Quando cheguei em casa, às 10:35 da manhã, percebe que minha mãe ainda iria ficar um bom tempo no trabalho. Eu tinha a casa inteira para mim. Poderia comer tudo, bem, quase tudo. A geladeira ainda não estava cheia. Deixei minha mochila na sala e peguei meu celular na estante. Tinha me esquecido dele. Ou melhor, não queria levá-lo para escola. Eu tinha um ritual sobre celulares e escolas. No primeiro dia, eu tinha que ver como era a escola, se segura, poderia levar meu celular, se não, ele ainda ficaria em casa. A escola parecia segura e aconchegante. Acho que não teria problema se eu o levasse aos outros dias.
Subi para meu quarto e liguei o celular. Estava em 95% de recarga. Ainda bem. Mas eu sabia que logo, logo iria descarregar. Peguei meu fone de ouvido e coloquei uma das músicas de Jorge Vercillo, lenta e melódica. Eu gostava muito de MPB, hip hop antigos e Rock Clássico. Eram os meus preferidos.
Eu não gostava muito de músicas rápidas e barulhentas. Eu gostava se sentir lentamente o som dos instrumentos em meu ouvido e sentir que aquela música poderia me tocar profundamente. Abri o aplicativo Whatsapp e logo uma mensagem da Bianca estava à amostra. Eu sorri. Ela nem esperou eu chegar em casa. A mensagem foi enviada às 10h26min, quando eu tinha saído da casa dela. Abri a mensagem que dizia: sua mãe ligou para a minha casa do trabalho, disse que irá chegar tarde. Ela não poderá mais ti ligar. Então eu pensei se poderíamos ir ao cinema. Quer ir? Fiquei olhando para as letras negras sobre a espaço verde. Pensativo. Eu queria mesmo ir ao cinema agora? O tempo estava agradável, eu tinha uma roupa legal, mas ainda tinha aquela pergunta, eu estava mesmo querendo sair?
"Não vou poder sair, Bianca. Tenho algumas coisas para fazer aqui em casa. Deixa para a próxima. — responde. Largando o celular em cima da barriga e olhando para o teto branco. Eu queria mesmo ter algo para fazer. Essa desculpa foi melhor do que eu dizer que tinha dever de casa, mas não. Bianca era da mesma turma que eu, pelo menos hoje.
Fui para a cozinha e abri a geladeira. Tinha um prato grande de lasanha de frango e um suco de caixinha. Coloquei um pedaço da lasanha no micro-ondas e fui para a sala. Ainda com o celular em mãos e o fone aos ouvidos. Liguei a TV e nada de interessante passara. Series de comedia, o jornal local falando sobre assassinatos, violência e o clima, programas evangélicos, comentaristas de futebol, programas culinários, — esse eu poderia deixar. Eu adorava cozinhar. — Enfim... Não tinha muuuuita coisa que me interessara.
Quando meu lanche estava pronto. Fui para a cozinha e o peguei. A cada garfada e mordida, eu trocava de canal. Em um dos canais que apenas passavam animes, eu olhei para a música de abertura de um tal chamado Another. Quis assistir. Tirei os fones e fiquei assistindo. A porta bateu umas três vezes. Olhei em direção a ela ainda ao sofá. Levantei-me e fui abri-la. Uma mulher de idade média, parecia ter 50 ou 55 anos. Era loira e gordinha. Vestia um short grande de academia florido, um tênis da marca Olímpicos preto e uma camisa branca grande mostrando o desenho de seus seios. Ela sorriu. Seus dentes eram grandes e amarelados. Eu a olhei sem dizer nada.
— Bom dia, meu jovem. — ela parecia estar animada. — Vocês são os novos vizinhos, estou certa?
Eu a olhei ainda sem dizer nada. Assenti e tentei sorrir.
— Seus pais estão aí?
— Não. Somente moro com minha mãe.
— Oh. — ela sussurrou. — Então, muito prazer. Eu me chamo Beth, ou senhora Pires como todos me chamam. — ela deu risadas altas. — Bem, vim aqui para lhe entregar uma coisa. — ela me entregou um folheto amarelado. — Vamos ter uma festa dos moradores desta rua com a outra rua. Todos iram ajudar como puder e mesmo que não tenham, também podem participar. — ela sorriu. — Será no dia 20. Avise a sua mãe e fale para ela me ligar. Meu número é o primeiro da lista.
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Romeu e Júlio
RomanceJulio é um jovem de 17 anos que depois de uma discussão com seus pais se mudou de São Paulo para o Rio de Janeiro. Nunca foi fácil fazer amizades, ainda mais se sentindo sozinho e com o medo das outras pessoas saberem sobre seu verdadeiro eu. Na nov...