TRINTA E CINCO

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Dez anos haviam se passado.

— Ande, logo, Roberto! Você tem visita.

Meu pai se levantou da cama da cela em que estava. Havia outros quatro ou cinco presos com ele. Todos com os olhares de ódio e muito intimidadores. Esperou o guarda se aproximar para colocar as algemas e saiu da cela atravessando o corredor. Entrou em uma sala com uma mesa de madeira e duas cadeiras de metal. Olhou para quem havia o visitado. Era Romeu. Estava mais velho e tinha barba e bigode bem feitos. Ele o olhou e se sentou tirando seus olhares dele.

— O que você quer?

— Eu vim vê-lo. Já passou dez anos e sei que hoje é seu aniversário. Trouxe-lhe esses bolinhos de chuva. Júlio se formou em gastronomia. Abriu um restaurante até.

Ele o olhou.

— Devo agradecer?

— Eu não sei. Eu vim aqui para saber se depois de todos esses anos você continua sendo o mesmo.

— Acredite, ainda sou o mesmo. Mas alguma coisa pra falar? Eu posso ir agora?

— Calma. Eu tenho uma coisa pra você. — ele retirou um envelope do bolso e lhe entregou.

— Esses são seus netos. Adotamos essas crianças.

Ele olhou para o rosto delas. Um casal de crianças negras lindas.

— Esses não são meus netos! São filhos de alguém que os abandonou. Quando meu filho tiver uma mulher e puder ter um filho, você me venha falar sobre eu ter netos. — ele se levantou, jogando foto na mesa. — Agora é melhor você sair daqui. — ele se virou, mas parou quando Romeu o chamou.

— Eu estava certo. Você não estava querendo mudar. Nem depois de dez anos sua vida continua a mesma. Eu vou embora. Quer que eu diga algo ao seu filho?

Ele se virou.

— Diga ao Júlio para me esquecer. Para sempre. Que eu não quero mais ser o pai dele. Eu estou morto e ele também para mim. — ele saiu da sala. Deixando Romeu sozinho.

Romeu ficou parado observando a parede cinzenta. Engoliu em seco e saiu da sala. Um guarda o levou para fora. Saiu da prisão e atravessou a rua. Entrou no carro e ficou parado olhando para a rua.

— Como foi lá? Ele foi muito rude com você?

Ele me olhou lentamente.

— Ele disse pra vivermos nossas vidas e deixar que ele viva a dele. Para nos esquecermos dele. Para sempre.

Eu fiquei parado por alguns segundos.

— Acho que tem razão. Devo seguir a minha vida e apagar essas más lembranças.

— Também acho. Vamos embora, sim?

Eu sorri.

— Para onde vamos?

— Para além do horizonte se for preciso.

— Então que seja. — eu o olhe fixamente. — Eu ti amo, Romeu.

— E eu ti amo mais que tudo, Júlio. — ele pegou minha mão. — Juntos?

— Para sempre!

Romeu e JúlioOnde histórias criam vida. Descubra agora