VINTE E UM

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Dia 29 de agosto de 2016.

Na segunda feira, minha mãe me levantou no mesmo horário e buscamos Bianca em sua casa de carro como sempre. Ela ainda estava muito animada por ter ido ao show e ainda mais animada por voltar à amizade que tinha com a menina que a acompanhou. Minha mãe nos deixou na escola e partimos em direção a sala de aula. Bianca iria ficar na minha sala para a aula de filosofia que teríamos. Os alunos estavam bagunceiros demais. Atiravam bolinhas de papel e tudo que é coisa uns nos outros. Quando o professor chegou, todos se inquietaram em silencio. Ele era alto e careca. Usava uma camisa social colorida e uma calça jeans surrada. Colocou sua bolsa preta na mesa e olhou para todos os alunos que também o olhavam com um pouco de medo.

— Bom dia a todos. Para que não me conhecem eu me chamo Carlos, sou o professor de filosofia de vocês. — ele mantinha sua cara séria, e nem demonstrava um sorriso se quer. — Bem, eu não vou começar colocando matérias no quadro, vou começar esse terceiro bimestre fazendo algo diferente. Toda a turma irá fazer um trabalho em dubla.

Bianca me olhou e sorriu. Retribui ao sorriso e voltamos a olhar para o professor.

— Meninos com meninos e meninas com meninas.

A alegria no rosto de Bianca sumiu. E ela ficou desapontada olhando para o professor. Afastou-se de mim um pouco e apoiou seu cotovelo na mesa, e sua cabeça na palma da mão. O professor começou a chamar nomes das dublas. Todos se assustaram e questionaram quando descobriram que ele iria fazer as dublas. — se o seu professor ou professora também quisesse escolher alguém por você, tenho certeza que iria ficar bravo. Quem não ficaria? — Ele chamou os nomes um por um até chegar a Bianca, que foi uma das últimas. Ela iria ficar com Dulce, uma menina ruiva e esquisita que sempre se sentara atrás de todo mundo e não queria fazer nada dos deveres. (Pelo menos era o que Bianca me contou.) Ela olhou para a menina e bufou desgostosa. Eu olhei para ela também e devolve meus olhares à Bianca.

— O que foi?

— Eu não quero fazer o trabalho com essa garota. Odeio-a!

Dei risadas.

— Não se preocupa. Logo, logo, vai acabar.

Ela me olhou e fez uma cara de deboche. Atirou a cabeça na mesa e gemeu de frustração.

Todos os nomes foram chamados, menos o meu.

— Professor? — levantei a mão. — O senhor não me chamou.

Ele me olhou fixamente. Fez uma cara de "quem é você".

— Quem é você?

Eu o olhei e engoli em seco. Outros alunos também me olhavam.

— Júlio Pereira. — gaguejei. — Senhor.

Ele olhou na lista dos nomes.

— Ah, sim. Você é aluno novo. Claro que é — reclamou com sussurros — Bem, todos já foram colocados em suas dublas não sei o que fazer com você. — ele me olhou. — Acho que... — Voltou à lista.

A porta se abriu lentamente. Romeu entrou com seu casaco do time da escola, azul e cinza. Uma mochila de uma alça só da Nike ao lado do seu quadril, e seus grandes fones de ouvidos brancos. Ele olhou para o professor e sorriu forçado. Tirando os fones lentamente.

— Bom dia, senhor Santos. — sorriu com mais espontaneidade. — Desculpe pela demora, eu...

— Romeu Garcia! — ele disse com comemorações sarcásticas. — Eu não me surpreenderia se ti visse novamente no terceiro ano. Como nas outras duas vezes. — sorriu.

Romeu e JúlioOnde histórias criam vida. Descubra agora