OITO

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Dia 12 de agosto de 2016.

No dia seguinte à escola, Bianca parecia estar melhor. Estava mais animadinha como sempre, voltávamos a conversar sobre tudo e todos. Durante o recreio, a escola era realmente muito grande no número de alunos. Todos tinham suas mesas especificas, parecia que cada aluno tinha uma classe. A classe dos maiorais, — é claro que Romeu estava nela. — A classe das líderes de torcida, a classe das patrícias, dos jogadores de futebol. Ah, Romeu também era desta. A classe dos nerds, roqueiros, emos e punks — sim, eles se sentavam todos juntos — e outro tipo de classes que ainda não soubera. Mas também, tinha aquela que era a minha classe. "A classe dos não classificados". Aqueles que davam risadas e zoavam entre eles mesmos. E parecia ser a mais divertida de todas. Bem, pelo menos para mim.

Bianca conversara com Luiza e Claudia sobre alguns garotos que achavam bonitos. Eu não queria me meter na conversa. Mas fiquei ouvindo tudo, calado.

Antônio e Albert me chamavam para saber se eu assistia The Walking Dead ou outras séries legais. Disse que assistia Pretty Little Liars. É claro que eles não gostaram muito, parecia uma serie para meninas. Ah! Quem se importa? Eles voltaram a conversar comigo sobre animes e games. Perguntavam-me coisas que muitas das vezes eu não entendia. É claro que minha atenção não estava mais neles, e nem em ninguém que estava ao meu lado. Olhei Romeu entrando na escola com sua gang pessoal. Ele usava um casado grande vermelho do time de futebol da escola e um boné azul com a aba para trás. Estava lindo hoje. Ai meu Deus. Eu ainda sinto algo por esse troglodita?! É isso mesmo, Júlio? Eu queria me atirar em um poço como dizia os indianos. Somente para esquecer aquele sentimento horroroso que estava nascendo. Fala sério. Eu sou gay e Romeu é hétero. Um romance entre nós dois não poderia existir. Nunca! Obviamente que nunca funcionaria.

Então, ele me olhou como um tiro. Eu fiquei com medo, medo não, fiquei sem reação. Era tarde demais para desfiar os olhares. Ele já soubera que eu o olhara, mas mesmo assim, consegui desviar os olhares. Ele continuou me olhando enquanto eu fingia prestar atenção na conversa de Albert e Antônio sobre Pokémon. Assim que percebe que ele não estava mais me olhando, o olhei novamente. E ele voltara a conversar com os garotos do time.

O sinal tocou. Levantei-me como todos os alunos, peguei minha mochila e fui junto com Bianca para o corredor das salas. Mais algo me impediu. Algo gelado e muito grudento. Algo que começou a formigar em minha pele da cabeça até o peito.

Quando tinha reparado, uma das amigas de Romeu estava com um copo descartável em mãos. E o liquido que ela estava bebendo, talvez nem estivesse, estava por toda a minha camisa. Por toda a minha cabeça. Aquele "acidente", vamos dizer assim, foi o causar de muitos olhares, pelo menos a metade dos alunos no recreio. Eu olhei para minha camisa cinza pólo e para os olhos da tal garota, ainda de boca aberta. Ela tirou alguns guardanapos do bolso e começou a me limpar. Estranho, não é? Quem carrega guardanapos no bolso?

Alguns dos alunos deram risadas altas. Ela também ria, via em seus olhos. É claro que ela tampara a boca. Não poderia ser tão burra não é mesmo?

— Me desculpe. Eu não queria que isso acontecesse, eu... — ela continuou a limpar.

Eu a mandei parar e me virei para ir em direção ao banheiro. Romeu estava na porta do refeitório e dava risadas altas quando passei por ele. Bianca e os outros me seguiram sem dizer nada e as risadas dos demais alunos ainda continuavam.

— Júlio, eu tenho certeza que ela fez de propósito! Tem que dar queixa.

Todos estavam no banheiro masculino. Inclusive as meninas.

Romeu e JúlioOnde histórias criam vida. Descubra agora