VINTE E DOIS

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Dia 31 de agosto de 2016.

Na quarta-feira, depois que voltei da escola, eu estava querendo muito falar com minha mãe sobre o que aconteceu comigo e Romeu no passeio e na segunda-feira. Ontem, terça, eu não o encontrei na escola. Ele deveria ter faltado como sempre. Diziam que ele odiava estudar, né.

Eu caminhava pelas ruas desertas até chegar a minha casa. Eu sabia que iria contar para minha mãe o que havia ocorrido. Não sabia as palavras e tudo mais, mas eu queria saber como começar e saber se realmente iria falar do beijo. Eu estava nervoso demais para contar a ela. Escolhe hoje, um dia depois que o beijei para falar. Bianca era minha amiga fiel, mas minha mãe era algo mais importante. Eu não sabia se tinha coragem ou se poderia ter alguma, mas pelo menos tinha que falar do trabalho que iríamos fazer juntos. Minha mãe não foi trabalhar hoje, e eu sabia que tinha que aproveitar essa chance, só não sabia se iria sobreviver depois de contar.

— Olá mãe.

Entrei em casa e fechei a porta lentamente. Ela estava na sala falando ao telefone e dava risadas altas. Sentei-me a alguns centímetros do sofá perto dela, me olhou e sorriu fortemente. Piscou o olho que parecia ser um "bom dia", e um "olá filhão, como foi seu dia?". Assim que desligou o telefone, eu a perguntei:

— Quem era?

Ela me olhou fixamente.

— Era o Roger. Aquele homem que vimos no festival. Foi meu primeiro namorado. — sorriu e deu risadas baixas. — Quer me levar para sair. Acredita?

Sorri forçado. Mostrando espontaneidade.

— Que bom, mãe. Vai aceitar?

Ela me olhou confusa.

— Eu não sei. Talvez sim, talvez não, sei lá. — sorriu. — Estou afim, mas... Eu não sei ainda. Nós terminamos por causa dos pais dele que não gostavam de mim e... — ela ficou em silencio por alguns segundos. — Mas, e então? Mudando de assunto, como foi seu dia?

Agora! Agora!

— Foi bem. — sorri. — Eu tenho uma coisa pra ti contar.

Ela se virou para me olhar fixamente.

— Antes que a senhora arranque minha cabeça com uma vassoura... — ela me olhou franzindo o cenho e com dúvidas na cabeça. — Eu queria dizer que esse trabalho da escola é muito importante para mim e vale muito. Muito mesmo.

Ela coçou a cabeça.

— Você machucou alguém? — foi direta, ainda me olhando.

— Não! — levantei a voz, indignado. Quem eu iria machucar?

— Quebrou alguma coisa?

Revirei os olhos, de frustração.

— É claro que não.

— Está devendo algo a alguém?

Outro beijo em Romeu, talvez.

— Não, mãe.

— Então me explique direitinho, Júlio. O que está acontecendo?

Engoli em seco.

Agora! Agora!

— Tá bom. — respirei fundo. — O meu professor de filosofia passou um trabalho para a turma em dubla. E eu pensei que iria ficar com Bianca, como sempre quando éramos menores, mas não. O professor colocou meninos com meninos e meninas com meninas.

Romeu e JúlioOnde histórias criam vida. Descubra agora