VINTE E TRÊS

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Dia 1° de setembro de 2016.

Na manhã seguinte, depois da escola, voltei para casa junto de Bianca. Conversamos bem pouco, sobre coisas que não chamavam nossa atenção na escola. Não falamos mais sobre Romeu ou sobre mim, e nem mesmo lhe falei o que aconteceu ontem. Quando eu não sabia se ele estava querendo me fazer mal ou bem. Hoje eu não o vi na escola e nem na aula de química, a aqui ficaríamos na mesma sala. Luiza já tinha voltado de viagem e fez um trabalho em dubla comigo. Tiramos quatro, a nota máxima era 5, então, acho que fomos bem. Eu sorri quando dizia isso pra Bianca. Ela nem demonstrava muito interesse para comigo. Apenas quando eram coisas de seu interesse. Nós conversamos um pouco sobre Romeu e eu. Bianca decidiu me ajudar no que eu precisasse, eu só não sabia se poderia contar mesmo com sua ajuda.

Quando cheguei em casa. Percebe que a TV estava ligada e minha mãe estava em casa novamente falando ao telefone da cozinha. Suas malas estavam na sala eu pensei que iríamos voltar para o Rio.

Engoli em seco e depois voltei meus olhares para ela. Desligou o telefone e se aproximou de mim. Seus cabelos pretos estavam presos. Vestia uma linda roupa florida. Ela me deu um beijo na testa e sorriu.

— Como foi à escola?

— Foi bem. — responde sorrindo forçado.

— Meu amor. Eu tenho que conversar uma coisa com você, uma coisa urgente. — nós fomos para o sofá e minha mãe segurava minhas mãos.

— Diga.

Ela suspirou.

— Eu terei que ir viajar por alguns dias.

Eu fiquei em silêncio. Como assim ela iria viajar sem me comunicar?

— Por quantos dias?

— Uma semana. Ou menos que isso. Viajem a trabalho pra minas gerais. — sorriu forçada. — Tudo bem para você, né?

Suspirei. Tentando ter confiança.

— Mas, mãe. Meu aniversario está chegando.

— Eu sei, meu amor. Mas esse dinheiro extra vai mudar nossas vidas. Eu vou ti levar pra viajar. — ela sorriu com risadas eu também.

— Pra onde?

— Ah talvez para fora do país... Orlando! Você sempre quis conhecer os estúdios de Harry Potter, então...

Eu a abracei. Trocamos risadas e sorrimos até tudo voltar à normalidade.

— Tudo bem pra você?

— Sim, tudo bem. — menti.

Ela sorriu e me abraçou forte.

— Bem, tem tudo na geladeira e tem dinheiro na minha carteira que está no meu quarto, ok?

— Tudo bem. Eu vou ficar bem, mãe.

Ela sorriu e voltou a retocar a maquiagem. Quando saiu da cozinha, a porta tocou algumas vezes. Minha mãe correu para atendê-la e viu Romeu do outro lado. Ela ficou calada e trocava olhares com ele.

— Você aqui?

Ele assentiu.

— Mãe, — me aproximei. — Lembra quando eu disse que eu iria fazer um trabalho com o Romeu? Marcamos pra hoje.

Ela e olhou, desconfiada.

— Sim, eu me lembro. — sorriu forçada. — Pode entrar, Romeu.

Eu o olhei. Ele vestia roupas largas e usava um óculo de coruja. Entrou lentamente e fomos para a sala.

— Romeu, — ela começou. — Eu espero que você apenas faça seu trabalho com o Júlio e é só. Porque se você fizer algo com o meu filho, não é você que vai pra cadeia, sou eu que vou por matar um jovem. — ela o olhava como uma fera.

— Eu não vou machucar seu filho, senhora Pereira.

— Não vai? — ela sorriu forçada. — Tem certeza? Você já fez isso antes.

— Mãe! — a chamei atenção. — Você não tem um avião para pegar?

Ela assentiu e olhou para Romeu com olhos de águia.

— Tudo bem. — ela começou a levar as malas pro carro com a minha ajuda. Assim que estamos na porta, Romeu nos olhará se despedindo. — Toma cuidado, filho. Vou avisar a Bianca para cuidar da sua festa. — fiz uma cara de decepção. — Não faça essa cara. Você terá uma festa sim. — ela sorriu. Voltou a olhar para Romeu e seu sorriso mudou. — Júlio, — disse em alto tão. — Você sabe meu número. Se acontecer algo, me ligue que volto correndo. Com pé-de-cabra nas mãos. — voltou a olhar para mim e me deu um último abraço e um beijo.

Entrei em casa e fechei a porta.

— Sua mãe continua sendo sua superdefesa — sorriu.

— Ela é sim. — sorri. — Algum problema?

— Nenhum, nenhum. — ele retirou os óculos. — E o que faremos agora?

— Vamos subir para meu quarto. Tenho algumas idéias.

Subimos as escadas brancas e atravessamos o corredor até meu quarto. Romeu entrou e pediu licença antes. Eu nunca pensei que ele teria educação. Se sentar na cadeira ao lado da que eu estava sentado em frente ao computador e me olhou.

— A minha idéia será melhor que todas as outras duplas da sala. Isso é claro, se você concordar. — sorriu.

Ele sorriu de volta e assentiu.

— Tudo bem. — abri uma página na internet do computador. Falava sobre pessoas que sofreram racismo, intolerância religiosa e homofobia. — Nesse site eu vi as pessoas dizendo o que passaram o que sentiram antes e depois dos atentados preconceituosos. Aí eu tive a idéia de não fazermos uma pesquisa e colar na cartolina como a maioria dos alunos iram fazer. E sim, entrevistar pessoas que passaram por isso.

Ele me olhou espantado.

— A idéia não é má. — coçava o queixo.

— Claro que não. Só precisamos achar as pessoas e cuidar da equipe das câmeras e tudo mais.

— Eu posso cuidar do equipamento, se quiser.

— Tudo bem. Vou achar as pessoas na internet e iremos começar a nossa primeira entrevista amanhã.

Ele me olhou confuso, franzindo o cenho.

— Amanhã? Mas já? Nós nem achamos pessoas para...

— Eu conversei com uma das pessoas antes de ti comunicar. — sorri, envergonhado.

Ele sorriu debochado.

— Então? Pode ser amanhã depois da escola?

— Tudo bem. Amanhã então.

Romeu e JúlioOnde histórias criam vida. Descubra agora