Dez anos haviam se passado.
— Ande, logo, Roberto! Você tem visita.
Meu pai se levantou da cama da cela em que estava. Havia outros quatro ou cinco presos com ele. Todos com os olhares de ódio e muito intimidadores. Esperou o guarda se aproximar para colocar as algemas e saiu da cela atravessando o corredor. Entrou em uma sala com uma mesa de madeira e duas cadeiras de metal. Olhou para quem havia o visitado. Era Romeu. Estava mais velho e tinha barba e bigode bem feitos. Ele o olhou e se sentou tirando seus olhares dele.
— O que você quer?
— Eu vim vê-lo. Já passou dez anos e sei que hoje é seu aniversário. Trouxe-lhe esses bolinhos de chuva. Júlio se formou em gastronomia. Abriu um restaurante até.
Ele o olhou.
— Devo agradecer?
— Eu não sei. Eu vim aqui para saber se depois de todos esses anos você continua sendo o mesmo.
— Acredite, ainda sou o mesmo. Mas alguma coisa pra falar? Eu posso ir agora?
— Calma. Eu tenho uma coisa pra você. — ele retirou um envelope do bolso e lhe entregou.
— Esses são seus netos. Adotamos essas crianças.
Ele olhou para o rosto delas. Um casal de crianças negras lindas.
— Esses não são meus netos! São filhos de alguém que os abandonou. Quando meu filho tiver uma mulher e puder ter um filho, você me venha falar sobre eu ter netos. — ele se levantou, jogando foto na mesa. — Agora é melhor você sair daqui. — ele se virou, mas parou quando Romeu o chamou.
— Eu estava certo. Você não estava querendo mudar. Nem depois de dez anos sua vida continua a mesma. Eu vou embora. Quer que eu diga algo ao seu filho?
Ele se virou.
— Diga ao Júlio para me esquecer. Para sempre. Que eu não quero mais ser o pai dele. Eu estou morto e ele também para mim. — ele saiu da sala. Deixando Romeu sozinho.
Romeu ficou parado observando a parede cinzenta. Engoliu em seco e saiu da sala. Um guarda o levou para fora. Saiu da prisão e atravessou a rua. Entrou no carro e ficou parado olhando para a rua.
— Como foi lá? Ele foi muito rude com você?
Ele me olhou lentamente.
— Ele disse pra vivermos nossas vidas e deixar que ele viva a dele. Para nos esquecermos dele. Para sempre.
Eu fiquei parado por alguns segundos.
— Acho que tem razão. Devo seguir a minha vida e apagar essas más lembranças.
— Também acho. Vamos embora, sim?
Eu sorri.
— Para onde vamos?
— Para além do horizonte se for preciso.
— Então que seja. — eu o olhe fixamente. — Eu ti amo, Romeu.
— E eu ti amo mais que tudo, Júlio. — ele pegou minha mão. — Juntos?
— Para sempre!
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Romeu e Júlio
RomanceJulio é um jovem de 17 anos que depois de uma discussão com seus pais se mudou de São Paulo para o Rio de Janeiro. Nunca foi fácil fazer amizades, ainda mais se sentindo sozinho e com o medo das outras pessoas saberem sobre seu verdadeiro eu. Na nov...