já tinha ido. Quando me levantei. Esbarrei com mais alguém. Desta vez, era mais alto que eu e mais forte. Romeu me olhava com seriedade. Mordia um pedaço de maça e quando a engoliu, sorriu para mim.
— EI! Olha por onde anda.
Eu o olhei fixamente. Afastei-me dele e fui em direção ao recreio.
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Romeu e Júlio
RomanceJulio é um jovem de 17 anos que depois de uma discussão com seus pais se mudou de São Paulo para o Rio de Janeiro. Nunca foi fácil fazer amizades, ainda mais se sentindo sozinho e com o medo das outras pessoas saberem sobre seu verdadeiro eu. Na nov...